Etiópia: ofensiva iminente a Tigray eleva tensão entre forças locais e nacionais
Chefe de Direitos Humanos realça retórica “altamente agressiva” das partes em conflito; Michelle Bachelet diz que as pessoas estão em situação frágil e com medo; plano da ONU requer cerca de US$ 76 milhões para operação temporária de auxílio até janeiro.
Entidades das Nações Unidas pediram que as autoridades da Etópia protejam os civis do país após o anúncio sobre uma iminente operação do exército etíope, em Mekelle, capital da região de Tigray, no extremo norte do país africano.
Há mais de três semanas, Forças de Defesa Nacional da Etiópia e a Frente de Libertação do Povo de Tigray, entraram em combates na área.
“Grande perigo”
Para a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, “a retórica altamente agressiva de ambos os lados” sobre combates em Mekelle é perigosa, provocadora e coloca em grande perigo os “civis já vulneráveis e assustados.”
De acordo com a chefe de direitos humanos, a alegação de que haveria líderes Tigray escondidos entre os civis “não dá carta branca ao Estado etíope para responder com o uso de artilharia em áreas densamente povoadas”.
A segurança também causa “extrema preocupação” ao Escritório de Assistência Humanitária, Ocha. Meio milhão de pessoas continuam em Mekelle, incluindo 200 funcionários humanitários locais.
O escritório apela a todos que cumpram suas obrigações segundo o Direito Internacional Humanitário. Outro pedido é que sejam protegidas as populações e a infraestrutura civil, como instalações de saúde, escolas e sistemas de água.
Para o Ocha, é urgente permitir um movimento livre e seguro de todos os civis em busca de segurança e assistência, tanto nas fronteiras nacionais como internacionais.
Preparação
Para fornecer assistência aos afetados, o Ocha finalizou o Plano de Preparação Humanitária prevendo apoiar 2 milhões de pessoas em Tigray, Afar e Amhara até janeiro de 2021. Entre os beneficiários da operação de auxílio de US$ 76 milhões estão mais 1,1 milhão de pessoas que precisam de ajuda.
Os confrontos na área etíope já levaram cerca de 40 mil refugiados a pedir abrigo no leste do Sudão. No fim de semana, cerca de 5 mil pessoas deixaram a área, segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur.
A agência está entregando ajuda incluindo alimentos. Os desafios logísticos e a grande procura têm afetado a capacidade de oferecer abrigo e atender o aumento das necessidades.
Refugiados da Eritreia
Pelo menos 300 crianças, mulheres grávidas e amamentando recebem suplementos alimentares e terapêuticos do Acnur.
A agência disse estar apreensiva com os 100 mil refugiados eritreus vivendo em Tigray sem artigos humanitários básicos como água, remédios e alimentos. As reservas atuais devem esgotar em uma semana.