Perspectiva Global Reportagens Humanas

Pandemia causa incerteza no mercado global de alimentos, diz FAO BR

Relatório apresenta variações mensais de grupos de cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar.
Foto: Banco Mundial/Maria Fleischmann
Relatório apresenta variações mensais de grupos de cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar.

Pandemia causa incerteza no mercado global de alimentos, diz FAO

Desenvolvimento econômico

Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura traça tendências de 2020-2021 para commodities como cereais, carne, derivados do leite, peixe, açúcar e oleaginosas; comparada à crise do preço dos alimentos em 2008-2009, situação atual revela que países estão mais preparados na resposta.

A crise global de saúde, causada pela Covid-19, ameaça o mercado global de alimentos. Esta é a conclusão do primeiro relatório sobre o setor divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO.

No Relatório “Panorama Alimentar”, as previsões para os alimentos mais negociados do setor como cereais, carne, peixe, derivados de leite e outros podem sofrer redução no comércio durante o período 2020-2021.

Índice de Preço dos Alimentos da FAO foi de 124,6 pontos em junho
A agência da ONU indica que apesar da crise, a produção de cereais este ano deve ultrapassar a de 2019 em 2,6%. Foto: FAO/ Alessandra Benedetti

Vigilante e pronta

O diretor da Divisão de Comércio e Mercados da FAO, Boubaker Ben-Belhassen, disse que os impactos da pandemia são vistos – de forma variada – em todo os setores da cadeia alimentar.

Para ele, esses são desafios enormes com incertezas contra as quais a comunidade internacional deve permanecer vigilante e pronta para agir. 
A agência da ONU indica que apesar da crise, a produção de cereais este ano deve ultrapassar a de 2019 em 2,6%. 

Para o período 2020-2021, haverá 433 milhões de toneladas com um aumento de 2,2% em comparação ao período anterior.
Já a produção global de carne deve cair 1,7% este ano por causa de doenças animais, as interrupções do comércio causadas pela Covid-19 e os efeitos a longo prazo de secas em várias partes do mundo. 

As importações da China e da Europa impulsionaram o aumento do preço da carne.
Amisom/Omar Abdisalan
As importações da China e da Europa impulsionaram o aumento do preço da carne.

China

As importações da China devem puxar um crescimento moderado do mercado internacional de carnes. Os preços caíram 8,6% desde o início deste ano.
A queda mais acentuada ocorreu com as carnes ovinas, seguidas de frango, porco e a da carne bovina por causa dos impactos das medidas para conter a pandemia. A falta de transporte e outros fatores encalharam muitas peças nos mercados.

Os mercados de frutos do mar continuarão sendo afetados pela Covid-19 especialmente os produtos frescos e espécies mais procuradas em restaurantes. 

A pandemia levou equipes de pesca a suspender suas atividades e estoques assim como produtores do setor de aquicultura.

Pandemia deve afetar, de forma severa a produção global de salmão e camarão.
FAO/Cristiano Minichiello
Pandemia deve afetar, de forma severa a produção global de salmão e camarão.

Salmão e camarão

A pandemia deve afetar, de forma severa a produção global de salmão e camarão com o atraso na reabertura do cultivo de camarões na Ásia, que só recomeçará este mês ou no próximo. 

A expectativa de queda na Índia é de até 40%. A produção de salmão pode cair até 15%.
No caso do açúcar, a expectativa de queda na produção, pelo segundo ano consecutivo, está abaixo dos níveis esperados de consumo global, pela primeira vez em três anos. 

O preço do açúcar está caindo desde meados de 2017 para a grande maioria dos produtores no mundo.  O leite, no entanto, tem mostrado resistência com um leve crescimento de 0,8% este ano.  Mas os derivados do leite podem sofrer contração de 4% por causa da oscilação na demanda de importação.

Crise de 2008-2009

A situação de oferta e procura é delicada para as oleaginosas este ano com pouca margem de manobra. Um artigo no relatório da FAO compara a crise da Covid-19 com as crises financeiras e de alimentos entre 2007 e 2009.

Segundo o texto, considerando a crise do preço dos alimentos de 2007 a 2008, o mundo reage melhor agora e as estimativas de produção de comida são positivas porque os estoques se mantêm altos, os preços estão baixos e o comércio é maior entre países exportadores e importadores. 

Além disso, os legisladores demonstram mais experiência para lidar com crises globais, pois estão mais informados e preparados.

Mesmo sem crise de fornecimento, a queda no crescimento econômico devido à pandemia levou a barreiras no acesso à comida porque muitas pessoas não podem comprar os alimentos especialmente em países que já sofriam com insegurança alimentar antes da Covid-19.