Bachelet lança apelo para paz durante reunião de doadores para Afeganistão
Evento é organizado por Afeganistão, Finlândia e Nações Unidas; para Bachelet é preciso priorizar um processo centrado nas vítimas do conflito como um dos caminhos para se alcançar a paz duradoura; ela pediu proteção de mulheres e crianças, jornalistas e defensores dos direitos humanos e a criação de um mecanismo de verdade e justiça.
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, pediu ao povo afegão que se comprometa com seis pontos no caminho para a paz.
O apelo de Bachelet foi lançado nesta segunda-feira, em Genebra, na abertura da Conferência sobre o Afeganistão 2020, um encontro internacional de doadores.
Ataque
Segundo a alta comissária, os pontos são como “seis favores” que ela pede aos afegãos para alcançar o fim do conflito, que somente nos últimos 10 meses, já matou mais de 2,1 mil pessoas e deixou mais de 3,8 mil feridas.
No sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou um ataque com foguete à área residencial de Cabul, que matou pelo menos oito pessoas e feriu dezenas.
Em seu discurso, Bachelet lembrou que apesar das Negociações de Paz para o país, que começaram em 12 de setembro, e do apelo para um cessar-fogo global, os civis continuaram sendo alvejados.
Para ela, todos os lados do conflito podem e devem fazer mais para proteger a população.
Criança
Como primeiro pedido, Bachelet instou todas as partes no Afeganistão a se comprometerem em salvaguardar a vida humana. Segundo ela, este passo pode salvar milhares de vidas. A alta comissária sugere uma redução clara da violência e idealisticamente um cessar-fogo.
Em segundo lugar, ela lembra que quase metade do povo afegão tem menos de 15 anos. Por isso, é necessário que as partes acordem sobre proteção à criança. Para tal, Bachelet quer que todos os lados cessem os ataques a hospitais e escolas, realizem desminagem de terrenos para proteger os menores e iniciem a libertação de crianças presas.
Mulheres
O Afeganistão é signatário de sete dos nove maiores tratados internacionais de direitos humanos. E como um Estado-membro não deveria abandonar os acordos, ou sair da Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação a Mulheres, Cedaw. Por isso, a alta comissária da ONU insta todas as partes das negociações que reafirmem sua adesão a essas obrigações independentemente de quem esteja no governo.
E ao falar dos direitos das mulheres e sobre a possibilidade de que eles se tornem moeda de barganha para fins políticos, Michelle Bachelet lembra que esses direitos são parte indivisível dos tratados internacionais e não podem ser comprometidos sem danificar todos os direitos fundamentais.
Jornalistas e defensores
Ela apelou a todas as partes nas negociações que assegurem a participação das mulheres no processo em todos os canais e níveis. Bachelet lembrou que todas devem ser ouvidas dentro de suas variedades. E que assim como os homens, as mulheres afegãs têm muitas perspectivas que devem ser escutadas. Para ela, é interesse de todos que as mulheres estejam à mesa.
Uma das preocupações da ONU é com o aumento da violência dirigida a jornalistas, defensores de direitos humanos e atores da sociedade civil.
Como quinto pedido, a alta comissária disse que a mídia não pode ser calada e as ONGs tampouco fechadas, pois o papel delas será ainda mais relevante para o povo afegão no futuro.
Vítimas
Em sexto e último lugar, a alta comissária da ONU afirma que qualquer paz para ser duradoura, deve se basear na participação, inclusão e garantia de direitos de todos no Afeganistão. Por isso, as vítimas devem ser colocadas no centro de todo o processo. Ao mencionar iniciativas de justiça transicional, ela citou o próprio exemplo positivo do Chile, onde foi presidente duas vezes.
Bachelet instou ao povo afegão e às partes no conflito a reconhecerem os danos causados às vítimas respondendo aos direitos delas à verdade, à justiça, à reparação e compensação.
Segundo a alta comissária, enfrentar as perdas e os efeitos arrasadores que a guerra tem e teve sobre os afegãos é parte da possibilidade real e da esperança de se alcançar a paz duradora para todos no país.