Na ONU, embaixador de Mianmar diz que país sofreu mesmo um golpe de Estado
Kyaw Moe Tun afirmou que está representando agora os parlamentares eleitos democraticamente no país do sudeste asiático e que não responde pela liderança militar; diplomata se emocionou durante discurso no hall da Assembleia Geral.
A intervenção militar ocorrida em Mianmar, a antiga Birmânia, no início deste mês, foi mesmo um golpe de Estado. A declaração é do embaixador birmanês junto à ONU, Kyaw Moe Tun. A situação no país foi discutida num encontro da Assembleia Geral nesta sexta-feira.
Atos brutais
Com voz embargada, o embaixador disse que não representava a liderança militar, mas sim a Liga Nacional pela Democracia e os parlamentares democraticamente eleitos do país. O partido Liga Nacional ou LND, na sigla em inglês, é comandado pela vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, que foi presa durante o golpe, assim como os líderes da sigla.
O diplomata apelou a todos os membros da ONU a condenar a mudança e tomar “todas as medidas possíveis para acabar com os atos brutais e violentos praticados por forças de segurança contra manifestantes pacíficos”. Ele pediu ainda que os países possam ajudar a acabar com o golpe militar imediatamente.
No final, ele fez um gesto adotado pelos manifestantes em Mianmar desde os incidentes no início deste mês.
Sinal claro
A sessão na Assembleia Geral sobre a crise contou com uma apresentação da enviada especial ao país, Christine Schraner Burgener.
Ela pediu aos representantes que enviem um sinal claro à junta militar birmanesa contra a intervenção.
Schraner Buergener contou que o Exército no país asiático é quem detém o poder de fato, e que numa democracia de verdade, os militares são controlados pelos civis.
A enviada afirmou que o estado de emergência, declarado pelos militares, representa uma violação clara da constituição.
Em novembro, a Liga Nacional pela Democracia venceu as eleições com 82% dos votos. O partido já havia sido eleito em 2015, mas dessa vez, recebeu ainda mais votos.
Assassinatos políticos
No passado, a junta militar já havia impedido o NLD de assumir o poder. Por isso, Aung San Suu Kyi foi detida pelos militares de 1989 a 2010, grande parte deste período em prisão domiciliar.
Após o golpe, centenas de pessoas foram detidas sem serem indiciadas ou julgadas. Muitas famílias continuam procurando pelos parentes desaparecidos.
A enviada especial afirmou que forças de segurança estão intimidando e assediando manifestantes com atos deliberados para criar instabilidade e insegurança.
Jornalistas e internet
Segundo ela, a libertação de 23 mil prisioneiros associados a assassinatos políticos é uma decisão “lamentável”. Jornalistas e ativistas estão sendo atacados deliberadamente e serviços de internet interrompidos. Muitas testemunhas estão sendo forçadas a depor contra o governo do partido NLD.
Schraner Burgener pediu diálogo e apelou aos Estados-membros da ONU com influência na região que ajudem numa resposta coletiva para evitar uma escalada da brutalidade contra pessoas que somente estão exercendo o direito básico em seu país.