Unesco alerta para aumento de ataques a jornalistas que cobrem protestos
Em 2015, policiais e forças de segurança impediram o trabalho de muitos profissionais durante manifestações populares em todo o mundo; no ano passado, houve 32 incidentes entre polícia e jornalistas; em nota separada, secretário-geral afirmou estar “horrorizado” com aumento e frequência de violência a jornalistas.
No primeiro semestre deste ano, houve um aumento acentuado do número de violações de liberdade de imprensa cometidas por forças policiais e de segurança durante protestos de rua.
Os dados estão num novo relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco. Ao todo, foram 21 protestos pelo globo que registraram violações incluindo agressões, prisões e até mortes de jornalistas.
Secretário-geral
Em nota separada, no fim de semana, o secretário-geral, António Guterres, disse estar “horrorizado com o número contínuo e crescente de ataques a jornalistas e trabalhadores da mídia em todo o mundo.”
Ele citou o assassinato do jornalista mexicano, Julio Valdivia Rodríguez, que foi decapitado no estado de Veracruz, no norte do México. Guterres afirmou que a morte “é mais um exemplo das condições perigosas e difíceis em que muitos jornalistas trabalham em todo o mundo.”
O chefe da ONU pediu às autoridades que investiguem todos os crimes, de forma exaustiva, e leve os responsáveis à justiça. Para ele, “uma imprensa livre é essencial para a paz, a justiça, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.” Para Guterres, quando a mídia é atacada toda a sociedade sofre.
Conclusões
O novo relatório da Unesco destaca uma tendência de aumento no uso de força ilegal por forças policiais e de segurança nos últimos cinco anos.
Em 2015, jornalistas que cobriam 15 protestos em todo o mundo foram impedidos de atuar por essas forças. No ano passado, esse número mais que dobrou para 32.
A agência afirma que “um novo limite preocupante foi ultrapassado, revelando uma ameaça crescente e significativa à liberdade da mídia e de acesso à informação em todas as regiões do mundo.”
Nos últimos cinco anos, 10 jornalistas também foram assassinados durante a cobertura de protestos. Em algumas manifestações ocorreram até 500 violações separadas.
Em alguns casos, inclusive durante protestos ligados ao movimento Vidas Negras Importam, a violência resultou em ferimentos permanentes, com vários jornalistas ficando cegos depois de serem atingidos por balas de borracha ou de spray de pimenta.
Trabalho
No lançamento do relatório, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, afirmou que “os jornalistas têm um papel crítico em reportar e informar ao público sobre estes movimentos.”
Ela destacou o trabalho da agência aumentado a conscientização global sobre o tema e o treinamento de forças de segurança e do Judiciário em normas internacionais de liberdade de expressão.
Apesar disso, ela afirmou que “os números do relatório mostram que são necessários esforços muito maiores.”
Motivações
Segundo a pesquisa, durante os últimos cinco anos as causas dos protestos foram injustiça econômica, corrupção governamental, declínio das liberdades políticas e crescente autoritarismo.
O relatório detalha diferentes abusos, incluindo vigilância, assédio, intimidação, espancamento, tiro com munição letal ou não letal, detenção, sequestro e destruição deliberada de equipamento.
Também inclui uma série de recomendações, que inclui treinamento para policiais e jornalistas, incluindo freelancers, nomeação de provedores de justiça para esta área e fortalecimento dos mecanismos nacionais de segurança