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Covid-19 pode reverter décadas de progresso sobre mortes infantis evitáveis BR

Recem-nascidos, como este bebê em Marrocos, estão entre os mais vulneráveis
Unicef/Noorani
Recem-nascidos, como este bebê em Marrocos, estão entre os mais vulneráveis

Covid-19 pode reverter décadas de progresso sobre mortes infantis evitáveis

Saúde

Novo relatório mostra que número de óbitos de menores de cinco anos caiu de 12,5 milhões em 1990 para 5,2 milhões no ano passado; suspensões em serviços de saúde devido à pandemia é fator de risco; 68% dos países tiveram, pelo menos, uma interrupção nos exames de saúde e nos serviços de imunização.

 Interrupções nos serviços de saúde materno-infantil devido à pandemia da Covid-19 estão colocando em risco a vida de milhões de crianças. O número de mortes de menores de cinco anos atingiu o ponto mais baixo no ano passado.

A conclusão foi divulgada, esta quarta-feira, num relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, da Organização Mundial da Saúde, OMS, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU e do Grupo do Banco Mundial.

Mãe com seu filho em Gujarat, na Índia. Países fizeram grandes progressos.
Mãe com seu filho em Gujarat, na Índia. Países fizeram grandes progressos, Unicef/Vinay Panjwani

Crise

O número global de mortes de menores de cinco anos caiu para 5,2 milhões no ano passado. Em 1990, eram 12,5 milhões. 

Desde o início da pandemia, pesquisas do Unicef e da OMS mostram grandes interrupções nos serviços de saúde que ameaçam desfazer décadas de progresso duramente conquistado.

Em comunicado, a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, disse que “a comunidade global foi longe demais para permitir agora que a pandemia interrompa esse progresso.”

Segundo ela, “sem investimentos urgentes para reiniciar sistemas e serviços de saúde interrompidos, milhões de crianças menores de cinco anos, especialmente recém-nascidos, podem morrer.”

Progresso

Nos últimos 30 anos, os serviços de saúde para prevenir ou tratar as causas da morte infantil permitiram salvar milhões de vidas. Prematuridade, baixo peso, complicações durante o parto, sepse neonatal, pneumonia, diarreia e malária foram alguns dos maiores obstáculos. 

Agora, países em todo o mundo têm interrupções nos serviços de saúde infantil e materna. Serviços como exames, vacinações e cuidados pré-natais e pós-natais não estão acontecendo devido à falta de recursos ou receio de usar de serviços de saúde durante a pandemia.

Quase 68% dos países tiveram, pelo menos, uma interrupção nos exames de saúde para crianças e nos serviços de imunização

Uma pesquisa do Unicef, realizada durante o verão em 77 Estados-membros, mostrou que quase 68% dos países tiveram, pelo menos, uma interrupção nos exames de saúde para crianças e nos serviços de imunização.
Além disso, 63% dos países relataram interrupções nos exames pré-natais e 59% nos cuidados pós-natais.

Outra pesquisa, feita pela OMS em 105 países, concluiu que 52% dos Estados-membros tiveram interrupções nos serviços para crianças doentes e 51% nos serviços de tratamento da desnutrição.

Importância

Intervenções como essas são críticas para impedir mortes de recém-nascidos e crianças.

Por exemplo, as mulheres que recebem cuidados por parteiras profissionais treinadas de acordo com os padrões internacionais têm 16% menos probabilidade de perder seu bebê e 24% menos probabilidade de ter parto prematuro.

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, "o fato de mais crianças viverem seu primeiro aniversário do que em qualquer outro momento da história é uma verdadeira marca do que pode ser alcançado.”

Ele disse que, agora, “não se deve permitir que a pandemia retroceda um progresso notável para gerações futuras.”

Bebê de um ano, no Uganda, sendo atendido por pessoal hospitalar
Bebê de um ano, no Uganda, sendo atendido por pessoal hospitalar, by Unicef/Francis Emorut

Em vez disso, é preciso continuar investindo para construir sistemas de saúde mais fortes e resilientes.

Motivos

Entre os principais motivos para as interrupções, estão pais evitando centros de saúde por medo de infecção, restrições de transporte, suspensão ou encerramento de serviços e instalações, falta de profissionais e maiores dificuldades financeiras.

Afeganistão, Bolívia, Camarões, República Centro-Africana, Líbia, Madagascar, Paquistão, Sudão e Iêmen estão entre os países mais atingidos.

Sete desses nove países tiveram altas taxas de mortalidade infantil, de mais de 50 mortes por mil nascimentos entre crianças menores de cinco anos. No Afeganistão, 1 em 17 crianças morre antes de completar cinco anos. 
Mesmo antes da Covid-19, os recém-nascidos já apresentavam maior risco de morte.

Em 2019, um bebê recém-nascido morria a cada 13 segundos. Além disso, 47% de todas as mortes de menores de cinco anos ocorreram no período neonatal.