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Traficantes de artefatos culturais africanos usam certificados falsos da Unesco BR

Diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que todos puderam ver a forma sem precedentes da relevância do jornalismo
Foto: ONU/Manuel Elias
Diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que todos puderam ver a forma sem precedentes da relevância do jornalismo

Traficantes de artefatos culturais africanos usam certificados falsos da Unesco

Cultura e educação

Agência revela que autores da fraude determinam valor monetário com identificação, logotipo ou nomes de funcionários da agência; nota realça que Unesco nunca emite certificados ou autorizações para comércio de bens culturais.

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, pede “vigilância máxima” depois de receber vários relatos de fraude e tráfico ilícito de bens culturais africanos com apresentação de documentos falsos.

Os criminosos alegam que a agência da ONU estaria autorizando esse tipo comércio e até certificando o valor monetário das coleções. De acordo com a Unesco, os documentos falsos levam, fraudulentamente, seu nome e logotipo. Os criminosos têm a ousadia de usar cartões de visita falsificados e nomes de funcionários da agência.

Fraude

A  Unesco revela que a maioria das vítimas desse tipo de fraude vive na França. Muitas são associadas a países africanos de língua francesa.

Sede da Unesco, em Paris
Sede da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, em Paris., by Unesco

A diretora-geral da agência, Audrey Azoulay, disse que mais de € 1 milhão de euros em mercadorias foram roubados até o momento. Ela descreve o roubo de bens culturais como um “flagelo global lucrativo”, que na maioria dos casos está ligado a outras formas de crime organizado incluindo o terrorismo.

No ano que marca o cinquentenário da adoção da Convenção contra Tráfico Ilícito de bens culturais, a Unesco lembra que este tipo de comércio fraudulento também cresce na internet, onde é difícil rastrear origens e intermediários.

O diretor-geral adjunto de cultura da Unesco, Ernesto Ottone Ramirez, conta que esse tipo de transação “não só cresce na África, cuja herança cultural tem sido vítima de saques e destruição, mas explodiu mais recentemente no Oriente Médio em conexão com os conflitos no Iraque e na Síria”.

Prevenção

Nos últimos cinco anos, a Unesco disse ter apoiado dezenas de países a incorporar em suas leis nacionais as disposições para a prevenção do tráfico ilícito de bens culturais, que vêm contidas na Convenção de 1970. A agência incentivou a restituição dos objetos retirados ilegalmente desses territórios.

Mais de 80 sessões de treinamento e capacitação organizadas pela Unesco foram partilhadas representantes do Estado, Ministérios, polícia, serviços alfandegários e profissionais de museus.

As iniciativas ocorreram em parceria com a Organização Internacional de Polícia Criminal, Interpol, Organização Mundial das Alfândegas, OMA, o Conselho Internacional de Museus, Icom, e outros.

A agência informa que fornece aos Estados conhecimentos essenciais sobre normas legais, dados de referência sobre tráfico, um banco de dados de leis nacionais e ferramentas práticas. Mas nunca emite certificados ou autorizações para a comercialização de bens culturais.

Cidade maliana de Timbuktu, conhecida por ser um rico centro cultural.
Minusma/Olivier Salgado
Cidade maliana de Timbuktu, conhecida por ser um rico centro cultural.