Enviada especial da ONU alerta sobre risco de “guerra real” em Mianmar BR

Christine Schraner Burgener afirma que golpe militar no país do sudeste da Ásia ameaça estabilidade em toda a região; comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, quer fim imediato de repressão violenta a manifestantes; dezenas já foram mortos em protestos de rua.
A enviada especial da ONU a Mianmar, Christine Schraner Burgener, alertou na quarta-feira que a situação no país ameaça “a estabilidade da região” e pode levar a uma “guerra real”.
Falando a jornalistas em Nova Iorque, ela citou as 38 mortes, em 3 de março, considerado o dia mais sangrento desde o novo golpe militar em 1º de fevereiro.
Schraner Burgener disse a representantes do Exército birmanês que os Estados-membros da ONU e o Conselho de Segurança poderiam tomar "medidas fortes". Nesta quinta-feira, os países do órgão se reúnem para debater o tema.
A enviada da ONU informou que a resposta dos militares a ela foi de que estão "acostumados” e sabem sobreviver a sanções. Além disso, eles não demonstraram preocupação com a possibilidade de isolamento internacional.
Mianmar, a antiga Birmânia, já passou por vários golpes de Estado. Após a vitória do partido de oposição, Liga Nacional pela Democracia, NLD, nas eleições de 1989, o Exército prendeu a líder do partido e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, que voltou à prisão no último golpe do mês passado.
Os militares dizem que as últimas eleições legislativas, de 2020, que deram vitória ao partido de Suu Kyi foram alvo de fraude, mas a Comissão Eleitoral do país discorda e diz que o pleito foi limpo e justo.
A enviada da ONU contou que segue em contato com parlamentares eleitos e outras partes em Mianmar. Para ela, a participação da comunidade internacional é fundamental nessa hora.
Nesta quinta-feira, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que as forças de segurança em Mianmar devem “parar a violenta repressão aos manifestantes pacíficos.”
Bachelet está “chocada com os ataques documentados contra equipes médicas de emergência e ambulâncias que socorrer os feridos.”
O Escritório de Direitos Humanos da ONU confirmou a informação de que pelo menos 54 pessoas foram mortas por policiais e militares desde 1º de fevereiro.
O número real de mortos, no entanto, pode ser muito maior.
Desde 1 de fevereiro, mais de 1,7 mil pessoas foram arbitrariamente presas em protestos ou atividades políticas, incluindo deputados, ativistas, funcionários eleitorais, escritores, jornalistas e defensores dos direitos humanos.
O número de prisões e detenções arbitrárias subiu nos últimos dias. Somente na quarta-feira, foram 700 pessoas.
Bachelet também expressou preocupação com a perseguição de jornalistas. Pelo menos 29 profissionais de comunicação foram presos e pelo menos oito indiciados por crimes como incitamento à oposição, ódio ao governo ou participação em evento ilegal.
A chefe de direitos humanos pediu a todos “com informação e influência” que apoiem os esforços internacionais para responsabilizar os líderes militares pelas graves violações dos direitos humanos cometidas.
Segundo ela, “este é o momento de virar a mesa por justiça e acabar com o domínio militar sobre a democracia em Mianmar.”
Com a escalada da crise, o número de crianças mortas, feridas ou detidas arbitrariamente pelas forças de segurança também subiu.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, informa que em 3 de março, pelo menos cinco crianças e vários jovens e adultos foram mortos. Quatro crianças ficaram gravemente feridas.
Muitas crianças estão sendo expostas a gás lacrimogêneo e granadas de choque, algumas estão vendo pais e parentes serem vítimas de violência.
Muitos dos presos ou detidos estão incomunicáveis, sem acesso a um advogado, o que caracteriza uma violação de seus direitos humanos.