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Covid-19 reduziu 60% dos rendimentos de trabalhadores informais no primeiro mês da crise BR

Funcionárias de fábrica no Canbodja, usando medidas de proteção individual
OIT/Marcel Crozet
Funcionárias de fábrica no Canbodja, usando medidas de proteção individual

Covid-19 reduziu 60% dos rendimentos de trabalhadores informais no primeiro mês da crise

Assuntos da ONU

Em documento político sobre os efeitos da pandemia no mundo do trabalho, secretário-geral António Guterres diz que todos os trabalhadores e todos os negócios no mundo foram afetados; mulheres foram especialmente atingidas.

O secretário-geral da ONU publicou esta sexta-feira um documento político sobre “A Covid-19 e o Mundo do Trabalho”.

António Guterres afirmou que “a pandemia virou pelo avesso o mundo do trabalho.” Segundo ele, todos os trabalhadores e negócios e todos os cantos do mundo foram afetados.

Consequências

Nos últimos meses, centenas de milhões de empregos foram perdidos. A ONU estima que os que trabalham na economia informal, geralmente sem direitos laborais e proteção social, tenham sofrido uma perda de 60% de rendimento só no primeiro mês da crise.

As mulheres foram especialmente atingidas. Elas são a maioria em muitos dos setores afetados e, ao mesmo tempo, carregam um fardo maior com o aumento do trabalho não remunerado, como cuidar dos filhos que ficaram sem escola.

Jovens, pessoas com deficiência e tantos outros enfrentam enormes dificuldades. Muitas pequenas e médias empresas, que são o motor da economia mundial, podem falir.

Descontentamento

Por tudo isso, António Guterres diz que “esta crise no mundo do trabalho está a alimentar um fogo já ardente de descontentamento e ansiedade.”

Segundo ele, “o desemprego em grande escala e a perda de rendimento estão a corroer ainda mais a coesão social e a desestabilizar países e regiões”, em níveis social, político e econômico.

Guterres: "A pandemia da Covid-19 virou ao avesso o mundo do trabalho"

Muitas empresas e trabalhadores adaptaram-se de forma inovadora às novas circunstâncias. De um dia para o outro, milhões passaram a trabalhar remotamente, em muitos casos com um sucesso surpreendente.

Guterres destaca, no entanto, os mais vulneráveis, dizendo que “correm o risco de se tornar cada vez mais vulneráveis”, e os países e as comunidades mais pobres, que “podem ficar ainda mais esquecidos.”

Ação

Para combater estes problemas, ele sugere uma atuação em três frentes.

Primeiro: dando apoio imediato a trabalhadores, empresas, empregos e rendimentos em risco para evitar falências, perdas de empregos e de rendimento.

Em segundo, dando maior foco na saúde e na atividade econômica depois do alívio das restrições, com locais de trabalho seguros e direitos para as mulheres e as populações em risco.

Por fim, mobilizando a comunidade internacional para uma recuperação inclusiva, verde, sustentável e centrada no ser humano, que aproveite o potencial das novas tecnologias. Essa nova postura pode se inspirar nas maneiras criativas e positivas como as empresas e os trabalhadores se adaptaram durante a pandemia.

A aspiração é ser capaz de vacinar os mais vulneráveis 20% da população de todos os países que participam, independentemente do nível de rendimento, até finais de 2021. 
Mulher na República Dominicana recebe ajuda alimentar distribuída pelo PMA para combater crise alimentar causada pela pandemia, PMA/Karolyn Ureña

Novo normal

O secretário-geral fala ainda sobre a necessidade de uma "nova normalidade" após esta crise. Segundo ele, no entanto, não se pode esquecer que o mundo antes da Covid-19 estava longe de ser normal.

Guterres destaca desigualdades crescentes, discriminação sistêmica de gênero, falta de oportunidades para jovens, salários estagnados e mudança climática descontrolada, dizendo que “nada disso era normal".
Ele afirma que “a pandemia expôs tremendas deficiências, fragilidades e falhas” e que “o mundo do trabalho não pode, e não deve, ser o mesmo após esta crise.”

Para o chefe da ONU, “é hora de um esforço coordenado global, regional e nacional para criar trabalho digno para todos como base de uma recuperação verde, inclusiva e resiliente.”

Ele dá um exemplo, dizendo que os impostos sobre salários poderiam ser substituídos por impostos sobre o carbono. 

Segundo o secretário-geral, “é possível sair desta crise mais fortes, com melhores empregos e um futuro mais brilhante, mais igualitário e mais verde para todos.”