Guterres pede mais cooperação entre ONU e União Africana no Conselho de Segurança
Encontro desta sexta-feira debateu parceria entre duas organizações; secretário-geral destacou exemplos de sucesso na Somália e República Centro-Africana, mas disse que é preciso fazer mais; nova iniciativa deve ajudar Moçambique no combate ao terrorismo.
A cooperação entre a União Africana e as Nações Unidas foi o tema de um encontro esta sexta-feira no Conselho de Segurança.
Participaram no debate o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, país que preside o Conselho no mês de dezembro, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahat, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Cooperação
Em seu discurso, o chefe da ONU disse que a cooperação entre as duas organizações “nunca foi tão forte.”
António Guterres destacou o Quadro Comum para a Paz e Segurança e o Quadro Comum para a implementação da Agenda 2063 e da Agenda 2030, adotados em 2018.
Segundo ele, esta parceria “está profundamente enraizada nos princípios de complementaridade e respeito e na certeza de que nenhuma organização ou Estado pode superar sozinho os problemas do nosso tempo.”
O chefe da ONU disse que os chefes de Estado e de Governo africanos têm uma visão convincente para a paz e a segurança, através da iniciativa “Silencie as armas”, que as Nações Unidas têm apoiado de várias formas.
Exemplos
Guterres destacou ainda as missões políticas especiais e de manutenção da paz da ONU, afirmando que têm produzido resultados em vários países.
O secretário-geral deu o exemplo da Líbia, onde as partes em conflito assinaram um acordo de cessar-fogo sob os auspícios das Nações Unidas e as negociações políticas foram retomadas.
Na República Centro-Africana, a ONU apoia o estabelecimento da Missão de Observação Militar da União Africana e a implementação do Acordo de Paz. No Sudão do Sul, o cessar-fogo está sendo cumprido em grande parte e existe uma melhoria da estabilidade política gerando “um otimismo cauteloso.”
No Sudão, um novo acordo de paz entre o governo e os movimentos armados é o culminar de um ano de conversações e na Somália a ONU e a UA apoiam a preparação das novas eleições.
As duas organizações também trabalharam com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, Cedeao, antes e depois das eleições na Cote d’Ivoire, também conhecida como Costa do Marfim, na Guiné Equatorial e facilitaram a transição de poder no Mali.
Desafios
António Guterres afirmou, no entanto, que “apesar desses passos positivos, os desafios são grandes.”
Ele disse que novos conflitos estão surgindo, a emergência climática é violenta e a pandemia de Covid-19 está exacerbando as fragilidades, afetando desproporcionalmente as mulheres e os mais vulneráveis.
Como em outras partes do mundo, “a confiança nas instituições públicas está diminuindo, o espaço cívico sendo restringido e as minorias sofrendo ameaças crescentes.”
Além disso, grupos terroristas e extremistas violentos estão explorando a incerteza criada pela pandemia, como acontece no Sahel e na bacia do Lago Chade. Nessa área do combate ao terrorismo, Guterres deu o exemplo de uma iniciativa em Moçambique.
O Escritório de Contraterrorismo da ONU está trabalhando com o Centro Africano para Estudos e Pesquisa sobre Terrorismo “para desenvolver opções como parte de um conjunto de projetos interagências da ONU para ajudar Moçambique.”
Futuro
Apesar desses esforços, Guterres diz que “é preciso fazer mais.”
O secretário-geral fez várias propostas para reforçar a parceria, como maior institucionalização da cooperação em todos os níveis, assegurar a previsibilidade do financiamento das operações de paz da União Africana e fazer mais para engajar mulheres e jovens.
No ano em que a ONU comemora seu 75º aniversário, o chefe da organização disse que a organização está fazendo “uma profunda reflexão sobre a melhor forma de avançar a agenda comum”. Ele disse que conta com a União Africana “para ajudar a mostrar o caminho.”