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Leste da RD Congo na iminência de uma tragédia humanitária com reaparecimento do ebola BR

Mulher em campo de deslocados em Kalemi. Cerca de 19,6 milhões de pessoas vão precisar de assistência e proteção em 2021
Ocha/Alioune Ndiaye
Mulher em campo de deslocados em Kalemi. Cerca de 19,6 milhões de pessoas vão precisar de assistência e proteção em 2021

Leste da RD Congo na iminência de uma tragédia humanitária com reaparecimento do ebola

Saúde

ONU indica que cerca de 20 milhões de pessoas vão precisar de assistência humanitária em 2021; no ano passado, assistência dos parceiros e doadores beneficiou 6 milhões de pessoas; falta de acesso aos serviços básicos é agravado pelos desafios da violência, epidemias, desastres naturais e impacto da Covid-19.

A Coordenação Humanitária das Nações Unidas na República Democrática do Congo, RD Congo, alerta sobre uma possível deterioração da situação humanitária no país se a assistência não for fornecida a tempo para atender às necessidades básicas dos mais vulneráveis.

O apelo surge num momento em que o Ministério da Saúde anuncia que um novo caso de ebola foi detectado na localidade de Butembo, província do Kivu Norte.  A cidade foi um dos epicentros da doença e onde a declaração do fim do surto anterior ocorreu no ano passado.

Surto

O Instituto Nacional da Pesquisa Biomédica confirmou o caso através da observação da amostra de uma mulher, esposa de um sobrevivente do ebola. A paciente, que já faleceu, procurou tratamento no centro de saúde de Butembo após apresentar sintomas.

Filho visita mãe em centro de tratamento para ebola
Unicef/Thomas Nybo
Filho visita mãe em centro de tratamento para ebola

A Organização Mundial da Saúde, OMS, apoia os esforços de resposta ao surto através de treinamento dos técnicos de laboratório, rastreadores de contato e equipas de vacinação local. Os trabalhos, que incluem a conscientização de grupos comunitários e a implementação do Programa Sobrevivente do Ebola, são liderados pelas autoridades de saúde provincial.

Resposta

Segundo a diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, a perícia e a capacidade das unidades de saúde locais foram determinantes para detectar o novo caso e responder a tempo. 

Moeti disse que “a agência fornece apoio as autoridades para rastrear, identificar e tratar os contatos” e que “não é incomum que casos esporádicos ocorram na sequência de surtos maiores”. 

Especialistas da OMS monitoram os casos na região, mais de 70 contatos já foram identificados e a desinfecção dos lugares visitados pela paciente está em curso. Amostras foram enviadas ao laboratório principal do Instituto em Kinshasa para sequenciar o genoma, identificar a cepa e determinar sua ligação com o surto anterior.

O décimo surto da febre hemorrágica no país durou cerca de dois anos, foi o segundo maior no mundo e resultou em 3481 casos, 2299 mortos e 1162 sobreviventes. A resposta foi particularmente desafiadora devido à insegurança nas regiões afetadas. 

RD Congo também abriga 527 mil refugiados de países vizinhos, como esta mulher da República Centro-Africana
Acnur/Fabien Faivre
RD Congo também abriga 527 mil refugiados de países vizinhos, como esta mulher da República Centro-Africana

Vulnerabilidades

Em nota, coordenador humanitário da ONU na RD Congo considera complexa e profunda a crise humanitária, estimando que 19,6 milhões de pessoas vão precisar de assistência e proteção em 2021. No início do ano passado, eram 15.6 milhões. 

Mais de 3.4 milhões de crianças menores de cinco anos vão sofrer subnutrição aguda entre janeiro e junho deste ano.

Para o coordenador, David MacLachlan-Karr, “os conflitos armados continuam a ter impacto sobre a população já muito vulnerável e cujos ganhos são frágeis.”

Ele disse ser preciso “a contribuição generosa dos doadores para financiar o Plano de Resposta Humanitária, salvar vidas, levar os serviços básicos aos necessitados e reforçar a proteção de milhões de pessoas afetadas pela crise.”   

A RD Congo é o segundo país com maior número de deslocados no mundo, cerca de 5,2 milhões. Também abriga 527 mil refugiados de países vizinhos. 

 

*De Bissau para a ONU News, Amatijane Candé.