Alta tecnologia, que vale US$ 350 bilhões, cria oportunidades no pós-pandemia
Agência da ONU, Unctad, fala de recuperação inclusiva com nova onda tecnológica; Estados Unidos lideram índice das nações mais bem preparadas; Portugal, Brasil e Cabo Verde estão na frente dos países de língua portuguesa avaliados em ranking de 158 posições.
O Relatório de Tecnologia e Inovação 2021 chama a atenção para a nova onda de tecnologias de ponta que aproveitam as vantagens da digitalização e conectividade.
Os destaques vão para a inteligência artificial, a chamada internet das coisas, grandes bancos de dados, blockchain, 5G, impressão 3D, robótica, drones, edição de genes, nanotecnologia e tecnologia fotovoltaica.
Oportunidades
O estudo revela que a chamada alta tecnologia está em rápido desenvolvimento representando um mercado de US$ 350 bilhões. Em 2025, esta quantia poderá crescer para mais de US$ 3,2 trilhões, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.
A agência da ONU realça que a recuperação pós-Covid-19 oferece uma oportunidade aos governos e à comunidade internacional para uso de tecnologias novas e de ponta para combater as desigualdades geradas pela pandemia.
Os Estados Unidos, a Suíça e o Reino Unido estão entre as nações mais bem preparadas para as tecnologias de ponta.
O índice que avaliou a prontidão em 158 países coloca Portugal no lugar 32, o mais bem posicionado do ranking entre as nações de língua portuguesa. A seguir estão Brasil em 41º, Cabo Verde na posição 101 e São Tomé e Príncipe em 140º. Mais abaixo, aparecem Timor-Leste no 144º e Moçambique no lugar 149.
Nordeste brasileiro
O estudo menciona ainda casos como o do Brasil, pela atuação para conectar startups com empresas já estabelecidas. Um programa nacional promove a aceleração destes pequenos negócios que utilizam novas tecnologias.
Outro exemplo brasileiro é o do incentivo do uso de tecnologias de código aberto, com a partilha de informações gratuitas e métodos sustentáveis. O Projeto Um Milhão de Cisternas beneficiou áreas semiáridas do nordeste com esses depósitos, promovendo o aprendizado e fortalecimento baseado na comunidade.
O Relatório de Tecnologia e Inovação 2021 alerta, no entanto, sobre “graves implicações para as comunidades e países pobres, suprimidos, ou simplesmente deixados para trás por essa onda tecnológica”.
É que os países mais bem preparados para usar, adotar e adaptar essas tecnologias de maneira equitativa estão principalmente na América do Norte e na Europa. Do lado oposto estão nações da África Subsaariana e em outras regiões em desenvolvimento.
China e Índia
O documento também enfatiza o papel de governos como essencial na preparação do caminho para acesso a estas tecnologias, especialmente criando um ambiente propício e garantindo que os benefícios sejam compartilhados por todos.
A China e a Índia tiveram um bom desempenho em áreas como pesquisa e desenvolvimento como reflexo da “oferta abundante de recursos humanos qualificados e altamente qualificados”.
Os dois países contam com grandes mercados locais, que atraem investimentos de multinacionais. No caso da China, o progresso é em parte atribuído ao gasto de 2% do Produto Interno Bruto, PIB, na pesquisa e desenvolvimento.
Para a vice-secretária-geral da Unctad, Isabelle Durant, as sociedades e os setores produtivos precisam estar bem preparados e desenvolver as competências necessárias para fazer avançar as tecnologias de ponta.
Adaptação
A representante adverte que embora tenha havido enormes benefícios com o uso delas, os avanços rápidos podem ter graves riscos se ultrapassarem a capacidade de adaptação das sociedades.
O relatório alertou ainda que as novas tecnologiaslevaram, ao mesmo tempo, a novas formas de desigualdade. Atualmente, há maiores preocupações com riscos da automação substituir postos de trabalho em larga escala.
Outros fatores de apreensão são a chamada gig economy, marcada por formas de emprego alternativo, e a redução dos direitos trabalhistas, as desigualdades criadas pela concentração de mercado e lucro, o aumento da desigualdade impulsionada pela inteligência artificial e o aumento das lacunas tecnológicas.