Pandemia afeta severamente nove em cada 10 trabalhadores na América Latina
Organização Internacional do Trabalho diz que crise da Covid-19 ampliou condições laborais precárias especialmente no setor informal expondo falhas de proteção social e perdas salariais que podem chegar a 80% da renda mensal.
A Organização Mundial do Trabalho, OIT, realizou um Encontro de Cúpula sobre a Covid-19 e o Mundo Laboral para discutir políticas de recuperação da pandemia.
A reunião, encerrada, na semana passada, deve gerar respostas com base em consultas com governos, empregados e empregadores. Estima-se que em todo o mundo, 400 milhões de postos de trabalho podem ser perdidos com a pandemia.
Mudanças
Nesta entrevista à ONU News, o diretor do Escritório da OIT, em Nova Iorque, Vinícius Pinheiro, disse que a crise levou a algumas mudanças técnicas, mas causou perdas ampliadas para os trabalhadores na América Latina, especialmente os que atuam no setor informal.
“A pandemia do Covid-19 serve como acelerador de tendências relacionadas ao futuro do trabalho, por exemplo como aumento do teletrabalho, com o aumento da digitalização, o aumento da importância das plataformas digitais e o incentivo da automação dos processos produtivos, mas por um lado também amplifica problemas estruturais no mercado de trabalho relacionados, fundamentalmente, com a informalidade.”
O diretor da OIT em Nova Iorque afirma que mais da metade da força de trabalho latino-americana está desempregada.
Impacto
“Na América Latina e do Caribe, 158 milhões de trabalhadores no mercado de trabalho estão em condições de informalidade, o que equivale a 54% do total da força de trabalho na região.
E 90% desses trabalhadores estão sendo severamente impactos pelos efeitos adversos gerados no emprego e na renda pela pandemia e também pelas medidas destinadas a controlar a emergência sanitária.
A crise de Covid-19 revelou, de forma dramática, os problemas sociais e informalidade na região. A crise sanitária, o distanciamento e o confinamento estão tendo um impacto, sem precedentes, em especial ao setor da economia informal e a grupos vulneráveis.”
Famílias
Vinícius Pinheiro explicou que, “em todo o mundo, a pandemia causou uma perda de 60% do salário e na América Latina, essa perda chega a 80%. Uma das caras mais nefastas dessa pandemia é justamente a desigualdade porque ela afeta de maneira desproporcional aos mais pobres, aos que não podem fazer o teletrabalho, aos que não têm condições de se isolar, de participar do confinamento, que vivem em casa com várias famílias e sem condições sanitárias adequadas.
Então, uma grande parte dos empregos em condições de informalidade estão caracterizadas pela instabilidade laboral, salário baixo e ausência de proteção social, que são condições necessárias para que se cumpra qualquer tipo de medida de confinamento.
Na OIT, se inclui uma série de recomendações associadas à proteção dos trabalhadores informais, entre elas, medidas para reduzir a exposição ao vírus. garantir o acesso à saúde, à acessibilidade e saúde no trabalho, em especial a saúde ocupacional, e garantir também renda aos trabalhadores e às suas famílias.
Esta é uma mensagem muito importante que vem da Reunião de Cúpula da OIT sobre o Covid no mundo do trabalho.”
No mês passado, o secretário-geral da ONU propôs a criação de um pacote econômico equivalente a 10% do Produto Interno Bruto, PIB, mundial para socorrer os países e a força de trabalho dos efeitos da Covid-19.
A pandemia também causou uma recessão, e segundo o Fundo Monetário Internacional, uma recuperação tímida só ocorreria a partir do próximo ano.