Comissão de Inquérito diz que “há indícios de novos crimes de guerra na Síria”
Grupo, formado por Conselho de Direitos Humanos, é presidido pelo professor brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro; ele disse à ONU News que é lamentável a falha da comunidade internacional em encontrar uma solução para o conflito, que começou em 2011.
A Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria afirmou que existem indícios de que “novos crimes de guerra estão sendo cometidos por todos os lados do conflito no país”.
Em seu mais novo relatório sobre a violência na nação árabe, o grupo citou a ofensiva militar, lançada no ano passado, em Idlib, por forças a favor do governo do presidente Bashar al-Assad. O objetivo é recuperar áreas sob controle de grupos armados.

Negociação
O presidente da Comissão Internacional, o professor Paulo Sérgio Pinheiro, falou à ONU News sobre a escalada da violência em Idlib.
“O relatório, solicitado pelo Conselho de Direitos Humanos, trata do conflito na área de Idlib, na Síria. O embate entre forças do governo e pró-governo em direção à organização terrorista HTS e outros grupos armados pela conquista do território. Ataques aéreos foram desfechados contra escolas, hospitais e residências e provocara um êxodo de 1 milhão de pessoas.
Hoje, se calcula que tenhamos 1,5 milhão na fronteira com a Turquia. E a situação é tão terrível que apesar da ameaça de ataques, a população gostaria de voltar para suas casas. No nono ano desse conflito, é lamentável que a comunidade internacional não tenha conseguido fazer a paz, uma negociação que ponha fim a todo esse terrível sofrimento para toda a população da Síria.”
Lei de guerra
A Comissão Internacional contou que o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tem espalhado terror nas áreas controladas pelo governo. Num dos relatos de sobreviventes à Comissão, um grupo de crianças foi atacado na escola enquanto estudava e famílias inteiras foram bombardeadas enquanto fugiam da violência.
Pacientes morreram em ofensivas aéreas a hospitais e outras pessoas que faziam a feira perderam a vida nos bombardeios.
Para os integrantes da Comissão, está claro que os terroristas não respeitam nenhuma lei de guerra que proíbe ataques a civis.
Cidades e vilarejos
As forças sírias, apoiadas pelos militares aliados da Rússia, realizaram ataques por terra e por ar que dizimaram a infraestrutura do país e levaram ao esvaziamento de cidades e vilarejos.
Centenas de mulheres, homens e crianças morreram nessas ações. Várias áreas protegidas pela lei internacional no noroeste do país foram destruídas nos ataques, alguns deles realizados com bombas de fragmentação.
O relatório lista eventos ocorridos de novembro de 2019 a junho deste ano. Ao todo, foram documentadas 52 ofensivas de todas as partes incluindo 17 ataques a hospitais e outras instalações de saúde. Foram alvejados ainda nove feiras e mercados, 12 lares e 14 escolas.
O documento sugere que, se provados em tribunal, esses atos podem representar crimes de guerra. Os civis sírios não tiveram outra escolha a não ser fugir. De acordo com os especialistas da Comissão, as ofensivas podem ser consideradas ainda crimes contra a humanidade como atos desumanos, assassinatos e transferência forçada de pessoas.

Jornalistas
Um dos crimes cometidos pelos terroristas do HTS foram detenção e tortura de opositores e pessoas com opiniões distintas à do grupo incluindo jornalistas. Mulheres jornalistas foram impedidas de se movimentar livremente por causa da discriminação a mulheres e meninas.
A única mulher a integrar a Comissão, Karen AbuZayd disse que as violações dos direitos humanos são ultrajantes e que a população está desassistida. O outro membro da Comissão, Hanny Megally, contou que quase 1 milhão de pessoas obrigadas a fugirem de suas casas por causa da violência correm o risco agora de contrair a Covid-19.

Prestação de Contas
Ele pediu o fim de todos os ataques e um cessar-fogo imediato. Megally contou que mais do que nunca, os civis precisam de acesso à assistência humanitária que jamais pode ser objeto de políticas.
O especialista disse que os países-membros devem buscar a prestação de contas para os crimes listados no relatório.
O documento deve ser levado ao Conselho de Segurança na próxima terça-feira no Conselho de Direitos Humanos.