Pandemia realçou importância do braille para pessoas com deficiência BR

Vida em confinamento tem causado dificuldades de independência e isolamento para quem vive com deficiência visual; em entrevista à ONU News, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência de Portugal disse que crise de saúde ajudou a perceber a importância de ferramentas acessíveis.
Neste 4 de janeiro, as Nações Unidas marcam o Dia Mundial do Braille. Este ano, a organização destaca a importância da inclusão de pessoas com deficiência durante a pandemia.
Em todo o mundo, existe 1 bilhão de pessoas com deficiência. Mesmo antes da pandemia, elas já tinham menos acesso a cuidados de saúde, educação e emprego.
Em entrevista à ONU News, de Lisboa, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência de Portugal, Ana Sofia Antunes, disse que pandemia ajudou a perceber a importância da inclusão de pessoas com deficiência.
“As pessoas, na sua generalidade, tomaram consciência do que é que significa encontrarem-se em situações de restrição de direitos. Isso talvez em alguns momentos lhes tenha permitido colocar-se no lugar do outro, perceber o que significa não poder fazer determinadas coisas, sair de casa, deslocar-se facilmente. Acima de tudo, pode ter propiciado alguma reflexão a este nível.”
Pessoas com deficiência são mais propensas a viver na pobreza, sofrem com taxas mais altas de violência, negligência e abuso e estão entre os mais marginalizados em qualquer comunidade afetada pela crise.
Para Ana Sofia Antunes, a pandemia mostrou a importância de se produzir informações essenciais em formatos acessíveis, incluindo braille e tecnologias digitais.
“É fundamental as tecnologias estarem envolvidas porque, neste contexto, percebemos que, de um momento para o outro, ficamos dependentes delas, para comunicar, para estar em contacto com o mundo, para trabalhar, estudar etc. Da mesma maneira que muitas pessoas desenvolveram capacidades digitais que não tinham, e de repente perante esta necessidade tiveram de as desenvolver, as pessoas com deficiência também tentaram fazer esse esforço. Se as ferramentas tinham condições de acessibilidade, essa adaptação foi feita, o mais difícil é quando essas tecnologias não preveem de raiz a acessibilidade.”
Para pessoas com deficiência visual, a vida em confinamento tem causado dificuldades de independência e isolamento, principalmente para aqueles que precisam do toque para comunicar suas necessidades e acessar informações.
Quando isso não acontece, elas podem enfrentar um risco maior de contaminação devido à falta de acesso a diretrizes e dados sobre prevenção.
Durante a pandemia, partes do sistema das Nações Unidas promoveram uma resposta inclusiva para pessoas com deficiência e disseminou informações em braille.
No Malauí, por exemplo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, produziu 4.050 materiais em braille sobre conscientização e prevenção.
Na Etiópia, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos disseminou informações de áudio e materiais educacionais e de comunicação para a mídia e versões em braille das mensagens educacionais.
Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, lançou notas de orientação disponíveis em vários idiomas e formatos acessíveis, como braille.
O braille, uma representação tátil de símbolos alfabéticos e numéricos usando seis pontos para representar cada letra e número, é essencial no contexto da educação, liberdade de expressão e opinião e inclusão social.
A importância desta ferramenta está refletida no artigo 2 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.