Perspectiva Global Reportagens Humanas

Chefe da ONU destaca “crescimento horrível de violência doméstica” e pede cessar-fogo global BR

Mulher segura o filho em centro de apoio em Juba, no Sudão do Sul, depois de ser agredida pelo marido
Unicef/Albert Gonzalez Farran
Mulher segura o filho em centro de apoio em Juba, no Sudão do Sul, depois de ser agredida pelo marido

Chefe da ONU destaca “crescimento horrível de violência doméstica” e pede cessar-fogo global

Saúde

Secretário-geral disse este domingo que as medidas de combate à pandemia de covid-19 estão tendo como resultado um aumento dos casos de violência contra mulheres e meninas; combinação de tensões econômicas e sociais provocadas pela pandemia, bem como restrições ao movimento, são algumas das causas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu este domingo um cessar-fogo global nos casos de violência doméstica enquanto o mundo combate a pandemia de covid-19.

Em mensagem vídeo, o chefe da ONU lembrou o seu apelo para um cessar-fogo em todas as zonas de conflito e disse que “a violência não se limita ao campo de batalha.”

Ameaça

António Guterres afirmou que “para muitas mulheres e meninas, a ameaça é maior onde deviam estar mais seguras, em suas próprias casas.”

Ele disse que “bloqueios e quarentenas são essenciais para suprimir a covid-19, mas estas medidas podem tornar-se armadilhas para mulheres com parceiros abusivos.”

Segundo ele, nas últimas semanas, à medida que as pressões econômicas e sociais e o medo aumentaram, aconteceu “um crescimento horrível da violência doméstica a nivel global.”

Em alguns países, o número de mulheres que telefonam para serviços de apoio duplicou. Enquanto isso, os profissionais de saúde e a polícia estão sobrecarregados e com falta de pessoal. 

Além disso, grupos de apoio locais estão paralisados ou com poucos fundos. Alguns abrigos para vítimas de violência doméstica estão fechados; outros estão cheios.

Surto

A combinação de tensões econômicas e sociais provocadas pela pandemia, bem como restrições ao movimento, aumentaram dramaticamente o número de mulheres e meninas que enfrentam abusos, em quase todos os países. Mesmo antes, as estatísticas já mostravam que um terço das mulheres em todo o mundo sofre alguma forma de violência em suas vidas.

O problema afeta as economias desenvolvidas e as mais pobres. Quase 25% das estudantes universitárias relatou ter sofrido agressão sexual ou má conduta nos Estados Unidos. Em partes da África subsaariana, a violência cometida por parceiros é uma realidade para 65% das mulheres.

Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde, OMS, detalha os impactos deste tipo de violência. Vítima de abuso físico ou sexual têm duas vezes mais chances de fazer um aborto e quase o dobro da probabilidade de ter depressão. Em algumas regiões, elas têm 1,5 vezes mais chances de adquirir HIV. Mulheres agredidas sexualmente têm 2,3 vezes mais chances de ter distúrbios do álcool.

Em 2017, 87 mil mulheres foram intencionalmente mortas, mais da metade por parceiros íntimos ou familiares. A violência contra as mulheres é uma causa tão grave de morte e incapacidade entre as mulheres em idade reprodutiva quanto o câncer e uma causa maior de problemas de saúde do que os acidentes de trânsito e a malária combinados.

Chefe da ONU destaca “onda global horrível de violência doméstica” e pede cessar-fogo

Medidas

O secretário-geral apelou “a todos os governos a fazer das medidas de prevenção e compensação em caso da violência contra as mulheres uma parte essencial de seus planos nacionais de resposta à covid-19.”

Para Guterres, isso significa aumentar o investimento para serviços on-line e de organizações da sociedade civil, garantir que os sistemas judiciais continuem levando os agressores a tribunal. 

Também devem ser instalados sistemas de aviso de emergência em farmácias e mantimentos, designar abrigos como serviços essenciais e criar formas seguras para que as mulheres busquem apoio, sem alertar os agressores.

O secretário-geral terminou afirmando que “os direitos e as liberdades das mulheres são essenciais para sociedades fortes e resilientes” e que, em conjunto, o mundo pode e deve “evitar a violência em todos os lugares, desde as zonas de guerra às casas, enquanto trabalha para vencer a covid-19.”