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Investimento direto estrangeiro cai 42% em 2020 e perspectivas são fracas para este ano  BR

Grandes projetos de infraestrutura como esta barragem no Cazaquistão, geralmente exigem investimento estrangeiro
Banco Mundial/Shynar Jetpissova
Grandes projetos de infraestrutura como esta barragem no Cazaquistão, geralmente exigem investimento estrangeiro

Investimento direto estrangeiro cai 42% em 2020 e perspectivas são fracas para este ano 

Desenvolvimento econômico

Relatório da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, revela que declínio se concentrou nos países desenvolvidos, onde os fluxos diminuíram 69%; entre nações em desenvolvimento, queda foi maior na América Latina e no Caribe, cerca de 37%; perspectivas para 2021 continuam fracas.

O investimento estrangeiro direto, IED, caiu 42% passando de US$ 1,5 trilhão, no ano anterior, para um valor estimado de US$ 859 bilhões em 2020. 

A informação faz parte do último Monitor de Tendências de Investimento da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad

Total perdido equivale a entradas da ajuda financeira ao desenvolvimento e do investimento direto estrangeiro
Desde a década de 1990 que não se via níveis de IED tão baixos, ONU News/Daniel Dickinson

Incerteza 

Desde a década de 1990, não se via níveis de IED tão baixos. Esses valores são 30% menor que o registrado após a crise financeira global de 2008-2009. 

Para a Unctad, a incerteza sobre a pandemia e o ambiente político de investimento continuarão a afetar os fluxos este ano. O quadro preocupa os países em desenvolvimento. 

Em comunicado, o diretor da Divisão de Investimentos da Unctad, James Zhan, afirma que “os efeitos da pandemia sobre o investimento vão perdurar.” Segundo ele, “os investidores provavelmente permanecerão cautelosos destinando capital para novos ativos no exterior." 

Em relatório publicado no final do ano passado, a Unctad previu uma queda de 5% a 10% no IED para este ano.  

Países desenvolvidos 

De acordo com a pesquisa, o declínio se concentrou nos países desenvolvidos, onde os fluxos caíram 69% para cerca de US$ 229 bilhões. 

Já o volume na América do Norte diminuiu 46%, para US$ 166 bilhões, com as fusões e aquisições internacionais caindo 43%. Os Estados Unidos registraram uma queda de 49% com um total de US$ 134 bilhões.  

Relatório pede que governos se comprometam com uma estratégia de investimento público
China foi o maior receptor global de IED com fluxos crescendo 4%, para US $ 163 bilhões, Man Aihua

Com relação a performances individuais, a China foi o maior receptor global de IED com fluxos crescendo 4%, para US $ 163 bilhões, ultrapassando os Estados Unidos. 

Na Europa, os investimentos estagnaram-se com um balanço negativo de US$4 bilhões. No Reino Unido, esse indicador caiu para zero. 

Alguns países europeus, no entanto, contrariam essa tendência, com os fluxos dobrando na Suécia e aumentando 52% na Espanha.  

Na Austrália, o movimento caiu 46%, mas aumentou em Israel, de US$ 18 bilhões para US$ 26 bilhões, e no Japão, de US$ 15 bilhões para US$ 17 bilhões.  

Países em desenvolvimento 

Nos países em desenvolvimento, os fluxos de IED caíram 12%, para US$ 616 bilhões. Esse valor representa, no entanto, a maior porcentagem de sempre do total global, cerca de 72%. 

A América Latina e o Caribe tiveram a maior redução com 37%. Na África, a diminuição foi de 18% e na Ásia de 4%.  

Segundo o presidente, mais de 100 bilhões de dólares foram investidos na saúde, houve socorro às famílias indígenas e investimentos na candidata à vacina contra a Covid-19.
indústrias de tecnologias de informação e farmacêuticas foram destaque, Agência Brasil/Rovena Rosa

Já Índia, outra grande economia emergente, registrou crescimento positivo, 13%, impulsionado pelos investimentos no setor digital. 

Setores  

Em relação a setores, as indústrias de alta tecnologia tiveram um aumento de 11%. 

Fusões e aquisições internacionais também aumentaram 54%, principalmente nas indústrias de tecnologias de informação e comunicação e farmacêuticas. 

O relatório diz que a descida de 35% em projetos greenfield, os que ainda estão sendo planejados, “não são um bom presságio para novos investimentos em setores industriais em 2021." 

Segundo o chefe da Unctad, "para os países em desenvolvimento, as perspectivas para 2021 são uma grande preocupação." Embora os fluxos de IED nessas economias tenham mostrado alguma resiliência no ano passado, os anúncios de novos empreendimentos caíram 46% e o financiamento de projetos internacionais 7%. 

Zhan contou que “esses tipos de investimento são cruciais para o desenvolvimento da capacidade produtiva e da infraestrutura e, portanto, para as perspectivas de recuperação sustentável.” 

Tecnologia e saúde 

A Unctad espera que qualquer aumento nos fluxos globais de IED em 2021 venha de fusões e aquisições internacionais, especialmente em tecnologia e saúde, não de novos investimentos.  

Em 2018, investimento estrangeiro direto no Brasil foi de US$ 88,3 bilhões, 48% do total regional.
América Latina e o Caribe tiveram redução de 37%, Prefeitura de Santos

As empresas europeias deverão atrair mais de 60% dos negócios de tecnologia, mas várias economias em desenvolvimento também estão vendo um aumento. 

Índia e Turquia estão atraindo um número recorde de negócios em consultoria de tecnologia de informação e setores digitais, incluindo plataformas de comércio eletrônico, serviços de processamento de dados e pagamentos digitais. 

Cerca de 80% das empresas comprando outros negócios são de economias desenvolvidas, principalmente Europa, mas algumas firmas multinacionais de países em desenvolvimento também estão ativas no mercado.  

Investidores sul-africanos, por exemplo, planejam adquirir participações em provedores de saúde na África e na Ásia. Além disso, empresas indianas anunciaram um aumento de 30% nas aquisições.