ONU: preparativos para eleições na República Centro-Africana estão adiantados
Eleitores vão às urnas em dezembro para escolher novo presidente e membros da Assembleia Nacional; delegação da ONU, União Africana e Ceeac visitou país africano na semana passada para acompanhar processo.
Uma delegação da ONU, da União Africana e da Comunidade Económica dos Estados da África Central, Ceeac, esteve na República Centro-Africana, RCA, para avaliar os preparativos para as eleições presidenciais e legislativas de 27 de dezembro.
Em declarações a jornalistas, o subsecretário-geral das Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, disse que “os preparativos estão adiantados.”
Confiança
Segundo Lacroix, “os eleitores foram registrados em condições muito melhores do que na última eleição, com técnicas sofisticadas e meios para conferir e reavaliar quem está nas listas e quem não está.”
O chefe das Operações de Paz disse que está “confiante de que o processo pode ser concluído.”
Para Lacroix, “é essencial” que os cidadãos possam votar. Ele afirmou que “quanto mais forte for a participação, mais o processo terá marcado o alicerce da democracia na RCA e o apego do povo centro-africano ao processo democrático.”
Já o presidente da Comissão da Ceeac, o embaixador angolano Gilberto da Piedade Veríssimo, disse à ONU News* que “o desejo é que realmente se realizem as eleições”, que são vistas “como o único caminho para que a paz possa voltar a este país.”
“Foram muitos avanços. O processo de desarmamento está a desenvolver-se, estão registrados cerca de 2 milhões, um pouco mais de 1,8 milhão, de eleitores, quase o mesmo que em 2015, e, portanto, há um avanço. Há um avanço significativo. Há aspetos a resolver, mas está-se no bom caminho.”
Quanto mais forte for a participação, mais o processo terá marcado o alicerce da democracia na RCA e o apego do povo centro-africano ao processo democrático
Piedade Veríssimo também destacou a importância da estabilidade neste país para os vizinhos. Segundo ele, na RCA “julga-se a questão da paz e segurança na região.”
“Há um estado de guerra, podemos dizer. Começa a haver intervenções de pessoas que não são nem da região nem da RCA. Começamos a sentir algum efeito de atividade terrorista na região. A RCA pode ser uma porta de entrada para o terrorismo na região. Então viemos aqui com as Nações Unidas, com a União Africana, porque somos o garante do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional entre o governo e 14 grupos armados.”
Durante a visita, os delegados tiveram encontros com o presidente da República e presidente da Assembleia Nacional, o primeiro-ministro e o governo.
A delegação também se reuniu com partidos políticos, sociedade civil, plataformas religiosas, mulheres líderes e diplomatas.
Paz
A RCA tem sofrido com episódios de violência desde 2012.
Combates entre a maioria cristã da milícia anti-Balaka e a coligação rebelde, sobretudo muçulmana, causaram a morte de milhares de pessoas e deixaram dois em cada três civis dependentes da ajuda humanitária.
Em 2013, grupos armados tomaram a capital e o então presidente François Bozizé foi forçado a fugir. Após um breve período de redução da violência em 2015 e eleições realizadas em 2016, os combates intensificaram novamente no final de 2019.
Em 6 de fevereiro deste ano, foi assinado o Acordo Político para Paz e Reconciliação entre o governo e 14 grupos armados não-estatais. O tratado permitiu o estabelecimento de um governo no país no final de março.
As conversações de paz foram conduzidas pela União Africana com o apoio da ONU.
Há mais de três anos que Portugal contribui com uma força de reação rápida para a Missão da ONU no país, Minusca. Nesse momento, cerca de 180 militares portugueses estão destacados nessa missão.
*Reportagem da Missão da ONU na República Centro-Africana, Minusca.