Perspectiva Global Reportagens Humanas

Fome severa e desnutrição ameaçam milhares de refugiados no leste da África BR

PMA pede que sejam preservados os ganhos alcançados nos últimos anos.
PMA/Gabriela Vivacqua
PMA pede que sejam preservados os ganhos alcançados nos últimos anos.

Fome severa e desnutrição ameaçam milhares de refugiados no leste da África

Ajuda humanitária

Programa Alimentar Mundial precisa de mais de US$ 300 milhões para apoiar resposta; agência da ONU alerta para mais cortes após impactos da Covid-19 terem levado a reduzir cerca de um terço da assistência ao grupo.

Milhares de refugiados que dependem da assistência do Programa Alimentar Mundial, PMA, para sobreviver correm risco de enfrentar fome severa e mal nutrição na África Oriental. 

A agência alertou que o impacto da Covid-19 na região levou os doadores a reduzirem os financiamentos básicos, o que obrigou a cortar as transferências em comida e dinheiro em cerca de 30%.

Cortes

Agência da ONU receia que cortes provoquem onda de deslocamento.
Agência da ONU receia que cortes provoquem onda de deslocamento., by PMA/Gabriela Vivacqua

O PMA apoia mais de 2,7 milhões de refugiados em países como Etiópia, Uganda, Quênia, Sudão do Sul e Djibuti. Mais cortes são esperados nos próximos meses se não forem conseguidos financiamentos adicionais a tempo.

A agência precisa de US$ 323 milhões para assistir os refugiados na região nos próximos seis meses. Dada a gravidade da situação, foi lançado um apelo a doadores tradicionais e instituições financeiras internacionais a redobrarem os esforços para apoiar os refugiados.

Em nota, o diretor regional do PMA a África Oriental, Michael Dunford, disse que “os refugiados são particularmente vulneráveis à propagação da Covid-19 porque vivem em acampamentos superlotadas com abrigo fraco ou inadequado, serviços de saúde, e acesso a água potável e saneamento.”

Riscos

Mulheres carregam ajuda humanitária do PMA em Thaker, no Sudão do Sul
Mulheres carregam ajuda humanitária do PMA em Thaker, no Sudão do Sul, by PMA/Gabriela Vivacqua

Além dos impactos socioeconômicos da crise, a nota revela que os refugiados são também afetados pela própria doença. Mulheres, crianças e idosos mais vulneráveis podem ficar desnutridos e essa condição pode impactar o seu sistema imunológico, aumentando os riscos de infeção pela doença.

O receio da agência da ONU é que um prolongado encerramento das escolas conduza a situações de gravidez ou casamento precoces, abuso sexual e violência doméstica. 

Para evitar problemas como o trabalho infantil e o abandono escolar, a agência pede que sejam preservados os ganhos alcançados nos últimos anos na melhoria do acesso ao ensino de qualidade nos acampamentos.

Dunford acrescentou que com a Covid-19 ainda por chegar ao pico na África Oriental, não se pode dar costas às pessoas obrigadas a fugir e que estão isoladas em acampamentos distantes. 

Propagação

O representante explicou que “muitas delas já perderam as poucas oportunidades de ganhar dinheiro devido a desaceleração económica causada pelas restrições da Covid-19.”

Refugiados da Somália no campo de refugiados de Burumino na Etiópia
Refugiados da Somália no campo de refugiados de Burumino na Etiópia , by Unicef/Jiro Ose

De acordo com o PMA, o encerramento das escolas em acampamentos de refugiados como parte das restrições impostas pela Covid-19, deixou as crianças sem refeições escolares na Etiópia, Quénia, Sudão do Sul, Uganda e Ruanda. Somente em território ruandês foi possível fornecer rações às crianças para ajudá-las a estudarem em casa, mantendo-se nutridas. 

O desespero em satisfazer as suas necessidades básicas tal como a corte das rações pode provocar uma onda de deslocamento nos países anfitriões ou além-fronteiras. O PMA alerta ainda para o potencial da propagação do vírus com essa possibilidade.

Fronteiras

A agência elogia os governos da região pelo contínuo acolhimento dos refugiados, integração nos sistemas e serviços nacionais e abertura das fronteiras. 

Mas lembra à comunidade internacional da responsabilidade de cobrir as necessidades humanitárias imediatas com destaque para o apoio com comida e dinheiro.
 

O PMA faz a distribuição de alimentos após desastres naturais ou em crises humanitárias
PMA/Gabriela Vivacqua
O PMA faz a distribuição de alimentos após desastres naturais ou em crises humanitárias