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Covid-19 deve piorar acesso de crianças refugiadas ao ensino e à educação  BR

Shefuka, de 9 anos, estuda em assentamento de refugiados em Cox's Bazar.
Unicef/UNI340770/
Shefuka, de 9 anos, estuda em assentamento de refugiados em Cox's Bazar.

Covid-19 deve piorar acesso de crianças refugiadas ao ensino e à educação 

Migrantes e refugiados

Antes da pandemia, metade delas não frequentava a escola; Agência da ONU para Refugiados, Acnur, alerta para “efeitos catastróficos” da pandemia no setor; riscos são maiores para meninas; estima-se que metade das alunas do ensino a secundário não retornarão ao colégio mesmo após reabertura. 

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, pediu esta quinta-feira “ação imediata e ousada” da comunidade internacional para combater os “efeitos catastróficos” da Covid-19 sobre a educação de refugiados.  

Em um novo relatório, "Unindo-se pela Educação dos Refugiados", a agência afirma que o potencial de milhões de jovens de algumas das comunidades mais vulneráveis do mundo está ainda mais ameaçado.   

85% dos refugiados vivem em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos, como estes meninos do Assentamento de Tierkidi, na Etiópia
85% dos refugiados vivem em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos, como estes meninos do Assentamento de Tierkidi, na Etiópia, Foto: UnicefEtiópia/2018/Mersha

Pandemia  

Embora alunos em todos os países tenham sofrido com o a crise, a pesquisa conclui que as crianças refugiadas foram mais afetadas.  

Antes da pandemia, uma criança refugiada tinha duas vezes mais probabilidade de estar fora da escola que uma não-refugiada. Agora, a situação deve piorar.  

Segundo o relatório, muitos podem não ter oportunidade de retomar os estudos por falta de recursos para pagar mensalidades, uniformes ou livros, falta de acesso a tecnologias ou porque são obrigados a trabalhar para sustentar suas famílias.   

Em comunicado, o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, contou que “metade das crianças refugiadas do mundo já estava fora da escola.”  

Grandi diz que depois de tudo, o mundo “não pode roubar seu futuro negando-lhes educação.”  

Ganhos  

A agência realça aumentos constantes no número de matrículas em escolas, universidades e educação técnica e profissional.  

Segundo o alto comissário, apesar dos enormes desafios, com maior apoio internacional é possível proteger estes ganhos.  

Se isso não acontecer, O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, sobre educação de qualidade, pode estar em risco.   

No relatório, o jogador de futebol e embaixador do Acnur Mohamed Salah afirma que “garantir uma educação de qualidade hoje significa menos pobreza e sofrimento amanhã.”  

Salah disse que gerações de crianças, milhões delas em algumas das regiões mais pobres do mundo, podem ter um futuro sombrio.  

Lembre a mensagem do secretário-geral, António Guterres, sobre o impato da pandemia nos refugiados:

Refugiados e migrantes enfrentam “três crises de uma só vez”, alerta secretário geral da ONU

Risco  

Os dados do relatório são de 2019 e foram recolhidos em 12 países com mais da metade das crianças refugiadas do mundo. Embora haja 77% de matrículas na escola primária, apenas 31% dos jovens frequentam o ensino secundário. Já no superior, a porcentagem é de apenas 3%.  

Apesar dos valores baixos, essas estatísticas representam um progresso. As matrículas no ensino médio, por exemplo, aumentaram 2% no ano passado. 

A pandemia, no entanto, está ameaçando estes avanços. Para as meninas, o risco é ainda maior. No nível médio, as meninas têm metade da probabilidade de estar matriculadas na escola do que os meninos.  

Com base nos dados do Acnur, o Fundo de Malala estimou que, como resultado da Covid-19, metade de todas as meninas na escola secundária não retornará quando as escolas reabrirem. Em países onde a taxa de matrícula já era inferior a 10%, elas correm risco de não voltar aos bancos escolares.  

Refugiada do Congo, Henriette Kiwele Kiyambi vive em um assentamento do Mali, onde beneficia de um apoio do Acnur para sua educação
Refugiada do Congo, Henriette Kiwele Kiyambi vive em um assentamento do Mali, onde beneficia de um apoio do Acnur para sua educação, by Acnur/Tina Ghelli

Para Filippo Grandi, “os benefícios econômicos para as meninas refugiadas, suas famílias e suas comunidades de educação são óbvios, além de serem um direito humano.”  

Resposta  

Para os 85% dos refugiados do mundo que vivem em países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos, adaptar-se às limitações da pandemia tem sido especialmente difícil. Telefones celulares, tablets, laptops, rede de internet e até aparelhos de rádio muitas vezes não estão disponíveis.  

O relatório mostra como o Acnur, famílias, comunidades e governos estão trabalhando para resolver estes desafios.  

No Equador e no Irã, por exemplo, os governos aprovaram leis concedendo o direito das crianças refugiadas a frequentar escolas públicas. São ainda destacados exemplos de inovação digital no Egito e Jordânia.  

Mais da metade dos refugiados do mundo vivem em ambientes urbanos, por isso a pesquisa partilha ainda o depoimento do prefeito de Coventry, no Reino Unido, explicando como a cidade lida com o assunto.   

Por fim, a pesquisa destaca ainda ataques a escolas, dizendo que “são uma realidade sombria e crescente.”  

O relatório realça a região do Sahel, na África, onde a violência forçou o fechamento de mais de 2,5 mil escolas, afetando a educação de 350 mil alunos.