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Número de vítimas de tráfico num ano ultrapassou 50 mil no mundo BR

Pandemia de Covid-19 coloca vulneráveis em maior risco de se tornarem vítimas de tráfico humano.
© Unicef/Noorani
Pandemia de Covid-19 coloca vulneráveis em maior risco de se tornarem vítimas de tráfico humano.

Número de vítimas de tráfico num ano ultrapassou 50 mil no mundo

Legislação e prevenção de crimes

ONU estima que número real de vítimas seja muito maior; análise aponta migrantes e pessoas sem emprego como os mais vulneráveis; Covid-19 ameaça piorar tendência geral de aumento no tipo de crime em nível global. 

As Nações Unidas revelaram esta terça-feira que aumentou a proporção de crianças traficadas no mundo. O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, lançado em Viena, aponta que cerca de 50 mil vítimas foram detectadas e denunciadas em 148 países em 2018. 

O Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc, destaca que o número real de vítimas traficadas pode ser muito maior pela natureza oculta desse crime.  

Vítimas do sexo feminino continuam sendo os alvos principais
Foto: Unicef/UN045727/Pirozzi
Vítimas do sexo feminino continuam sendo os alvos principais

Migrantes 

Os alvos preferenciais dos traficantes são os mais vulneráveis, como migrantes e pessoas sem emprego. O número de crianças vítimas de tráfico triplicou nos últimos 15 anos. A proporção de meninos aumentou cinco vezes. Este grupo é o mais usado para trabalhos forçados. As meninas são mais traficadas para exploração sexual. 

O estudo alerta que a Covid-19 agravou a tendência geral de piora no tráfico de pessoas. O receio é que a recessão causada pela pandemia exponha ainda mais pessoas ao risco de tráfico. 

A publicação alerta para milhões de mulheres, crianças e homens em todo o mundo que estão sem trabalho, fora da escola e sem apoio social. A previsão é que venha a piorar o risco de tráfico. 

Criminosos 

Para a diretora executiva do Unodc, Ghada Waly, é preciso direcionar a ação para impedir que os criminosos tirem proveito da pandemia para explorar os mais vulneráveis. 

As vítimas do sexo feminino continuam sendo os alvos principais. Quase metade das vítimas identificadas em nível global eram mulheres adultas e 20% meninas. Outros cerca de 20% eram homens adultos e 15% meninos. 

Nos últimos 15 anos, o número de vítimas aumentou e alterou o perfil. A proporção de mulheres adultas caiu de mais de 70% para menos da metade. Em relação às crianças, a alta foi de cerca de 10% para mais de 30%.  

No mesmo período, a proporção de homens adultos quase dobrou de cerca de 10% para 20%. Em geral, metade das vítimas detectadas foi traficada para a exploração sexual, 38% para trabalhos forçados e 6% envolvidas em atividades criminosas forçadas.  

Uma ex-vítima de tráfico humano na Mauritânia
© Sibylle Desjardins / OIM
Uma ex-vítima de tráfico humano na Mauritânia

Casamentos 

Cerca de 1%  das vítimas no período analisado foram coagidas a mendigar e um número menor forçadas a casamentos forçados, remoção de órgãos e outros fins. 

Os perfis das vítimas variam de acordo com a forma de exploração. A maioria das mulheres e meninas sofreu exploração sexual, enquanto homens e meninos foram mais envolvidos no trabalho forçado. 

O número de pessoas afetadas vem aumentado continuamente por mais de uma década. Elas são colocadas em setores econômicos onde o trabalho se realiza de formas isoladas, incluindo agricultura, construção, pesca, mineração e trabalho doméstico. 

Em relação ao perfil dos traficantes, a maioria dos que foram levados aos tribunais e condenados pelo crime continua sendo do sexo masculino, com cerca de 64 e 62%, respectivamente.  

Direitos Humanos 

O Unodc realça que estes traficantes podem integrar grupos do crime organizado, que tem levado a maioria das vítimas para indivíduos que operam por conta própria ou em pequenos agrupamentos. 

Os traficantes veem suas vítimas como mercadorias, sem qualquer consideração pela dignidade e pelos direitos humanos. O valor da venda pode atingir dezenas de milhares de dólares. Grandes organizações criminosas têm rendimentos mais elevados. 

A publicidade envolve a tecnologia no modelo de negócios em todas as etapas do processo. Muitas crianças são abordadas por traficantes nas redes sociais, sendo um alvo fácil por estarem buscando aceitação, atenção ou amizade.  

O Unodc identificou duas estratégias: a “caça”, envolvendo um traficante que persegue ativamente uma vítima, normalmente nas redes sociais; e a “pesca”, onde se publicam anúncios de emprego e os traficantes esperam a resposta das potenciais vítimas.  

Internet 

A internet permite que os traficantes transmitam ao vivo a exploração de suas vítimas, o que permite a transmissão simultânea do abuso de uma vítima por vários consumidores em todo o mundo. 

Os dados recolhidos em 148 países identificam 534 tipos de tráfico diferentes, embora as vítimas sejam normalmente traficadas dentro de áreas geograficamente próximas. 

Num desses exemplos, meninas recrutadas em uma área urbana podem ser exploradas em motéis ou bares próximos. Globalmente, a maioria das vítimas é resgatada no próprio país de origem.  

Nas tendências regionais, a exploração sexual é a que mais domina. Este é o caso da Europa, Américas e Caribe.  Na América do Sul, mais de um terço das vítimas vai para o trabalho forçado, que domina o tráfico na Africa Subsaariana e na Ásia.