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América Latina e Caribe precisam crescer 4% ao ano para eliminar pobreza  BR

Jovens e organizações comunitárias devem se inscrever para terem as propostas locais financiadas
FAO/Max Valencia
Jovens e organizações comunitárias devem se inscrever para terem as propostas locais financiadas

América Latina e Caribe precisam crescer 4% ao ano para eliminar pobreza 

Desenvolvimento econômico

Novo relatório da Cepal, a Comissão Econômica para a região, pede ação urgente para responder a crise causada pela Covid-19 e resolver problemas estruturais; 38º encontro anual da Comissão termina esta quarta-feira. 

A economia da América Latina e do Caribe precisa crescer pelo menos 4% ao ano e realizar uma forte redistribuição de renda, cerca de 3% do PIB anual, para eliminar a pobreza até 2030. 

Esta é uma das conclusões do estudo “Construindo um Novo Futuro: Recuperação Transformativa com Igualdade e Sustentabilidade” da Comissão Econômica para América Latina e Caribe, Cepal. 

Secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena.
Secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, Foto: ONU/Cepal

Ação 

A pesquisa foi apresentada pela secretária-executiva da entidade, Alicia Bárcena, durante o 38º encontro anual da Comissão, que termina esta quarta-feira. 

A pesquisa destaca problemas de crescimento, desigualdade e ambientais que têm gerado polarização, conflito e perda de confiança na democracia. Todos os problemas foram agravados pela pandemia de Covid-19. 

Para resolver essas dificuldades, Alicia Bárcena diz que que existe “necessidade de ação urgente”, com um conjunto de políticas que respondem à gravidade do momento, mas também resolvem problemas estruturais. 

Segundo a chefe da Cepal, “a região está passando por uma mudança de era que envolve processos incertos, longos e complexos de transformação estrutural, que estão revolucionando a base tecnológica e as formas de produzir, distribuir, habitar, consumir, acumular, pensar e conviver.” 

Mudanças 

Para enfrentar essa mudança, a Cepal propõe um grande impulso à sustentabilidade abrangendo as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. 

A pesquisa apresenta medidas de recuperação e desenvolvimento orientadas para um Estado de bem-estar inclusivo e uma transformação produtiva com mudança tecnológica e sustentabilidade ambiental. 

A América Latina e o Caribe produzem uma pequena porcentagem das emissões globais, mas é altamente afetada por seu impacto

Esse esforço deve ser sustentado por uma transição energética e pela difusão de tecnologias ambientais, procurando combater a desigualdade sem destruir os ecossistemas e comprometer os direitos das gerações futuras. 

Segundo a pesquisa, a recuperação pós-pandemia precisa de pactos sociais com a participação de todos os setores e grupos sociais. Ao mesmo tempo, novas formas de governança são propostas para o fornecimento de bens públicos, como acesso universal à saúde, segurança climática, estabilidade financeira, paz e proteção dos direitos humanos. 

Desigualdade 

O estudo também alerta para uma dupla assimetria ambiental. 

A América Latina e o Caribe produzem uma pequena porcentagem das emissões globais, mas é altamente afetada por seu impacto. Ao mesmo tempo, as camadas mais pobres da população, que poluem menos, são as mais atingidas.  

O documento sugere focar a atenção em sete setores: matriz energética, eletromobilidade urbana, revolução digital, indústria de manufatura de saúde, bioeconomia, economia circular e turismo sustentável. 

Para terminar, Alicia Bárcena afirmou que “responder a encruzilhada civilizatória da região é a tarefa comum e urgente que existe pela frente.” Segundo ela, “se coalizões forem construídas e pactos alcançados, essa mudança estará mais perto do que nunca.” 

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Distanciamento social praticado em supermercado no Brasil, Opas/Karina Zambrana

Declaração 

Durante o encontro virtual da Cepal, que começou na segunda-feira, os ministros das Relações Exteriores e autoridades de alto nível dos países da região assinaram uma nova declaração política. 

No documento, os representantes expressam sua visão comum de que a solidariedade financeira internacional, o multilateralismo renovado e o fortalecimento da integração regional são urgentes para uma recuperação pós-Covid-19 com igualdade e sustentabilidade. 

Previsões 

Segundo o último relatório econômico da Cepal, publicado a 15 de outubro, a América Latina e o Caribe enfrentam a pior crise dos últimos 100 anos, com efeitos e consequências sanitárias, econômicas, sociais e políticas que se prolongarão no médio prazo. 

O PIB da região cairá 9,1% em 2020 e 2,7 milhões de empresas devem fechar. O desemprego atinge 44 milhões de pessoas e prevê-se um retrocesso de 15 anos. 

A Cepal diz que 231 milhões de pessoas vivem na pobreza em 2020, juntamente com um retrocesso de 30 anos no que diz respeito à pobreza extrema, cerca de 96 milhões de pessoas.