Joanna Kazan realça “grande surpresa” com dimensão de protestos que provocaram detenção de cerca de 13 mil pessoas em oito semanas; manifestantes exigem que o presidente Alexander Lukashenko renuncie ao cargo.
Belarus completa esta sexta-feira dois meses desde que iniciaram protestos em torno dos resultados das eleições presidenciais de 9 de agosto. A comissão eleitoral declarou o presidente Alexander Lukashenko vencedor do pleito com cerca de 80,2% dos votos, contrariamente às previsões divulgadas no momento.
Na capital Minsk e outras cidades continuam ocorrendo protestos, que já são considerados os mais graves desde que o país se declarou independente da então União Soviética em 1991.
Situação inédita
Para saber da perspectiva das Nações Unidas sobre os eventos, a ONU News conversou com a coordenadora residente da organização no país.
Joanna Kazan disse tratar-se de uma situação nova em diferentes aspetos. A representante realçou que tanto para a organização como para os parceiros internacionais de Belarus, a dimensão dos protestos e o nível de repressão têm sido uma "grande surpresa".
O país, considerado muito estável e onde as pessoas geralmente são bastante reservadas em termos de expressão das suas opiniões políticas, viu pela primeira vez este nível de contestação eleitoral.
A representante realçou ainda que milhares de participantes ou profissionais que fazem a cobertura destas manifestações foram detidos.
De acordo com Joanna Kazan, também não tem precedentes a intensidade da repressão contra manifestantes e jornalistas. Foram cerca de 13 mil presos nas últimas oito semanas, a maioria nos primeiros sete dias após as eleições.
Tempo real
Para ela, esse fato “entrará na história como algo que nunca ocorreu em Belarus”. A representante realçou ainda como inesperada a mobilização social e o uso de tecnologia, com a qual se comunicaram e coordenaram os protestos em tempo real.
Joanna Kazan declarou que as redes sociais e a internet móvel mudaram a forma como o ativismo político acontece com “mais e mais pessoas se expressando e se organizando on-line.”
A ONU tem acompanhado a situação no país com destaque para a ação em direitos humanos. Na preparação das eleições e na eclosão da crise, o porta-voz do secretário-geral revelou preocupação com a situação, apelando ao respeito pelos manifestantes pacíficos e ao diálogo para lidar com queixas populares.
A coordenadora residente em Minsk também condenou alegações de tortura e abuso de manifestantes. Essa mensagem foi reforçada pelo pedido de investigação desses atos lançado pela alta comissária dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet.