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Relator da ONU critica condenação de jornalista filipina por difamação BR

Jornalista Maria Ressa durante diálogo sobre liberdade de imprensa, na internet, organizado pela Unesco em maio
Unesco
Jornalista Maria Ressa durante diálogo sobre liberdade de imprensa, na internet, organizado pela Unesco em maio

Relator da ONU critica condenação de jornalista filipina por difamação

Direitos humanos

Especialista em direito à liberdade de opinião e expressão, David Kaye, disse que o Supremo Tribunal do país tem o dever de reverter a decisão que pode levar Maria Ressa a seis anos na prisão; ex-reporter da CNN e crítica do presidente filipino foi condenada com base no Ato de Prevenção de Crimes Cibernéticos.

Um relator de direitos humanos* criticou a condenação da jornalista Maria Ressa, das Filipinas, acusada de difamação por um tribunal do país. O veredicto pode levar a ex-repórter da CNN a seis anos de prisão.

David Kaye disse que a condenção da jornalista marca um novo “ponto baixo” e afeta a independência da imprensa nas Filipinas. Para ele, o Tribunal Superior tem o dever de reverter a sentença.

Relator especial sobre o direito à liberdade de expressão e opinião, David Kaye.
Relator especial sobre o direito à liberdade de expressão e opinião, David Kaye. , by ONU/Jean-Marc Ferré

“Fake News”

Maria Ressa foi condenada, na segunda-feira, ao lado do colega  e também jornalista Reynaldo Santos. Os dois são autores de um artigo do site Rappler, escrito há vários anos, que denunciava irregularidades e alegações de corrupção.

Ressa é também uma forte crítica do presidente do país, Rodrigo Duterte. Segundo agências de notícias, o site para o qual ela trabalha já foi criticado por autoridades por publicar notícias falsas ou “fake news”.

Em seu comunicado, o relator independente afirmou que a lei usada para condenar a jornalista contradiz as obrigações das Filipinas com as leis internacionais.

Jornalismo

O Tribunal baseou-se no Ato de Prevenção ao Crime Cibernético de 2012. 

David Kaye lembrou que Maria Ressa já havia sido criticada pelo governo do presidente Duterte. Para ele, a condenação dela é também um ataque ao jornalismo, e ao site de notícias que Ressa dirige.

Kaye afirma que o Judiciário tem de garantir a proteção da jornalista e a independência da imprensa. Segundo ele, já passou da hora de as Filipinas reformarem suas leis sobre difamação na internet.

Para o relator, qualquer criminalização do jornalismo só servirá para derrotar a capacidade dos profissionais de informar ao público e de assegurar a promoção de um debate aberto. 

O especialista disse que os mesmos direitos humanos que são aplicados fora da internet devem ser garantidos também online.

Ele contou que está acompanhando o caso Maria Ressa e Reynaldo Santos de perto e que continuará dialogando com as autoridades relevantes das Filipinas sobre o tema.
 
*Relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário por sua atuação.