Fome severa e desnutrição ameaçam milhares de refugiados no leste da África
Programa Alimentar Mundial precisa de mais de US$ 300 milhões para apoiar resposta; agência da ONU alerta para mais cortes após impactos da Covid-19 terem levado a reduzir cerca de um terço da assistência ao grupo.
Milhares de refugiados que dependem da assistência do Programa Alimentar Mundial, PMA, para sobreviver correm risco de enfrentar fome severa e mal nutrição na África Oriental.
A agência alertou que o impacto da Covid-19 na região levou os doadores a reduzirem os financiamentos básicos, o que obrigou a cortar as transferências em comida e dinheiro em cerca de 30%.
Cortes
O PMA apoia mais de 2,7 milhões de refugiados em países como Etiópia, Uganda, Quênia, Sudão do Sul e Djibuti. Mais cortes são esperados nos próximos meses se não forem conseguidos financiamentos adicionais a tempo.
A agência precisa de US$ 323 milhões para assistir os refugiados na região nos próximos seis meses. Dada a gravidade da situação, foi lançado um apelo a doadores tradicionais e instituições financeiras internacionais a redobrarem os esforços para apoiar os refugiados.
Em nota, o diretor regional do PMA a África Oriental, Michael Dunford, disse que “os refugiados são particularmente vulneráveis à propagação da Covid-19 porque vivem em acampamentos superlotadas com abrigo fraco ou inadequado, serviços de saúde, e acesso a água potável e saneamento.”
Riscos
Além dos impactos socioeconômicos da crise, a nota revela que os refugiados são também afetados pela própria doença. Mulheres, crianças e idosos mais vulneráveis podem ficar desnutridos e essa condição pode impactar o seu sistema imunológico, aumentando os riscos de infeção pela doença.
O receio da agência da ONU é que um prolongado encerramento das escolas conduza a situações de gravidez ou casamento precoces, abuso sexual e violência doméstica.
Para evitar problemas como o trabalho infantil e o abandono escolar, a agência pede que sejam preservados os ganhos alcançados nos últimos anos na melhoria do acesso ao ensino de qualidade nos acampamentos.
Dunford acrescentou que com a Covid-19 ainda por chegar ao pico na África Oriental, não se pode dar costas às pessoas obrigadas a fugir e que estão isoladas em acampamentos distantes.
Propagação
O representante explicou que “muitas delas já perderam as poucas oportunidades de ganhar dinheiro devido a desaceleração económica causada pelas restrições da Covid-19.”
De acordo com o PMA, o encerramento das escolas em acampamentos de refugiados como parte das restrições impostas pela Covid-19, deixou as crianças sem refeições escolares na Etiópia, Quénia, Sudão do Sul, Uganda e Ruanda. Somente em território ruandês foi possível fornecer rações às crianças para ajudá-las a estudarem em casa, mantendo-se nutridas.
O desespero em satisfazer as suas necessidades básicas tal como a corte das rações pode provocar uma onda de deslocamento nos países anfitriões ou além-fronteiras. O PMA alerta ainda para o potencial da propagação do vírus com essa possibilidade.
Fronteiras
A agência elogia os governos da região pelo contínuo acolhimento dos refugiados, integração nos sistemas e serviços nacionais e abertura das fronteiras.
Mas lembra à comunidade internacional da responsabilidade de cobrir as necessidades humanitárias imediatas com destaque para o apoio com comida e dinheiro.