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Quase 40 milhões de deslocados em alto risco de violência, discriminação e abusos  BR

Meninas refugiadas em assentamento no Sudão
Acnur/Will Swanson
Meninas refugiadas em assentamento no Sudão

Quase 40 milhões de deslocados em alto risco de violência, discriminação e abusos 

Migrantes e refugiados

 Acnur lança estudo revelando grave deterioração nos esforços internacionais para proteger os mais vulneráveis ​​na pandemia; pesquisa cita aumento das violações dos direitos humanos, com tráfico e violência de gênero entre maiores preocupações. 

Milhões de deslocados internos ou afetados por conflitos podem estar perdendo apoio de proteção humanitária devido à falta de financiamento. 

Um novo relatório da Agência da ONU para Refugiados, Acnur, e do Conselho Norueguês para Refugiados revela uma grave deterioração nos esforços internacionais para proteger os mais vulneráveis. O principal fator é o aumento das violações dos direitos humanos. 

Crianças somalis em assentamento para deslocados internos
Crianças somalis em assentamento para deslocados internos, Foto ONU/Stuart Price

Proteção 

Segundo a pesquisa, existem 54 milhões de pessoas que precisam de proteção humanitária. Destas, quase 40 milhões podem perder estes serviços. 

Em comunicado, a alta comissária assistente para Proteção do Acnur, Gillian Triggs, disse que “o mundo não pode se dar ao luxo de ser complacente e indiferente à situação destas pessoas.” 

Segundo ela, “milhões de vidas estão em jogo e os funcionários humanitários não podem fazer muito.” Para Triggs, “o conflito armado continua a ser o principal motor do deslocamento forçado, então a paz é essencial para acabar com o sofrimento.” 

Já o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados, Jan Egeland, disse que a Covid-19 “atingiu mais duramente milhões de pessoas sem nenhum acesso aos serviços de proteção.” 

Segundo ele, “crianças recrutadas por exércitos não recuperam infâncias perdidas, mulheres estupradas e espancadas carregam essas cicatrizes para o resto da vida.” 

Violência 

A violência de gênero aumentou dramaticamente desde o início da pandemia. Estimativas apontam que, a cada três meses com medidas de bloqueio, mais 15 milhões de mulheres e meninas são expostas à violência de gênero. 

UM dos exemplo disse é o Mali, onde mais de 4,4 mil casos de violência de gênero foram relatados entre janeiro e setembro. Apenas 48% das cidades tinham serviços de apoio. 

Metade da população centro-africana precisa de ajuda humanitária.
Metade da população centro-africana precisa de ajuda humanitária, Foto: ONU/Evan Schneider

Na República Centro-Africana, os incidentes relatados mais que dobraram, incluindo estupro, escravidão sexual e casamento forçado. O país já era um dos lugares mais perigosos do mundo para ser mulher ou menina. 

Já no Níger, foram recebidos relatos de mulheres torturadas por se envolverem em atividades econômicas fora de casa e por não usarem véus completos. 

Os casamentos infantis também estão em alta. Mais 13 milhões de casamentos de menores podem ocorrer nos próximos 10 anos por causa dos efeitos colaterais da pandemia, de acordo com estimativas da ONU. 

Tráfico 

O tráfico também é uma preocupação, com trabalhadores de ajuda humanitária em 66% dos países pesquisados ​​relatando que as pessoas correm maior risco. 

Um aumento na violência e no conflito armado também foi registrado, com ataques a civis aumentando 2,5%. Na África Oriental e Ocidental, por exemplo, mais de 1,8 mil eventos envolvendo grupos armados foram registrados desde o início da pandemia, um aumento de 70%. 

De acordo com o relatório, a lacuna entre necessidades e financiamento está crescendo. Esse ano, o financiamento para proteção em crises humanitárias recebeu apenas 25% do que é necessário. 

Além disso, historicamente, quase 70% do financiamento para estes serviços vem de apenas cinco doadores: União Europeia, Reino Unido, Alemanha, Nações Unidas e Estados Unidos.