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Unicef diz que milhões de crianças sob ameaça de insegurança alimentar severa no Iêmen BR

Publicação destaca que lares com três ou mais filhos tiveram maior probabilidade de perder renda
UNICEF
Publicação destaca que lares com três ou mais filhos tiveram maior probabilidade de perder renda

Unicef diz que milhões de crianças sob ameaça de insegurança alimentar severa no Iêmen

Ajuda humanitária

Fundo das Nações Unidas para a Infància, Unicef, revela que serviços essenciais de ajuda alimentar, saúde, água e saneamento começarão a ser suspensos já nas próximas semanas caso financiamento não seja garantido; apelo humanitário do Unicef apenas recebeu 39% dos fundos necessários.

Milhões de crianças no Iêmen correm risco de passar fome devido a enormes déficits no financiamento da ajuda humanitária em meio à pandemia de Covid-19, informou esta sexta-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

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Mais 30 mil crianças podem desenvolver desnutrição aguda grave com risco de vida nos próximos seis meses, aumentando o número total de crianças desnutridas com menos de cinco anos para 2,4 milhões. O número representa quase a metade de todos os meninos e meninas com essa idade e um aumento de cerca de 20%;

Dificuldades

O conflito no Iêmen começou há cinco anos, tendo destruído grande parte da infraestrutura. Além disso, o sistema de saúde enfrenta dificuldades para responder ao novo coronavírus. Apenas metade das unidades de saúde está operacional e existe uma enorme escassez de medicamentos, equipamentos e funcionários.

Mais de 6,6 mil crianças menores de cinco anos podem morrer de causas evitáveis até o final do ano, um aumento de 28%. Com as escolas fechadas, 7,8 milhões estão sem estudar.

O acesso precário à água e ao saneamento está levando à propagação da Covid-19. Cerca de 9,5 milhões de crianças não têm água potável, saneamento ou higiene suficientes.

Riscos

O agravamento da economia também aumenta os riscos de trabalho infantil, recrutamento por grupos armados e casamento infantil.

Família de deslocados no Iêmen, que deve continuar sendo a maior crise humanitária no mundo em 2020
Família de deslocados no Iêmen, que deve continuar sendo a maior crise humanitária no mundo em 2020, Foto: Ocha/Giles

Nos últimos cinco anos, a ONU registrou 3.467 crianças, algumas com menos de 10 anos, usadas por grupos armados.

A representante do Unicef no Iêmen, Sara Beysolow Nyanti, disse que "não se pode exagerar a escala da emergência naquela que já é a pior crise humanitária do mundo.”

Ela afirmou que se as agências humanitárias não “receberam financiamento urgente, as crianças serão lançadas numa situação de fome e muitas morrerão.”

Segundo a representante, sem a ajuda, “a comunidade internacional enviará uma mensagem de que a vida de crianças numa nação arrasada por conflitos, doenças e colapso econômico simplesmente não é importante.”

Financiamento

Até o final de agosto, são necessários US$ 54,5 milhões para serviços de saúde e nutrição. Se esse valor não chegar, 23,5 mil crianças com desnutrição aguda grave correm maior risco de morrer.

Além disso, até um milhão de crianças não receberão suplementos vitais de micronutrientes e vitamina A. Cerca de 500 mil mulheres grávidas e amamentando perderão apoio nutricional essencial, incluindo aconselhamento sobre alimentação de bebês e crianças pequenas. 

Por fim, 5 milhões de crianças menores de cinco anos não serão imunizadas contra doenças fatais e 19 milhões de pessoas perderão o acesso aos cuidados de saúde, incluindo um milhão de mulheres grávidas ou que estão amamentando.

Água e saneamento

Menino iemenita na cidade de Saada.
Menino iemenita na cidade iemenita de Saada, PMA/Fares Khoailed

Serviços cruciais de água e saneamento para 3 milhões de crianças e suas comunidades começarão a ser encerrados a partir do final de julho, a menos que US$ 45 milhões sejam garantidos. 

No total, o Unicef está pedindo US$ 461 milhões para sua resposta humanitária no Iêmen, com US$ 53 milhões adicionais para resposta à Covid-19. Até agora, o apelo da pandemia foi financiado em apenas 10% e o apelo humanitário em 39%.

A agência está trabalhando com a Organização Mundial da Saúde, OMS, e as autoridades nacionais nesta resposta. O objetivo é manter serviços gerais de saúde e programas humanitários para crianças em todo o país. 

Segundo a representante do Unicef, a agência "está trabalhando dia e noite em situações incrivelmente difíceis para obter ajuda para crianças em necessidade desesperada, mas tem uma fração do financiamento necessário."

Sara Beysolow Nyanti  termina dizendo que “as crianças no Iêmen precisam de paz e estabilidade duradouras, mas até que isso seja alcançado, tudo deve ser feito para salvar vidas.”