Pérez de Cuéllar teve profundo impacto na história da ONU, diz Guterres
Único latino-americano a ocupar posto de secretário-geral, Javier Pérez de Cuéllar, morreu aos 100 anos nessa quarta-feira, em Lima, no Peru; durante seu mandato de 1982 a 1991, lidou com várias crises da chamada "Guerra Fria" e teve papel fundamental no fim da guerra Irã-Iraque e na independência da Namíbia.
As Nações Unidas lamentaram a morte do ex-líder da organização, Javier Pérez de Cuéllar. O ex-diplomata peruano morreu em Lima, na quarta-feira, aos 100 anos de idade.
Em nota, o secretário-geral da ONU, António Guterres expressou profunda tristeza com a morte de um de seus antecessores. Ele descreveu Pérez de Cuéllar como “um estadista realizado, um diplomata comprometido e uma inspiração pessoal que deixou um profundo impacto nas Nações Unidas e no mundo."
Carreira
Pérez de Cuéllar foi secretário-geral da ONU de 1982 a 1991. Diplomata, advogado e professor, foi o único representante da América Latina a liderar a ONU até o momento.
Guterres destacou que "a vida de Pérez de Cuéllar durou não apenas um século, mas também toda a história das Nações Unidas, que remonta à participação dele na primeira reunião da Assembleia Geral em 1946.”
Nascido em Lima, no Peru, em 19 de janeiro de 1920, Pérez de Cuéllar tornou-se secretário-geral após 42 anos de serviço diplomático.
Ao longo de sua carreira, foi embaixador na Suíça, na ex-União Soviética, na Polônia, na Venezuela e também nas Nações Unidas, em Nova Iorque, em 1971.
Durante o mês que presidiu o Conselho de Segurança da ONU, em julho de 1974, ele gerenciou com "habilidade" a crise em Chipre. Um ano depois, foi nomeado representante especial do secretário-geral na ilha, e depois chefe de Assuntos Políticos da ONU, e representante da organização no Afeganistão, antes de ser eleito secretário-geral.
Guerra Fria
Guterres lembrou que o mandato do peruano coincidiu com duas épocas distintas nos assuntos internacionais. Primeiro, com “alguns dos anos mais gélidos da Guerra Fria, e depois, com o confronto ideológico no fim, um momento em que a ONU começou a desempenhar mais plenamente o papel previsto pelos seus fundadores.”
Em 1982, seu mandato como chefe da ONU começou com intensas negociações entre o Reino Unido e a Argentina sobre a soberania disputada das Ilhas Falkland ou Malvinas. Persistente com os inúmeros desafios, Pérez de Cuéllar é autor de uma frase, agora famosa, referindo-se às negociações de paz: "O paciente está em terapia intensiva, mas ainda está vivo".
Segundo mandato
Apesar dos problemas de saúde, ele aceitou um segundo mandato à frente da ONU. Em seu discurso de posse, em 1986, ele citou a crise financeira, enfrentada pela organização, ao afirmar que "declinar em tais circunstâncias seria o equivalente a abandonar um dever moral para com as Nações Unidas".
Reiterando sua "fé inabalável" na "validade permanente" da organização, ele acrescentou que a "situação difícil" da ONU oferecia uma "oportunidade criativa para renovação e reforma".
Guterres destacou ainda que "Pérez de Cuéllar desempenhou um papel crucial em vários sucessos diplomáticos, incluindo a independência da Namíbia, o fim da Guerra Irã-Iraque, a libertação de reféns americanos no Líbano, o acordo de paz no Camboja e, nos seus últimos dias no cargo, um histórico acordo de paz em El Salvador.”
O segundo mandato de Pérez de Cuéllar também foi marcado pela retirada das tropas soviéticas do Afeganistão. Sua equipe também ajudou a levar estabilidade política à Nicarágua.
Prêmios
Em 1987, ele recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias pela promoção da cooperação ibero-americana. Em 1989, foi a vez de ganhar o Olof Palme de Entendimento Internacional e Segurança Comum e o Prêmio Jawaharlal Nehru de Entendimento Internacional.
Pérez de Cuéllar permaneceu fiel aos valores da ONU e continuou defendendo a paz, a justiça, os direitos humanos e a dignidade humana ao longo de sua vida. Homenageado por cerca de 25 países, ele também recebeu vários diplomas honorários.
António Guterres estendeu suas "mais profundas condolências à família de Pérez de Cuéllar, ao povo peruano e a tantos outros ao redor do mundo cujas vidas foram tocadas por um líder global notável e compassivo que fez do mundo “um lugar muito melhor."