Plano de ação resgata quase 4 mil crianças de grupos armados na Nigéria BR

Muitas foram alistadas por causa do envolvimento dos pais com militantes; movimento islâmico Boko Haram utiliza menores para atentados a bomba e escravidão sexual; expansão de atividades do grupo no Lago Chade preocupa secretário-geral António Guterres.
As crianças continuam a ser vítimas da violência do grupo terrorista Boko Haram e das operações militares das forças governamentais do país africano, apesar dos notáveis esforços e compromissos.
A informação consta do Segundo Relatório-País do Secretário Geral das Nações Unidas sobre Crianças e Conflito Armado.
O documento analisou 5.741 violações graves contra menores entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019 na Nigéria, nos Camarões, no Chade e no Níger.
Um total de 1.433 rapazes e meninas foram mortos ou mutilados, a maioria em ataques suicidas perpetrados pelo Boko Haram. Há relato de 64 incidentes de violência sexual afetando 204 crianças, 35 ataques a escolas e hospitais e 413 sequestros.
Em nota à imprensa, a representante especial do secretário-geral da ONU para Crianças e Conflitos Armados, Virgínia Gamba, expressou a preocupação de António Guterres com a expansão das atividades do grupo através da Região da Bacia do Lago Chade, e defendeu a ideia de uma reposta regional africana a esta situação.
Das 3.601 ocorrências de recrutamento ou rapto verificados, o Boko Haram é acusado de praticar 1.385. As crianças são posteriormente usadas como escravas sexuais ou colaboradores em ações de guerra, incluindo transportadoras de explosivos improvisados, conhecidas como “bombas humanas”.
A Força Tarefa Conjunta Civil foi responsável por mais de 2 mil casos antes de setembro de 2017, altura em que assinou com as Nações Unidas um Plano de Ação para pôr cobro e prevenir a situação, permitindo à ONU aceder às casernas militares para verificar os casos de violação.
Um total de 3.794 crianças ligadas a grupos armados beneficiaram-se de serviços médicos, apoio psicológico e cursos intensivos no âmbito dos programas de reintegração desenvolvidos pelos parceiros de implementação do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.
Gerar programas adequados e sustentáveis é, segundo Virgínia Gamba, essencial para garantir que as crianças se beneficiem de apoio necessário para reconstruírem suas vidas, voltarem à suas famílias e comunidades, instando os doadores a aumentarem o apoio financeiro aos programas, e às autoridades nigerianas a reforçarem os engajamentos de libertar as crianças e assinar o Princípio de Paris”.
A representante do secretário-geral elogiou o trabalho de proteção das crianças e os parceiros humanitários no terreno, apelou as partes a respeitarem o pessoal do ensino e da saúde, permitindo o acesso seguro e sem impedimento dos atores humanitários às populações afetadas.
Ela renovou o empenho das Nações Unidas em continuar a apoiar o governo da Nigéria e parceiros internacionais a superarem os desafios de melhoria da proteção das crianças nos conflitos armados e encorajou a Comissão a implementar na íntegra o Plano de Ação, facilitando a desvinculação de todas as crianças dos grupos armados.
As atividades humanitárias permanecem temporariamente suspensas devido à recusa de acesso humanitário a milhares de crianças, lê-se no documento que destaca o rapto e recente execução de trabalhadores humanitários como alguns dos mais cruéis incidentes do grupo terrorista.
*Da ONU News, Amatijane Candé.