Angola avança em imunização contra poliomielite mesmo com barreiras da Covid-19
Até o fim deste mês, a Organização Mundial da Saúde em África deve certificar a erradicação do poliovírus selvagem na região africana. Em Angola, a campanha de imunização segue apesar das barreiras impostas pelas medidas de combate ao novo coronavírus. Um dos maiores amigos da iniciativa é o músico Pedrito Bié, que assina a canção que está a mover a campanha “Estrelinha é Kuia" que significa “estrelinha é coisa boa”.
As autoridades contam que mais de 1 milhão de crianças foram alcançadas pela iniciativa em andamento em mais de 30 municípios. Em Luanda, a capital e maior cidade do país, a imunização foi adiada para dar maior atenção à vigilância contra a pandemia.
Esforços

Falando em nome do governo angolano, a epidemiologista Alda de Sousa da Direção Nacional da Saúde Pública, diz que participa nesses esforços há 30 anos e durante esse tempo nenhum desafio foi comparado ao atual.
“Nós já começamos a relançar estratégias inovadoras, no sentido de o mais rapidamente possível, nós passarmos com a circulação do vírus da pólio. Mesmo no contexto da epidemia de Covid-19 recentemente, nos acabamos de realizar uma campanha de imunização na região sul, e tempos em carteira ainda outras rondas subsequentes como o reforço da vigilância epidemiológica.”
A voz do pequeno Pedrito Bié vem inspirando, com sua canção, a atuação de 4,3 mil mobilizadores sociais empenhados em vacinar crianças entre zero e 59 meses das províncias de Huíla, Huambo, Cunene, Namibe, Cuando Cubango.
A circulação comunitária da Covid-19 tem desafiado a ação desses heróis no terreno, mas a vacinação foi concluída em 91% dos menores visados. Com apoio da ONU, mais de 3 milhões de pais e milhares de líderes locais foram alcançados.
Vacinadores
Volol Belalahy lidera o Programa Comunicação para Desenvolvimento do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. Ela contou à ONU News como as visitas de casa em casa são feitas pelos vacinadores contra a poliomielite.
A especialista destaca que é preciso realizar a mobilização social, aumentar a consciência dos mais velhos sobre a vacina e informar à população sobre a campanha. O Unicef apoia a componente de mobilização social das campanhas de vacinação contra a poliomielite por meio dos milhares destes mobilizadores sociais e do engajamento com os líderes comunitários, como religiosos e autoridades locais, para que promovam a vacina em suas respetivas comunidades.
O esforço coordenado entre agências da ONU e as autoridades angolanas pretende garantir que nenhuma criança no país e no continente volte a ficar paralisada pelas variantes de pólio vírus: a selvagem ou derivada de vacina.
A epidemiologista Alda de Sousa explica que episódios recentes chamaram a atenção para apertar as medidas de prevenção.
“Atualmente temos grandes desafios com o registo de vários casos de vacina circulante que Angola tem vivido deste o ano 2019. O grande desafio é pararmos com o vírus da pólio num contexto que não é muito fácil. Nós já começamos a relançar iniciativa.”
Mobilizadores
Em parceria com o governo de Angola, o Unicef garante que mobilizadores sociais adotem práticas de higiene nas visitas: lavam as mãos, mantêm o mínimo de distância entre as pessoas, fornecem água e sabão aos trabalhadores da linha de frente como vacinadores e mobilizadores.
Essa atitude junta-se os esforços para melhorar o acesso à água. A aposta é prevenir não só que se espalhe a Covid-19, mas também que se disseminem a cólera, as diarreias e a própria poliomielite, que é transmitida ainda de forma fecal-oral.
O tamanho de cada equipe no terreno foi cortado à metade: somente uma pessoa exerce tarefas de mobilizador social e vacinador durante a imunização oral contra a poliomielite em tempo da Covid-19.

Volol disse que o trabalho humanitário está ficando cada vez mais complexo no contexto da pandemia. Ela destaca que “na verdade, se estão enfrentando vários desafios e um deles é a barreira operacional com as restrições de movimento que limitam a capacidade de chegar e alcançar cada criança com as intervenções da agência.”
Vacina
Os trabalhadores de campo não devem ser contaminados nas comunidades que atendem e a circulação de rumores que podem levar a rejeitar a aplicação da vacina.
Mesmo atuando com menos trabalhadores no campo, continuar a ação em Angola poderá ajudar a realizar a certificação africana em agosto. A acontecer, o continente será a quinta das seis regiões da OMS a ser declarada livre da pólio selvagem.
A região africana terá ainda que lidar com a questão dos surtos de pólio derivados de vacinas, ainda em circulação, para que a doença deixe de ser considerada uma emergência de saúde pública de preocupação internacional.
Essas cepas são raras e podem surgir em áreas marcadas pela baixa imunidade populacional também paralisa crianças e são alvos da ação das entidades da ONU e parceiros ao lado de governos africanos nos esforços para impedir sua circulação.
Livres da pólio
Países como Camarões, República Centro-Africana, Nigéria e Sudão do Sul já cumpriram os requisitos que permitirão que sejam declarados livres da pólio selvagem.
A Nigéria, o último país endêmico desta cepa de poliovírus, não registrou novos casos por três anos e esse fato aproxima o continente do novo marco de combate à doença.
