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Nações Unidas pedem à África para priorizar ação climática no setor energético BR

Sistema de irrigação solar fornecerá água para 30 famílias de agricultores
Pnud/Slingshot
Sistema de irrigação solar fornecerá água para 30 famílias de agricultores

Nações Unidas pedem à África para priorizar ação climática no setor energético

Desenvolvimento econômico

Em mesa redonda sobre futuro econômico da região, vice-líder da ONU, Amina Mohammed, explicou programa de seis pontos para reerguer produção, gerar empregos e promover desenvolvimento sustentável; Covid-19 causará redução de até 40% em investimentos estrangeiros no continente.

A vice-secretária-geral das Nações Unidas afirmou que a África precisa priorizar o combate à mudança climática como forma de alavancar a economia nos próximos anos e de construir um novo setor energético.

Amina Mohammed disse que o mundo pós-Covid-19 será ainda mais desafiador e que a pandemia levará a uma queda de 25% a 40%, somente este ano, dos investimentos estrangeiros na África com grave impacto sobre criação de empregos, produção e desenvolvimento.

Oportunidades

Nessa terça-feira, a vice-chefe da ONU participou de uma mesa redonda ministerial sobre o impacto da pandemia no setor energético africano, e falou de desafios e oportunidades.

Vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed
Vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, by IISD/ENB

Amina Mohammed, que é nigeriana, comentou o sofrimento humano e a desestabilização que a doença tem causado na vida de bilhões de pessoas. Mas para ela, a recuperação pós-Covid-19 tem que ser melhor que o cenário atual.

A Comissão Econômica para África estima um crescimento de 1,1% da economia como o melhor dos quadros. Segundo a Comissão, haverá uma contração de 2,6% no pior dos casos.

Corrida

Por isso, Mohammed acredita que é preciso mais que nunca investir na Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável ao mesmo tempo. Ela ressaltou que os desafios associados à mudança climática continuam para todos os países.

Para a vice-secretária-geral, a resposta à Covid-19 pode ajudar na corrida para gerar energia na África, onde 600 milhões de pessoas ainda não têm fontes seguras de eletricidade.

O Banco Africano de Desenvolvimento calcula que a demanda para a infraestrutura do continente seja de US$ 130 bilhões a US$ 170 bilhões por ano.

Países como Quênia, Marrocos, Nigéria, Senegal, África do Sul, Egito, Zâmbia e Zimbabué já demonstraram liderança na promoção de investimentos com energia limpa através de reformas regulatórias. Mas para Amina Mohammed, é preciso fazer mais.

Seis pontos

Terrenos agricolas com fábricas ao fundo, na África do Sul
Terrenos agricolas com fábricas ao fundo, na África do Sul, by Banco Mundial/John Hogg

A vice-chefe da ONU sugeriu um programa de seis pontos para recuperar bem e melhor após a pandemia. E segundo ela, serviços de energia limpa são fundamentais para se alcançar o Acordo de Paris de combate à mudança climática.

Em primeiro lugar: será preciso criar novos empregos e negócios utilizando uma matriz limpa e verde de transição. Para isso, a África tem de ser o celeiro global desses empregos especialmente para os jovens.

A vice-secretária-geral afirma que será necessário, em segundo lugar, utilizar o poder fiscal para proteger os mais vulneráveis e assegurar acesso sem interrupções à eletricidade de fontes limpas de energia.

Em terceiro estão o fim dos subsídios fósseis e a imposição de multas para quem polui. Em muitos lugares da África, as fontes renováveis de energia são a opção mais barata na geração de eletricidade. Ela criticou a utilização de carvão e disse que os africanos têm que optar pelo lado correto da História.

Transição justa

O quarto ponto aborda uma transição justa que não abandone ninguém e que compreenda que os países em desenvolvimento devem ter a oportunidade de moldar sua própria transição no interesse das pessoas e do desenvolvimento sustentável.

Como quinto aspecto, Mohammed afirmou que é preciso incorporar os riscos climáticos e oportunidades ao sistema financeiro, às legislações e decisões sobre infraestrutura.

Em último lugar a vice-líder das Nações Unidas abordou o aumento das Contribuições Determinadas Nacionalmente, NDC na sigla em inglês, antes da COP26, marcada para o próximo ano, e que oferece a chance perfeita para criar oportunidades de investimentos para energia sustentável.

As Nações Unidas devem realizar um Encontro de Cúpula sobre o tema pouco antes da realização da Conferência sobre Mudança Climática, que deve ocorrer em Glasgow, na Escócia.

Sistema solar, em Malakal, que permite extrair cerca de meio milhão de litros de água todos os dias
OIM/Angela Wells
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