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Na ONU, Estados Unidos marcam regresso oficial ao Acordo de Paris  BR

Temperaturas extremas no estado do Texas, nos Estados Unidos, causaram falhas de energia
Unsplash/Matthew T. Rader
Temperaturas extremas no estado do Texas, nos Estados Unidos, causaram falhas de energia

Na ONU, Estados Unidos marcam regresso oficial ao Acordo de Paris 

Clima e Meio Ambiente

Enviado presidencial especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, participou na sessão; secretário-geral disse que “elo perdido enfraquecia o todo” durante ausência norte-americana do tratado; Guterres destaca recuperação da pandemia como oportunidade para retoma mais robusta da ação climática. 

Os Estados Unidos marcaram seu retorno oficial ao Acordo de Paris em cerimônia realizada esta sexta-feira na ONU. A decisão foi tomada após a posse do presidente Joe Biden, em 20 de janeiro, em ordem executiva iniciando o processo de 30 dias. 

Com a saída norte-americana do tratado, formalizada no ano passado, o país foi o primeiro e único a desistir do acordo global adotado em 2015.

Esperança

Para o secretário-geral das Nações Unidas, o regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris marca “um dia de esperança”.  Falando na sessão, António Guterres considerou que o ato é “uma boa notícia” para o país e para o mundo.

No evento virtual participou o enviado presidencial especial dos EUA para o Clima, John Kerry. O chefe da ONU destacou que a ação dele “se reflete no acordo histórico” e recordou que em 2016 o representante assinou o tratado com sua neta.

Enviado presidencial especial dos EUA para o Clima, John Kerry, em 2016, assinando o tratado com sua neta
Foto ONU/Amanda Voisard
Enviado presidencial especial dos EUA para o Clima, John Kerry, em 2016, assinando o tratado com sua neta

Kerry frisou que os Estados Unidos estão se juntando ao Acordo Climático de Paris “com humildade e com ambição”. Ele destacou que todas as nações devem elevar a visão comum, aumentar a ambição, juntas, ou todos fracassarão juntos.

Para o enviado especial, limitar um aumento na temperatura média global a não mais do que 1,5 graus Celsius é crítico e “qualquer coisa além disso terá implicações catastróficas ao redor do globo”.

O secretário-geral ressaltou que o pacto envolve descendentes da geração atual e toda a família humana.  Ele recomendou que haja mais rapidez e ambição para lidar com a crise que chamou a “corrida de nossas vidas”.

Guterres disse que ainda está ao alcance do mundo construir um futuro de energia renovável e infraestrutura ecológica que proteja às pessoas e ao planeta, além de garantir prosperidade para todos.

Elo perdido

Para o chefe da ONU, a ausência de “um ator-chave criou uma lacuna no Acordo de Paris” nos últimos quatro anos, no que foi “um elo perdido que enfraquecia o todo”. 

António Guterres realçou que a reentrada norte-americana, na íntegra, está de acordo com os criadores do pacto. Mas apontou que os compromissos assumidos até agora não são suficientes e nem têm sido cumpridos.

Mandato atual do ex-primeiro-ministro português termina em 31 de dezembro quando completará cinco anos no cargo
Foto: ONU/Mark Garten
Mandato atual do ex-primeiro-ministro português termina em 31 de dezembro quando completará cinco anos no cargo

O secretário-geral citou sinais de alerta observados desde 2015. No período, o mundo viveu os seis anos mais quentes já registrados. Houve ainda níveis recordes de dióxido de carbono, a piora de incêndios, inundações e eventos climáticos extremos em todas as regiões. 

Para o secretário-geral, se não houver uma mudança o mundo poderá enfrentar um aumento catastrófico de temperatura de mais de 3 graus neste século. Guterres apontou que 2021 será um ano crucial para lidar com esse aspeto. 

Futuro

O discurso destacou ainda a Cúpula do Clima da ONU, COP26, em Glasgow, como decisiva. A expectativa é que os governos apresentem decisões que determinarão o futuro das pessoas e do planeta nesta conferência. 

Guterres apontou o papel determinante dos Estados Unidos, juntamente com todos os membros do G20, para a realização de três objetivos principais definidos pela comunidade internacional. 

Como a grande prioridade, o secretário-geral apontou a visão de longo prazo para se “criar um ambiente verdadeiramente global”, com uma coalizão em favor de emissões líquidas zero até 2050. Sobre o tema, a expectativa da ONU é que o governo norte-americano se associe ao grupo.

Em segundo lugar, o líder da ONU disse que na próxima década espera que todos os governos apresentem planos nacionais concretos mais ambiciosos e credíveis para o período. 

Imagem de satélite mostrando falhas de energia em Houston, no Texas, devido a baixas temperaturas
NASA
Imagem de satélite mostrando falhas de energia em Houston, no Texas, devido a baixas temperaturas

Pós-pandemia

Por fim, o representante lembrou a urgência dessas ações. O momento de recuperação da pandemia é para ele “uma oportunidade para recuperar de forma mais robusta e melhor”. 

Entre as metas citadas no discurso estão a eliminação progressiva do carvão, o apoio de uma transição justa, com treinamento e oportunidades para pessoas cujos empregos serão impactados pela medida. 

Guterres apontou ainda o fim de investimento em projetos de combustíveis fósseis pelo seu impacto negativo na saúde das pessoas, na destruição da biodiversidade e contribuição para a crise climática. Outra meta é a promoção de impostos sobre emissões de carbono.

Ação global

Antes do evento na ONU, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, realçou que o Acordo de Paris é uma “estrutura sem precedentes para uma ação global”. Ele lembrou que seu país ajudou a conceber o tratado e a torná-lo uma realidade.

O chefe da diplomacia norte-americana declarou que tal como na adesão do país ao acordo em 2016, agora, no seu retorno, “o mais importante ainda serão as ações para as próximas semanas, meses e anos”.