Unctad: impacto econômico da pandemia deve permanecer mesmo após vacina BR

Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento prevê contração econômica de 4,3% este ano e mais 130 milhões de pessoas lançadas na pobreza extrema; agência afirma que crise de saúde “é também catalisador para mudança necessária.”
Com o advento de uma vacina contra a Covid-19, surge a aparente confiança de que a crise pode estar perto do fim. Para uma agência da ONU, no entanto, essa esperança não será suficiente para acabar com a crise econômica gerada pelo coronavírus.
Num relatório, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, revela que as pessoas mais pobres e vulneráveis sentirão “por muito tempo” as consequências.
O documento “Impacto da Pandemia de Covid-19 no Comércio e Desenvolvimento: Transição para um Novo Normal” sugere que a economia global contrairá 4,3% este ano.
Com isso, mais de 130 milhões de pessoas podem ser lançadas na pobreza extrema.
O secretário-geral da Unctad, Mukhisa Kituyi, disse que “a propagação do vírus se beneficiou da interconectividade e fragilidades da globalização, tornando uma crise de saúde global num choque econômico que atingiu os mais vulneráveis mais fortemente.”
O relatório diz ainda que a pandemia ameaça o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030, e recomenda uma recuperação concentrada em política comercial que considere o impacto ambiental e outros desafios.
A Covid-19 afetou todas as áreas da economia mundial, como investimento, produção, emprego e meios de subsistência. Dentre os grupos mais atingidos estão migrantes, trabalhadores informais e mulheres.
A pandemia levou ao maior aumento da pobreza no mundo deste 1998, quando houve a crise financeira na Ásia. Em 1990, a taxa global era de 35,9%. Há dois anos, o número havia sido reduzido para 8,6%. Mas este ano, a taxa já está em 8,8% com uma tendência de subida para 2021.
A crise da Covid-19 também teve um efeito desproporcional no turismo e micro, pequenas e médias empresas.
Nos 32 países com dados disponíveis, os países com maior incidência de Covid-19 viram maiores aumentos no desemprego feminino do que masculino.
Segundo o relatório, “a produção e distribuição de vacinas devem realçar a capacidade limitada da maioria das nações em desenvolvimento e os países menos desenvolvidos para responder à crise.”
A maioria das nações de baixa renda não possui as redes de segurança necessárias para apoiar as populações.
Cerca de 79,4% dos trabalhadores na África Subsaariana e 84,5% dos trabalhadores em países menos desenvolvido não têm acesso a qualquer proteção social ou programas de trabalho.
O relatório pede um aumento da assistência internacional, incluindo alívio da dívida, para que as nações tenham o espaço fiscal necessário para enfrentar a crise.
A Unctad oferece ainda um roteiro para a recuperação. Segundo o chefe da agência, a crise de saúde “também é um catalisador para a mudança necessária.”
Para ele, “agora é o momento certo para abordar os pontos fracos da globalização que levaram à rápida disseminação do vírus ao redor do mundo e seus impactos econômicos desiguais.”
A pandemia pode ser um catalisador para novas redes de produção mais resilientes, baseadas em cadeias de valor mais curtas e mais regionais, sustentáveis e digitais.
É também uma chance de tornar a produção mais alinhada ao meio ambiente.
As emissões globais de dióxido de carbono devem cair 8% este ano. Esta é aproximadamente a redução necessária anualmente na próxima década para manter o progresso de apenas 1,5º C nas temperaturas globais.
Para Mukhisa Kituyi, “apesar das perspectivas sombrias, ainda é possível transformar a Covid-19 no melhor momento das Nações Unidas e construir um futuro mais inclusivo, resiliente e sustentável.”