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Relator diz que União Europeia tem de se reinventar para vencer luta contra pobreza  BR

Na quinta-feira, Guterres fará um discurso no Parlamento Europeu
Parlamento Europeu
Na quinta-feira, Guterres fará um discurso no Parlamento Europeu

Relator diz que União Europeia tem de se reinventar para vencer luta contra pobreza 

Direitos humanos

Olivier De Schutter afirma que objetivo de eliminar pobreza até 2020 foi amplamente esquecido; segundo ele, a crise da Covid-19 afetou muitos europeus que nunca tinham vivido em situação de pobreza. 

O relator especial da ONU para a pobreza extrema*, Olivier De Schutter, disse que a União Europeia, UE, deve repensar sua governança socioeconômica para erradicar a pobreza.  

Olivier De Schutter terminou essa sexta-feira uma visita oficial às instituições da UE. Segundo o relator, a região fez “progressos recentes na erradicação da pobreza, mas não deve cair na complacência.” 

Objetivo esquecido 

Relator especial da ONU para a pobreza extrema, Olivier De Schutter
Relator especial da ONU para a pobreza extrema, Olivier De Schutter, by Foto ONU/Jean-Marc Ferre

Em comunicado, De Schutter afirmou que o compromisso de tirar 20 milhões de pessoas da pobreza até 2020 foi “amplamente esquecido.” 

Segundo o especialista, a UE teve um crescimento da economia e do emprego estável durante vários anos, por isso “a única explicação para este fracasso é que os benefícios não foram distribuídos uniformemente.”  Para De Schutter, “esta é uma derrota para os direitos sociais. " 

Em 2019, cerca de 21% da população corriam risco de pobreza ou exclusão social, um total de 92,4 milhões de pessoas. Além disso, 23% de crianças viviam na pobreza e 20,4 milhões de trabalhadores em risco de pobreza. 

As mulheres estão desproporcionalmente representadas entre os pobres. Cerca de 85% das famílias monoparentais são chefiadas por mulheres e 40% dessas famílias estão em risco de pobreza. 

Pandemia 

No último ano, a crise da Covid-19 afetou muitos europeus que nunca tinham vivido em situação de pobreza. O relator disse que conversou “com pessoas que passaram fome, pela primeira vez, que foram expostas porque não tinham onde morar e que são maltratadas e abusadas por causa da pobreza.” 

Segundo De Schutter, a UE pode fortalecer os esforços de combate à pobreza, principalmente através das suas recomendações anuais. 

Ele diz, no entanto, que “em vez de priorizar investimentos em saúde, educação e proteção social, essas recomendações frequentemente impõem cortes orçamentários em nome da eficiência de custos.” Para De Schutter, desde 2009, os Estados-membros diminuíram seus investimentos nessas áreas críticas.  

Acordo Verde Europeu 

No final de 2019, o Acordo Verde Europeu foi apresentado como a nova estratégia de crescimento. 

Moradores do assentamento de Cañada Real, em Madri, precisam urgentemente do governo
Em 2019, cerca de 21% da população corriam risco de pobreza ou exclusão social, Bassam Khawaja

Segundo o especialista da ONU, “a luta contra a pobreza é a peça que falta neste Acordo Verde.” O documento procura combinar objetivos ambientais e sociais, mas ele acredita que, enquanto não existirem ações concretas, “milhões continuarão a lutar por um padrão de vida decente em uma sociedade que os deixa para trás." 

O relator também criticou uma corrida entre os Estados-membros para “reduzir impostos, salários e proteção aos trabalhadores porque pensam que podem atrair investidores e melhorar a competitividade dos custos externos.” 

Segundo De Schutter, entre 160 bilhões e 190 bilhões de libras esterlinas são perdidos a cada ano devido a competição fiscal, resultando “na transferência da carga tributária de grandes corporações e indivíduos ricos para trabalhadores e consumidores." 

Encontros 

O relator encontrou-se com representantes de instituições como Comissão Europeia, Conselho da UE, Parlamento Europeu, Autoridade Europeia do Trabalho, entre outros, bem como representantes nacionais. 

Para De Schutter, “crise atual é a chance de a Europa se reinventar, colocando a justiça social em seu centro.” Segundo ele, a apresentação do Plano de Ação para implementar o Pilar Europeu dos Direitos Sociais esse ano, “é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.” 

O relatório final da visita do especialista será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em junho desse ano.  

 

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário por sua atuação.