FAO: setor pesqueiro cai 6,5% com pandemia, mas consumo tende a aumentar
Relatório revela que restrições e falta de mão-de-obra foram causas da queda; média anual de consumo deve subir 1kg por pessoa até 2030 para 21,5 kg; setor primário tem mais de 59,5 milhões de trabalhadores, a maioria mulheres; documento cita influência de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique em volume global.
O Relatório Estado da Pesca e Aquicultura, Sofia, lançado esta segunda-feira, em Roma, revela que a produção total de peixes pode aumentar 15% para 204 milhões de toneladas, na próxima década.
O documento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura informa que a média de consumo per capita será de 21,5 kg até 2030, um quilo a mais que a quantidade atual.
Vendas
A produção global de peixes atingiu cerca de 179 milhões de toneladas em 2018, com um valor total de vendas estimado em US$ 401 bilhões. As tendências de aumento, no entanto, esbarram na crise atual gerada pela pandemia, que levou a uma queda de 6,5% na produção pesqueira.
A baixa foi causada por restrições e escassez de mão-de-obra que resultaram da emergência sanitária.
Fatores como interrupção do transporte internacional afetaram a produção na aquicultura para exportação. O fechamento de turismo e restaurantes “reduziu bastante os canais de distribuição de muitos tipos de peixes”, embora as vendas no varejo tenham permanecido estáveis ou aumentado para o caso de peixes congelados, enlatados, marinados e defumados com vida útil mais longa.
Em partes do Mediterrâneo e do Mar Negro, mais de 90% dos pescadores de pequena escala foram forçados a parar de trabalhar devido à incapacidade de vender o produto, muitas vezes afetados pela queda dos preços.
Lusófonos
O FAO revela que o crescimento atual equivale à metade do aumento registrado nos últimos 10 anos.
A China lidera a lista de 25 principais nações na captura de peixes em nível global com 16% do total. Dois lusófonos fazem parte do grupo: Brasil em 13º lugar com 2% e Moçambique em 23ª com a fatia de 1% global.
Em Angola, a captura das espécies comerciais sardinela e palheta (Sardinela aurita e S. Maderensis) é feita em níveis biologicamente sustentáveis. Cerca de 65,8% do estoque global de peixes são captrados dentro desses parâmetros. Outros 34,2% estão sendo super capturados.
A FAO menciona ainda o Brasil pela baixa de 33% na produção de peixe na região interior. O país teve a maior queda entre as 28 nações, que juntas provocaram a queda de 5,9% da receita global. A lista inclui a Tailândia, o Vietnã e a Turquia.
O Brasil e a China também estão entre os grandes consumidores de espécies de alto valor como como camarão e salmão.
Cabo Verde
Já em Cabo Verde, a FAO colabora com o Banco de Desenvolvimento Africano numa estratégia de transição para o crescimento da economia azul apoiando áreas como contabilidade, investimento e instalação de um observatório sobre o tema.
Em partes do Mediterrâneo e do Mar Negro, mais de 90% dos pescadores de pequena escala foram forçados a parar de trabalhar devido à incapacidade de vender o produto, muitas vezes afetados pela queda dos preços.
Para a agência, os próximos 10 anos são uma oportunidade para atingir a meta global de tornar a pesca e a aquicultura atividades sustentáveis. Tanto a produção pesqueira quanto a aquicultura atingiram o maior nível histórico em 2018.
Mais de 59,5 milhões de pessoas trabalham no setor primário de pesca e aquicultura. Cerca de metade dos trabalhadores dessa cadeia de valor são mulheres.
De acordo com a FAO, o gerenciamento sustentável da pesca é essencial para garantir que as próximas gerações continuem tendo acesso a essa fonte importante de nutrição e emprego.