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Ecossistemas marinhos do Patrimônio Mundial Marinho abrangem uma área de 207 milhões de hectares

Patrimônio Mundial Marinho da Unesco tem um quinto do ecossistema de carbono azul  BR

Pnud Cuba/Manglar Vivo Project
Ecossistemas marinhos do Patrimônio Mundial Marinho abrangem uma área de 207 milhões de hectares

Patrimônio Mundial Marinho da Unesco tem um quinto do ecossistema de carbono azul 

Clima e Meio Ambiente

Grupo de 50 áreas protegidas inclui Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas, no Brasil; nova análise da agência ressalta capacidade de retenção de gases de efeito estufa, evitando emissões de bilhões de toneladas na atmosfera.

Pelo menos 21% do ecossistema do carbono capturado nas costas e nos oceanos do mundo pertencem às áreas do Patrimônio Mundial Marinho da Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, Unesco.  

Com uma zona total inferior a 1% dos oceanos do planeta, esses locais conservam 15% dos ativos de carbono azul do mundo. Os dados são da primeira avaliação científica global desses habitats conhecidos pelo seu destacado valor ambiental. 

Fernando de Noronha 

No Brasil, as Ilhas Atlânticas contam com as Reservas de Fernando de Noronha, no Oceano Atlântico, e Atol das Rocas no grupo das 50 áreas marinhas protegidas*. É o único país de língua portuguesa nesta relação de habitats considerados emblemáticos. 

Proteção e restauração de ecossistemas oferece uma oportunidade para mitigar as mudanças climáticas
Banco Mundial/Nonie Reyes
Proteção e restauração de ecossistemas oferece uma oportunidade para mitigar as mudanças climáticas

 

Em 2018, as reservas de carbono do Patrimônio Mundial Marinho retinham 10% das emissões globais anuais de gases de efeito estufa, evitando emissões de bilhões de toneladas na atmosfera.  

Nesta terça-feira, um evento da Unesco apresentará os detalhes da análise que marca o início da Década das Nações Unidas de Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável com formas para preservar esses locais. 

O relatório Patrimônio Marinho Mundial da Unesco – Depositário dos Ativos de Carbono do Globo tem como autor principal o professor Carlos Duarte, da Universidade Rei Abdullah de Ciência e Tecnologia na Arábia Saudita. 

Reservas  

O especialista chamou a atenção para os riscos enfrentados por esses locais, explicando que “por armazenarem tanto carbono, os ecossistemas de carbono azul tornam-se fontes de emissão de CO2 quando degradados ou destruídos”. 

Duarte realçou ainda que a proteção e restauração desses ecossistemas oferece uma oportunidade única para mitigar as mudanças climáticas.  

Com a preservação dos ecossistemas de carbono azul, os grandes estoques de CO2 acumulados durante milênios podem ser protegidos porque “à medida que são restaurados, eles podem recuperar sua função como sumidouros de carbono.” 

Trabalho fornecido por pesquisadores e voluntários será a base da nova colaboração 
Foto ONU Meio Ambiente
Trabalho fornecido por pesquisadores e voluntários será a base da nova colaboração 

O professor será um dos principais oradores da apresentação do estudo, juntamente com a especialista Fanny Douvere do Programa do Patrimônio Mundial Marinho da Unesco. 

Atmosfera  

Entre os desafios a estes ecossistemas marinhos estão a poluição, com problemas que vão desde o aumento do lixo plástico até às mudanças climáticas.  

A pesquisa da Unesco quantifica o valor do carbono e recomenda como manter a conservação dos sítios para orientar países, regiões e comunidades locais que procurem conservar suas áreas e definir estratégias de carbono azul. 

De acordo com cientistas, prados de ervas marinhas, pântanos e manguezais, conhecidos como ecossistemas de “carbono azul”, estão entre os “sumidouros de carbono” mais intensos.  

Nesse ambiente natural ocorre a captura do dióxido de carbono na biosfera, ajudando a mitigar as mudanças climáticas com a captura e reserva de quantidades significativas de CO2, tanto na atmosfera como no oceano. 

Estratégias 

O estudo aponta que o financiamento da conservação para ecossistemas de carbono azul em locais marinhos do Patrimônio Mundial poderia ser impulsionado por meio de estratégias de carbono azul. 

Créditos de carbono apoiariam cumprimento de compromissos nacionais do Acordo de de Paris sobre a mudança climática
NASA
Créditos de carbono apoiariam cumprimento de compromissos nacionais do Acordo de de Paris sobre a mudança climática

 

Com esses planos, a Unesco defende que os países ganhariam créditos de carbono por demonstrarem benefícios de restauração e conservação de ecossistemas danificados.  

A agência acredita que essa decisão ajudaria a restaurar serviços vitais e, de uma maneira crucial, apoiaria o cumprimento de compromissos nacionais do Acordo de de Paris sobre a mudança climática. 

Marinha protegida 

Somente um número limitado de países adotou estratégias de carbono azul em suas políticas de mitigação das mudanças climáticas. 

Estima-se que em nível global, os ecossistemas marinhos do Patrimônio Mundial Marinho abrangem uma área de 207 milhões de hectares. Essa dimensão corresponde a 10% de toda a área marinha protegida em 2020. 

* As áreas Patrimônio Mundial Marinho incluem os manguezais de Sundarbans, na Índia e Bangladesh; A lista integra o Parque Nacional Everglades, Estados Unidos, a Baía dos Tubarões na Austrália, a Grande Barreira de Corais cobrindo a Dinamarca, Alemanha, Holanda. Do grupo também fazem parte os prados de ervas marinhas de Ibiza, em Espanha. 

Segundo o levantamento, cerca de dois terços das emissões do sistema global de alimentos vêm do setor agrícola
Foto ONU/Kibae Park
Segundo o levantamento, cerca de dois terços das emissões do sistema global de alimentos vêm do setor agrícola