ONU quer impulso global para promover ciências para todos mesmo após pandemia
Em evento, chefes de três agências das Nações Unidas ressaltaram “perigos” associados a segredos e negações; para eles, a cooperação na resposta ao Covid-19 é vital para vencer a doença.
O conhecimento científico não pode ser exclusivo ou encarado como uma simples “questão de opinião” ou ponto de vista. O acesso à ciência deve ser para todos.

Transparência
Foi assim que três líderes de agências das Nações Unidas descreveram a situação global sobre a resposta à Covid-19 e a necessidade de cooperação entre todos para combater o que chamaram de “negação” e “segredos” sobre a pandemia.
Na terça-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, a chefe da Unesco, a agência da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Audrey Azoulay, e a alta comissária para os direitos humanos, Michelle Bachelet, emitiram um comunicado conjunto com suas preocupações.
Segundo Tedros, nesse momento, as melhores tecnologias de saúde e descobertas não podem ser privilégio de poucos, mas precisam estar à disposição de todos. O chefe da OMS acredita que um processo aberto de pesquisa ajuda a promover transparência, inclusão e solidariedade.
Comunidade científica
Já a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, ressaltou a necessidade universal de acesso à ciência mais do que antes, além do potencial para cooperação. Para ela, a solidariedade demonstrada na comunidade científica global é um modelo para o futuro.

Azoulay contou que antes da Covid-19, apenas uma em cada quatro publicações científicas era aberta e acessível a todos, com isso milhões de pesquisadores ficavam excluídos da possibilidade de intercâmbio com colegas de outras partes do mundo.
Para a Unesco, os modelos fechados de ciência não funcionam e só aumentam desigualdades entre os países e os pesquisadores. A agência afirma que esse modelo leva progresso científico apenas a uma minoria.
“Democratizar a ciência”
A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, acredita que existe uma necessidade urgente de “democratizar a ciência” não apenas liberalizando o acesso a publicações, mas também tornando o processo científico mais acessível, transparente e mais participativo ao compartilhar dados, protocolos, software e infraestrutura.
Os 193 países-membros da Unesco estão redigindo um documento sobre como manter uma visão coerente da ciência aberta com um conjunto de princípios e valores. A versão final deve ser adorada para o fim de 2021.

Michelle Bachelet afirmou que as falhas de um sistema de ciência fechado acabaram levando a uma desconfiança na ciência e a uma falta de conexão entre ciência e sociedade, e a um maior abismo entre ciência, tecnologia e inovação entre os países. Para a alta comissária, a partilha de conhecimento é uma questão de direitos humanos.
OMS e Wikipedia
Para Bachelet, a pandemia tornou a informação aberta ainda mais importante. A chefe de direitos humanos acredita que o fim da pandemia não será alcançado com o uso da força, mas sim com o emprego da ciência e da completa informação do público e cooperação dos cidadãos.
Bachelet concluiu elogiando a OMS e a empresa Wikipedia por fornecer acesso livre à informação sobre a Covid-19. Segundo ela, quando os benefícios da ciência são gerenciados como uma mercadora puramente comercial reservada ao enriquecimento, todos saem perdendo.