Perspectiva Global Reportagens Humanas

ONU: 2020 deve ser um dos três anos mais quentes já registrados  BR

Sociedades disfuncionais colocam as pessoas e o planeta em rota de colisão
Unsplash/Johannes Plenio
Sociedades disfuncionais colocam as pessoas e o planeta em rota de colisão

ONU: 2020 deve ser um dos três anos mais quentes já registrados 

Clima e Meio Ambiente

Relatório sugere que condições meteorológicas extremas agravam o impacto da Covid-19; pesquisa mostra como calor extremo, incêndios florestais e inundações afetaram milhões de pessoas; seca severa causou perdas agrícolas estimadas em US$ 3 bilhões no Brasil. 

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, afirma que a mudança climática continuou uma “marcha implacável” em 2020, que deve ser um dos três anos mais quentes desde o início dos registros de temperatura. 

O período entre 2011 e 2020 deve ser a década mais quente, com os seis anos de maior calor ocorrendo desde 2015. Os dados são do relatório provisório Estado do Clima Global, publicado pela OMM. 

Comissão da ONU estima que cerca de 49 a 161 milhões de pessoas caiam em pobreza extrema
Secas em África e outras partes do mundo afetaram segurança alimentar, OMM/Cornel Vermaak

Recordes 

A temperatura do oceano está em níveis recordes e mais de 80% do oceano global experimentou uma onda de calor em algum momento deste ano, com repercussões para os ecossistemas marinhos.  

O relatório mostra como calor extremo, incêndios florestais, inundações e uma temporada recorde de furacões no Atlântico afetaram milhões de pessoas, agravando ameaças à saúde e segurança das pessoas além da estabilidade econômica.  

Apesar das medidas de combate à Covid-19, as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa continuaram a aumentar.  

Em comunicado, o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que “a temperatura global média em 2020 está cerca de 1,2° C acima do nível pré-industrial.” Segundo ele, “há pelo menos uma chance em cinco de exceder temporariamente 1,5° C até 2024.”  

Lembrando o quinto aniversário do Acordo de Paris, Taalas explicou que a agência acolhe todos os compromissos recentes, porque o mundo “não está no caminho certo e mais esforços são necessários.” 

Consequências 

Para o chefe da OMM, “2020 foi, infelizmente, mais um ano extraordinário” para o clima. 

Acidificação dos oceanos afeta setor das pescas e comunidades costeiras
Acidificação dos oceanos afeta setor das pescas e comunidades costeiras em todo o mundo, ONU

Ele destacou temperaturas extremas na Terra, no mar e especialmente no Ártico. Incêndios florestais que consumiram vastas áreas na Austrália, Sibéria, costa oeste dos Estados Unidos e América do Sul, enviando nuvens de fumaça que deram a volta ao globo. E um número recorde de furacões no Atlântico e inundações em partes da África e do Sudeste Asiático.  

Os dados provisórios são baseados em informações recolhidas entre janeiro e outubro. O relatório final será publicado em março de 2021, com informações de centros climáticos e parceiros das Nações Unidas.  

Temperaturas e gelo 

É muito provável que 2020 seja um dos três anos mais quentes já registrados em todo o mundo, mas a classificação ainda pode mudar com os dados que faltam.  

As temperaturas menos esperadas aconteceram no norte da Ásia, particularmente no Ártico Siberiano, onde as temperaturas estavam mais de 5° C acima da média, causando a temporada de incêndios florestais mais ativa dos últimos 18 anos. 

O gelo marinho do Ártico atingiu seu mínimo anual em setembro, como o segundo nível mais baixo no recorde de satélite de 42 anos. O gelo do mar Ártico em julho e outubro de 2020 foi o mais baixo já registrado. 

Já as geleiras da Antártida estavam próximas ou ligeiramente acima da média de 42 anos. A Groenlândia continuou a perder gelo, apesar de uma taxa mais lenta do que em 2019. 

Mares e oceanos 

 Bombeiros na Califórnia e em outras partes da costa oeste dos Estados Unidos tentaram conter incêndios florestais.
Bombeiros na Califórnia combatendo incêndios, Departamento contra Incêndios de São Francisco

O nível de temperatura do oceano em 2019 foi o mais alto registrado, em dados que começaram sendo recolhidos em 1960.  

O nível médio global do mar em 2020 é semelhante ao do ano passado e consistente com a tendência de longo prazo. O desenvolvimento das condições do fenômeno La Niña levou a uma pequena queda recente no nível do mar global, semelhante às baixas temporárias associadas aos eventos anteriores. 

A acidificação dos oceanos continua aumentando. O oceano absorve cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a controlar a mudança climática, mas os custos ecológicos desse processo são altos. 

O relatório destaca vários eventos de alto impacto, como as graves inundações que afetaram muitos milhões de pessoas na África Oriental e na região do Sahel, Sul da Ásia, China e Vietnã. 

América do Sul 

No interior da América do Sul, a seca severa afetou muitas partes em 2020, sendo as áreas mais afetadas o norte da Argentina, o Paraguai e as áreas da fronteira oeste do Brasil.  

As perdas agrícolas foram de cerca de US$ 3 bilhões apenas no Brasil. Houve atividade significativa de incêndios florestais em toda a região, mais severa nas zonas úmidas do Pantanal, no oeste do país. 

Cheias, como esta em Bangladesh, são o desastre natural mais comum
Cheias, como esta em Bangladesh, são o desastre natural mais comum, Unicef/Shafiqul Alam Kiron

Nos Estados Unidos, os maiores incêndios já registrados ocorreram no final do verão e no outono, com a contribuição da seca generalizada e calor extremo. A Europa experimentou secas e ondas de calor, embora não tão intensas como em 2019.  

O número de ciclones tropicais esteva acima da média, com 96 ciclones até 17 de novembro. A região do Atlântico Norte teve uma temporada excepcionalmente ativa, com 30 furacões, mais do que o dobro da média de longo prazo, e quebrando o recorde de 2005. 

Riscos e impactos 

Durante o primeiro semestre do ano, cerca de 10 milhões de pessoas foram deslocadas devido a estes eventos, concentrados no Sul e Sudeste Asiático e no Sudeste Africano.  

Em 2020, a pandemia de Covid-19 aumentou o risco das operações de evacuação, recuperação e socorro. 

Após décadas de declínio, a insegurança alimentar voltou a aumentar desde 2014, com a contribuição de eventos climáticos extremos. De acordo com a Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura, FAO, e Programa Mundial de Alimentos, PMA, mais de 50 milhões de pessoas foram atingidas duas vezes, por desastres naturais e pela pandemia.