América Latina deve se preparar pelos próximos dois anos contra Covid-19
Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, afirma que liderança, uma boa base de dados e sistemas de saúde robustos são elementos chave para assegurar resposta eficiente à pandemia; FMI avisa que América Latina e Caribe sofrerão a pior recessão da história com a pandemia.
As consequências da pandemia do novo coronavírus nos países da América Latina e do Caribe deverão merecer uma resposta robusta dos governos da região pelos próximos dois anos.
A declaração foi dada pela diretora-geral da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, Carissa Etienne. Ela afirmou que na ausência de uma vacina ou tratamentos eficientes, a região deverá sofrer com novos surtos e casos da Covid-19 pelos próximos dois anos ou mais.

Barreiras
E para Etienne, a liderança política pode ser a chave do sucesso ou do fracasso da resposta à crise. A chefe da Opas acredita que é papel dos líderes agora é angariar o apoio que precisarão para lidar com esse desafio sem precedentes eliminando divisões políticas e barreiras geográficas.
Até 23 de junho, as Américas haviam registrado 4,5 milhões de casos de Covid-19 com mais de 226 mil mortes. Desde o mês passado, o número de novas infecções triplicou na região. As áreas mais afetadas são a América Central e o Brasil além de outros países da América do Sul. No Caribe, os pontos de alerta estão no Haiti e na República Dominicana com altas taxas de contaminação.
A chefe da Opas diz que é preciso ser realista e enfrentar o que ela chamou de um “novo normal” na situação da pandemia.
Ameaça tripla
Os países-membros da Opas estão debatendo uma resolução sobre a ameaça tripla da pandemia para a saúde, o bem-estar e à economia. A agência acredita que um monitoramento constante é vital no combate à doença assim como sistemas de saúde robustos, uma boa base de dados e governança.
A chefe da Opas, Carissa Etienne, pediu ainda um reforço nos diagnósticos de casos suspeitos, testagem em laboratório, rastreamento e quarentena.
Segundo ela, sistemas de saúde forte são a defesa mais eficiente contra a pandemia da Covid-19, atualmente e no futuro. A Opas recomenda investimentos de pelo menos 6% do Produto Interno Bruto, PIB, para a área da saúde. E no caso do orçamento de saúde pública, pelo menos um terço deve ser alocado para os cuidados primários.
Etienne acredita que os profissionais na linha de frente da resposta à pandemia têm de ser apoiados. E com a cooperação regional, os países podem sim vencer a pandemia.

Crescimento
Ainda na semana passada, durante um encontro em Madri, na Espanha, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, FMI, informou que a América Latina e Caribe foram fortemente afetados com as consequências socioeconômicas do coronavírus.
Kristalina Georgieva contou que entre 2020 e 2021, a economia global deverá perder US$ 12 trilhões e 10% dessas perdas totais ocorrerão na América Latina, que terá uma recessão de 9,3%, a pior da sua história.
Fortemente dependente de turismo e do mercado de commodities, a América Latina e o Caribe só deverão se recuperar em 2021, com uma previsão de crescimento de 3,7%.

Plataformas digitais
Algumas providências iniciais de governos como na Argentina e Paraguai com programas de transferências de renda e assistência alimentar para famílias mais carentes têm ajudado a contornar os danos. Chile, Peru e Colômbia estão facilitando empréstimos a pequenas e médias empresas, e fornecendo subsídios salariais.
Para Georgieva, os governos devem procurar políticas eficientes de intervenção para conter a pandemia, reduzir o risco de contágio e distribuir auxílios e informação incluindo através de plataformas digitais.
A chefe do FMI disse que o órgão está disposto a assistir os países e já dobrou sua linha de empréstimo para socorrer os casos mais urgentes.