Guterres diz que 2021 deve ser ano em que o mundo volta ao caminho certo
Em discurso na Conferência de Segurança de Munique, secretário-geral pediu que países do G20 criem plano global de vacinação; chefe da ONU também apelou a que, até novembro, países responsáveis por 90% das emissões se comprometam com neutralidade até 2050.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou esta sexta-feira que os “testes e desafios globais estão ficando maiores e mais complexos.”
O chefe da organização participou na Conferência de Segurança de Munique, que acontece de forma virtual. Participaram no evento líderes mundiais como a chanceler da Alemanha e os presidentes da França, dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Desafios
Apesar do aumento dos desafios, António Guterres disse que as respostas da comunidade internacional “continuam fragmentadas e insuficientes.”
O chefe da ONU declarou que a Covid-19 expôs fissuras e fragilidades profundas, que vão muito além de pandemias e saúde pública.

Segundo ele, a catástrofe climática está se aproximando, a desigualdade e a discriminação estão rasgando o tecido social, a corrupção está destruindo a confiança e a luta pelos direitos das mulheres enfrenta um retrocesso.
Além disso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não estão sendo alcançados, o comportamento no ciberespaço criou novos vetores de instabilidade e até o regime de desarmamento nuclear está se desgastando.
Para António Guterres, “2021 deve ser o ano para voltar ao caminho certo”. Segundo ele, a recuperação da pandemia é a chance.
Prioridades
O secretário-geral destacou quatro prioridades para a comunidade internacional.
Primeiro, um Plano Global de Vacinação. Guterres disse que o grupo das maiores economias do mundo, G20, está bem posicionado para estabelecer uma Força-Tarefa de Emergência para preparar esse plano. Todo o Sistema das Nações Unidas está disponível para apoiar esse esforço.

Em segundo lugar, neutralidade de gases de efeito estufa até meados do século.
Nesse momento, países que representam mais de 65% das emissões e mais de 70% da economia mundial já assumiram esse compromisso. Agora, Guterres lançou o desafio de se expandir essa aliança para 90% até à Conferência do Clima da ONU, que acontece em novembro em Glasgow.
Para ele, isso deve começar agora com etapas concretas, como colocar um preço no carbono e acabar com os subsídios a combustíveis fósseis e reinvestir esses fundos em energia renovável e em uma transição justa.
Tensões
Em terceiro lugar, Guterres disse que é preciso aliviar as tensões geopolíticas. Segundo ele, não é possível resolver os maiores problemas quando as maiores potências estão em conflito.
O secretário-geral afirmou que o mundo “não pode permitir um futuro em que as duas maiores economias dividam o globo em duas áreas opostas em uma Grande Fratura.” Segundo ele, nessa situação, cada área teria sua própria moeda dominante, regras comerciais e financeiras, internet e capacidade de inteligência artificial.
A esse respeito, Guterres também repetiu o apelo por um cessar-fogo global. Ele disse que existem “sinais encorajadores em alguns processos de paz teimosos”, mas que a luta continua em outros lugares.

Governança
Por fim, em quarto lugar, o chefe da ONU disse que é hora de redefinir a governança global para o século 21.
Guterres lembrou que “os acordos de segurança coletiva adotados há mais de 75 anos evitaram uma terceira guerra mundial”, mas que agora é preciso que esses princípios comuns resistam no século 21.
Para ele, “isso significa assegurar novas maneiras de fornecer bens públicos globais, para construir uma globalização justa e resolver desafios comuns.”
O secretário-geral afirmou, no entanto, que não são precisas novas burocracias.
Segundo ele, a resposta é “um multilateralismo em rede que conecta organizações globais e regionais, entidades econômicas e políticas, envolvendo empresas, cidades, universidades e movimentos pela igualdade de gênero, ação climática e justiça racial.”