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Pandemia ameaça ações de combate à fístula obstétrica BR

Medidas contra o novo coronavírus afetam ações preventivas da fístula.
Unfpa/Ollivier Girard
Medidas contra o novo coronavírus afetam ações preventivas da fístula.

Pandemia ameaça ações de combate à fístula obstétrica

Saúde

ONU apela ao aumento de conscienização do problema e de atendimento às pessoas afetadas; 23 de maio é o Dia Internacional pelo Fim da Fístula Obstétrica; Covid-19 leva a aumento de riscos da lesão que pode ocorrer durante o parto; medidas de prevenção inclui combate à gravidez precoces; tratamento custa até US$ 600.

As Nações Unidas marcam neste 23 de maio o Dia Internacional pelo Fim da Fístula Obstétrica alertando que a pandemia de Covid-19 é uma ameaça ao combate a esta condição.

Estima-se que dezenas de milhares de mulheres e meninas sofram com a lesão grave que ocorre durante o parto, em regiões como África Subsaariana, Ásia, países árabes, América Latina e Caribe.

Cuidados

Entre as medidas de prevenção da fístula estão o adiamento da primeira gravidez, a eliminação de práticas tradicionais nefastas e o acesso atempado a cuidados obstétricos.

Vítima de fistula na Tanzânia
Vítima de fistula na Tanzânia, by Unfpa Tanzania/Bright Warren

A organização alerta, entretanto, que em países em desenvolvimento, as medidas contra o novo coronavírus afetam ações preventivas porque os sistemas de saúde, mesmo antes do surto, já não podiam fornecer assistência médica de qualidade e acessível para todos.

A Covid-19 deve propiciar cenários para que aconteçam 13 milhões de casamentos infantis até 2030, o que de outra forma não aconteceriam. Será mais provável que famílias casem as filhas para aliviar a percepção de peso de cuidá-las. Esse cenário deve ocorrer em particular devido aos efeitos econômicos da pandemia.

Isolamento

O coronavírus deverá ainda atrasar de forma significativa os programas para eliminar a mutilação genital feminina, uma situação que pode provocar o aumento da prática. O Fundo da ONU para a População, Unfpa, aponta que esse procedimento como fator que contribui para a ocorrência da fístula obstétrica.

A chefe da agência, Natalia Kanem, afirmou que as mulheres e meninas pobres em áreas rurais estão especialmente sob risco. Segunda a representante, elas têm mais dificuldade de conseguir acesso a serviços médicos e estão mais expostas a casamentos e gravidezes precoces. 

Kanem lembrou que apesar de a fístula ter sido virtualmente eliminada de nações desenvolvidas, centenas de milhares de mulheres e meninas nos países em desenvolvimento ainda vivem com essa condição. O Unfpa lidera a campanha global pelo fim da fístula levando apoio, e informações para prevenção, tratamento e reintegração social. Desde 2003, a agência já ajudou a mais de 113 mil mulheres a realizarem uma cirurgia reparadora.

Os sintomas da fístula incluem incontinência urinária grave, que se não for tratada muitas vezes leva ao isolamento social, a infecções de pele e a distúrbios renais e até à morte. O avanço da Covid-19 em países em desenvolvimento sobrecarrega os serviços de saúde ou provoca limitações nos serviços de atendimento a mulheres. Muitas pacientes não realizam exames médicos completos com receio de contrair o vírus.

Recuperação

A fístula pode ser tratada com uma cirurgia com taxas de sucesso de até 90% para casos menos complexos. O custo médio do tratamento, que inclui o procedimento, o apoio pós-operatório, os cuidados e a recuperação, é de US$ 600 por paciente.

Em tempo de pandemia, as Nações Unidas afirmam que agora mais do que nunca, é importante que  no Dia Internacional pelo Fim da Fístula Obstétrica aumente significativamente a conscientização da comunidade internacional.

Outra medida essencial é que seja acelerada a ação dos países para acabar com a condição, incluindo o acompanhamento pós-operatório e o rastreamento de pacientes que vivem com a fístula.

Trabalho de amor: Combatendo a fístula obstétrica em Moçambique