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Mudança climática pode levar mundo ao um dos quinquênios mais quentes BR

Incêndio na Floresta Nacional de Klamath, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Unsplash/Matt Howard
Incêndio na Floresta Nacional de Klamath, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Mudança climática pode levar mundo ao um dos quinquênios mais quentes

Clima e Meio Ambiente

Mudança climática pode levar mundo ao um dos quinquênios mais quentes; estudo apoiado pela ONU alerta sobre possível falha de metas para manter aumento da temperatura global bem abaixo de 2 ° C; emissões de CO2 cairão entre 4% e 7% após políticas de confinamento; Covid-19 impede monitoria das mudanças.

Um estudo publicado esta quarta-feira pelas Nações Unidas diz que o ritmo da mudança climática não parou devido à Covid-19. O novo relatório United in Science 2020, compila dados de diversas agências científicas e é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM.

O relatório destaca que as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes e continuam aumentando. 

Peixes nas Ilhas Salomão, um dos locais mais afetados pela mudanças climática
Peixes nas Ilhas Salomão, um dos locais mais afetados pela mudanças climática. Foto: Banco de Imagens Coral Reef/Tracey Jen

Bloqueios

As emissões de gás carbônico caminham em direção a níveis pré-pandêmicos, após um declínio temporário causado pelo bloqueio e pela desaceleração econômica. 

A previsão é que no período entre 2016 e 2020, o mundo venha a ter um dos quinquênios mais quentes já registrados. Essa tendência provavelmente continuará.

De acordo com a publicação, a esse ritmo não se está no caminho de cumprir as metas acordadas pelos países para manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2 ° C ou a 1.5 ° C acima do nível pré-industrial.

Em Nova Iorque, o secretário-geral Antonio Guterres realçou o recorde dos cinco anos desde a assinatura do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas como o mais quente da história humana. As temperaturas globais médias estarão 1.1 ° C acima dos níveis pré-industriais.

Seis ações

Por isso, o chefe da ONU realçou seis ações relacionadas ao clima para “moldar a recuperação”, começando pela geração de novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde.

Em segundo lugar, Guterres sugeriu que o dinheiro dos contribuintes deve ser usado para resgatar empresas estando associado a empregos verdes e ao crescimento sustentável.

Em terceiro, ele pediu que se potencialize a tributação que leve a uma mudança da economia cinza para verde e para tornar as sociedades e as pessoas mais resilientes.

Como quatro ponto, o secretário-geral pediu o uso de fundos públicos para investir no futuro e ir para setores e projetos sustentáveis que ajudem o meio ambiente e o clima.

Em quinto, Guterres apontou que riscos e oportunidades climáticos sejam incorporados ao sistema financeiro, bem como a todos os aspectos da formulação de políticas públicas e infraestrutura.

Por último, o chefe da ONU disse que é preciso que a comunidade internacional atue em conjunto.

O chefe da ONU afirmou ainda que a organização tem orgulho de se juntar à Hora do Planeta
NASA
O chefe da ONU afirmou ainda que a organização tem orgulho de se juntar à Hora do Planeta

Impactos 

O documento destaca haver “impactos crescentes e irreversíveis das mudanças climáticas, afetando geleiras, oceanos, natureza, economias e condições de vida humana”. Entre esses efeitos estão perigos frequentemente relacionados à água, como secas ou inundações. 

Ciclones 

O estudo cita Moçambique pela passagem dos ciclones tropicais Idai e Kenneth causando centenas de mortes em março e abril de 2019. 

Desde 2016, as secas têm causado grandes impactos, tanto na sociedade quanto na economia, em diversas partes do mundo.

A pesquisa ilustra ainda os incêndios generalizados na floresta amazônica, com impactos ambientais dramáticos em 2019 e 2020. O leste da Austrália registrou uma série de fogos.

O estudo documenta ainda como a Covid-19 tem impedido a capacidade de monitorar essas mudanças por meio do sistema de observação global.

O relatório revela que as concentrações atmosféricas de CO2 não mostraram sinais de pico e continuaram aumentando para novos recordes. Várias estações de referência na rede global da OMM relataram concentrações acima de 410 partes por milhão no primeiro semestre de 2020.

A previsão é que as reduções nas emissões de gás carbônico este ano impactem apenas ligeiramente a taxa de aumento das concentrações atmosféricas, que são o resultado de emissões passadas e atuais, bem como a vida útil muito longa do CO2.

Equipe das Nações Unidas na Beira ajuda a organizar preposicionameto de estoque humanitário
PMA
Equipe das Nações Unidas na Beira ajuda a organizar preposicionameto de estoque humanitário

CO2

De acordo com o documento, são necessárias reduções sustentadas nas emissões para zero líquido para estabilizar as mudanças climáticas. 

As emissões de CO2 este ano cairão cerca de 4% a 7% devido às políticas de confinamento da Covid-19. A trajetória da pandemia e as respostas dos governos para enfrentá-la ainda definiram o valor exato da queda.

Durante o pico do bloqueio, no início de abril passado, as emissões globais diárias de CO2 fóssil caíram 17%, um nível sem precedentes em comparação com 2019. 

Apesar disso, o relatório ressalta que as emissões ainda correspondiam aos níveis de 2006. Essa situação ilustra tanto o crescimento acentuado nos últimos 15 anos quanto a dependência contínua de fontes fósseis de energia.

Mundo pode ter os cinco anos mais quentes já registrados

Negociações

No início de junho deste ano, as emissões globais diárias de CO2 fóssil haviam retornado para 5% abaixo dos níveis de 2019, que alcançaram o novo recorde de 36,7 giga toneladas no ano passado. Esse valor corresponde a mais 62% do que no início das negociações sobre mudanças climáticas em 1990.

Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, 2020 tem sido um ano sem precedentes para as pessoas e o planeta. A pandemia interrompeu vidas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, “o aquecimento do nosso planeta e as perturbações climáticas têm continuado a bom ritmo”.

O chefe da ONU realça que nunca esteve tão clara a necessidade “de transições limpas, inclusivas e de longo prazo para enfrentar a crise climática e alcançar o desenvolvimento sustentável”. 

Para ele, é preciso “transformar a recuperação da pandemia em uma oportunidade real para construir um futuro melhor.” O representante destacou ainda que o mundo precisa de “ciência, solidariedade e soluções” ao apresentar o documento.

Calor

O secretário-geral da OMM, Peeteri Taalas, alertou para o contínuo aumento das concentrações de gases de efeito estufa que já estão em seus níveis mais altos em 3 milhões de anos. 

Ele disse que enquanto isso, grandes áreas da Sibéria viram uma onda de calor prolongada e notável durante o primeiro semestre de 2020, “o que teria sido muito improvável sem a mudança climática antropogênica”. 

Com 2016-2020 a caminho de ser o período de cinco anos mais quente já registrado, o relatório mostra que embora muitos aspectos da vida humana tenham sido perturbados este ano, a mudança climática continuou inabalável.