Covid-19, conflitos e crise climática formam ameaça tripla à saúde materno-infantil
Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe mencionados em relatório da Iniciativa Cada Mulher, Cada Criança; em análise da década, agências da ONU chamam atenção para efeitos da pandemia e casamentos precoces.
O progresso para melhorar a saúde das mulheres e crianças na última década está em risco devido ao conflito, à crise climática e à pandemia. A constatação é de um estudo divulgado esta sexta-feira para marcar os 10 anos da iniciativa “Every Woman Every Child”, ou Cada Mulher, Cada Criança em tradução livre.
Unicef, OMS e Unfpa
O relatório “Proteger o Progresso: Aumentar, Reconcentrar, Recuperar” foi compilado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, pela Organização Mundial de Saúde e pelo Fundo das Nações Unidas para a População.
Entre 2020 e 2030, 48 milhões de menores com idade abaixo de cinco anos poderão perder a vida se não for redobrado o investimento para combater a morte de crianças por causas evitáveis. Quase metade desses óbitos poderá ser de recém-nascidos.
O apelo aos países é que continuem investindo na saúde de todas as mulheres, crianças e jovens, em todas as crises.
Lusófonos
Nações de língua portuguesa aparecem entre economias de baixa e média rendas onde foram analisadas intervenções em cuidados segundo pesquisas feitas desde 2015.
Angola é mencionada pelo compromisso financeiro de US$ 970.000, anunciado entre 2018 e 2019, que expressa “a disposição de mobilizar recursos domésticos para proteger e melhorar a saúde reprodutiva, materna, neonatal, infantil e adolescente”.
Já Moçambique está entre 14 Estados com a mais alta cobertura de tratamento de grávidas vivendo com HIV que supera 99%. Os outros são Belarus, Benim, Botsuana, Costa Rica, Cuba, Suazilândia, Guiné-Conacri, Guiana, Malauí, Malásia, Namíbia, Ruanda e Uganda.
Imunização
São Tomé e Príncipe é um dos países que mais imunizam grávidas contra o tétano ao lado da República Dominicana, da Eritreia, da Guiana, das Honduras, das Maldivas e de Sri Lanka.
Em nível global, os principais avanços atingidos na última década foram a queda da morte de crianças com menos de cinco anos, que “atingiu o número mais baixo de sempre em 2019.”
Durante o período, mais de 1 bilhão de crianças foram vacinadas e a taxa de cobertura da imunização, os partos acompanhados por profissionais qualificados e o acesso a água potável atingiram mais 80%.
Desde 2000, a mortalidade materna diminuiu 35% sendo que a maior descida aconteceu a partir de 2010. As estimativas apontam 25 milhões de casamentos infantis evitados na última década.
Pandemia
No entanto, o conflito, a instabilidade climática e a pandemia da Covid-19 colocam a saúde e o bem-estar de todas as crianças e jovens em risco. A pandemia exacerba as desigualdades já existentes, dificultando o acesso a serviços essenciais de saúde. O maior impacto disso recai sobre mulheres e crianças em situação de fragilidade.
No período de confinamento da Covid-19 as escolas foram fechadas em 192 países, afetando 1,6 bilhão de estudantes.
A violência doméstica e o abuso sexual de meninas e mulheres aumentaram e as situações de pobreza e de fome ainda se intensificam.
Desafios
Mesmo com os progressos, somente no ano passado morreram 5,2 milhões de crianças com menos de cinco anos. Pelo menos 1 milhão de jovens perderam a vida pelas mesmas razões.
As estatísticas apontam ainda a morte de um recém-nascido a cada 13 segundos e de 33 mulheres a cada hora durante o parto.
Em 2019, 33 mil meninas por dia foram forçadas a casar, normalmente com homens muito mais velhos.
As taxas de mortalidade materna, neonatal, infantil e juvenil foram substancialmente mais elevadas em países cronicamente afectados por conflitos.