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Entrevista: Zahira Virani, coordenadora residente da ONU em Angola

Zahira Virani, a nova coordenadora residente das Nações Unidas em Angola.
ONU Angola
Zahira Virani, a nova coordenadora residente das Nações Unidas em Angola.

Entrevista: Zahira Virani, coordenadora residente da ONU em Angola

Assuntos da ONU

Zahira Virani, a nova coordenadora residente das Nações Unidas em Angola fala sobre cooperação, desenvolvimento sustentável e combate à pandemia - chefe do Sistema ONU no país conversou com a ONU News após o aniversário de independência da nação africana. Assista à primeira parte da entrevista gravada no dia 12 de novembro.

Monica Grayley: A ONU News em Português tem o grande prazer de receber aqui Zahira Virani.  Ela fala conosco diretamente de Luanda e é a nova coordenadora residente ou a nova chefe do Sistema das Nações Unidas em Angola.  Zahira, muito prazer em conhecê-la virtualmente e parabéns pela sua nomeação. Nós gostaríamos de começar perguntando, brevemente, por onde a senhora passou dentro do Sistema das Nações Unidas até chegar a este posto em Angola. E logo depois, o meu colega Eleutério Guevane tem a primeira pergunta para a senhora.

Zahira Virani: Nunca, na minha vida, pensei que iria estar tão ligada ao mundo lusófono porque há menos de quatro anos, eu não falava uma palavra de português sequer. Então, quando cheguei lá me dei conta de que tinha de aprender o português rapidamente. E foi assim: aprendi. Eu cheguei às Nações Unidas através de um programa, que se chamada Lead. Eu trabalhei no Panamá, em Genebra, Tadjiquistão, Afeganistão, Bósnia-Herzegovina, São Tomé e Príncipe, como coordenadora. E aqui tenho grande prazer e honra. Sinceramente, é uma honra estar aqui na qualidade de coordenadora-residente do sistema, em Angola.

Entrevista: Zahira Virani, nova coordenadora residente da ONU em Angola

 

MG: O prazer é todo nosso de recebê-la nas Nações Unidas dentro deste grande mundo da lusofonia. Eu queria só saber, foi difícil, foi fácil, como foi aprender português?

ZV: Mas ainda não podemos falar no passado (risos), pois ainda estou aprendendo. Não foi fácil, mas não foi difícil também não.  A língua portuguesa é uma língua tão bonita. Eu gosto muito. Tem palavras tão suaves. E os portugueses têm uma maneira de falar, de pensar, o sentimento é diferente.  E adorei. Eu fiquei em São Tomé quase quatro anos. E foi uma boa oportunidade para aprofundar a minha relação com o português. E espero que aqui também, eu vou ter esta oportunidade de aprender mais e melhorar ainda mais.

Chefe do Sistema ONU no país conversou com a ONU News após o aniversário de independência da nação africana
ONU Photo/Loey Felipe
Chefe do Sistema ONU no país conversou com a ONU News após o aniversário de independência da nação africana

 

MG: Excelente. Já fala muito bem. E agora vou passar ao meu colega, Eleutério Guevane.

Eleutério Guevane: E vamos continuar nessa dica do melhorar... Em Angola, quando chega, encontra um país que pretende melhorar, em termos econômicos, pretende recuperar. Sabemos que Angola está a transitar para economia de rendimento médio. Eu vou passar mesmo para esta questão dos desafios. Até agora, o que acha que é o maior desafio do país, 45 anos depois da independência?

ZV: É uma pergunta muto boa, mas também uma pergunta complicada. Um país tão grande, com uma história pós-conflito, um país que é mais jovem que eu. Tem só 45 anos então é um país jovem. Mas infelizmente, durante quase 20 anos, durante a guerra civil, o país e o povo sofreram muito. E depois do crescimento econômico, depois que chegou paz, infelizmente a economia do país cresceu só baseada em petróleo e em recursos naturais. E infelizmente agora estamos a sofrer. Como todos sabemos, o preço do petróleo global está a baixar todos os dias. E o país, por exemplo, 90% da economia, do orçamento do Estado vem do petróleo. E isso não dá. Então, um dos desafios grandes é como diversificar a economia, como desenvolver, e como encorajar o crescimento econômico, mas de uma maneira que não vai prejudicar o meio ambiente, por exemplo.  E o mais importante: crescer a economia, mas de uma maneira que vai baixar as taxas de desigualdade, que neste momento, em Angola, é um dos maiores desafios que encontramos. Além disso, se olharmos o resto do continente da África, Angola tem uma população jovem, mas jovem mesmo. Ontem, o presidente estava a falar num dos discursos da celebração de 45 anos. Ele disse que 65% da população de Angola, neste momento, têm menos de 25 anos. Esta juventude tem direito a estudar, para ter emprego, e para crescer e ter um futuro baseados nos direitos humanos, na democracia, mas também numa economia sustentável. Então, na minha opinião, esses são os maiores desafios que enfrentamos neste momento em Angola.

Agências da ONU ajudam a priorizar os públicos-alvo para campanha de vacinação
FAO/Estevão Benedito
Agências da ONU ajudam a priorizar os públicos-alvo para campanha de vacinação

 

EG: Não fugindo muito do contexto, este também é um ano especial para Angola dentro das Nações Unidas. São 45 anos desde a independência, e o mesmo tempo dentro das comunidades das Nações. Como é que vê esta ligação e percebe que esta ligação, enfim, de alguma forma é considerada pelo governo de Angola?

ZV: Sabe, que hoje de manhã, eu estive com o governo, com o presidente, com o Corpo Diplomático porque o presidente inaugurou a Academia de Diplomacia aqui em Angola. O que eu, claro, é sempre bom investir em recursos humanos e em fortalecer capacidades dos técnicos, dos funcionários, em qualquer país. Mas neste caso, em particular, eu fiquei contente que o governo de Angola está a priorizar a diplomacia. E o papel que Angola tem no mundo: regional, sub-regional, seja África Central, seja no sul da África com a Sadc, seja Grandes Lagos, União Africana e mesmo dentro das Nações Unidas. Angola está a tentar a tomar uma liderança, um papel mais forte, e acho que é fantástico para nós, para as Nações Unidas, e para o multilateralismo e também para o continente de África. Porque todos os países têm muito a aprender de Angola. Angola aprendeu lições de uma maneira dura, depois da independência, durante a guerra. Acho que Angola, neste momento, tem um papel forte não só para promover os interesses de Angola, por exemplo em comércio, em investimento estrangeiro, mas também para partilhar estas lições, e para partilhas os valores de democracia, paz, estabilidade. Então, aqui, o Escritório da Coordenadora, nós vamos trabalhar com o Governo, com o Ministério das Relações Exteriores para fortalecer e para promover este papel que Angola pretende neste momento.