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Embaixador de Portugal fala da expectativa para a Conferência dos Oceanos

Francisco Duarte Lopes, embaixador de Portugal junto às Nações Unidas.
ONU News
Francisco Duarte Lopes, embaixador de Portugal junto às Nações Unidas.

Embaixador de Portugal fala da expectativa para a Conferência dos Oceanos

Assuntos da ONU

Neste Destaque ONU News Especial, Francisco Duarte Lopes conversa sobre a reunião preparatória para a Conferência dos Oceanos que Portugal coorganiza com o Quênia, em junho deste ano em Lisboa.

Embaixador, o que o sr. espera desta reunião preparatória, o que deve sair deste encontro de dois dias aqui em Nova Iorque?

Esta reunião preparatória, que vai decorrer amanhã e depois aqui em Nova Iorque, está prevista, precisamente, para dar aos Estados-membros uma oportunidade, para indicarem os temas que desejam incluir na Declaração Política da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que como disse vai ter lugar em Lisboa, na primeira semana de junho. E portanto, o que nós vamos fazer durante esses dois dias, é essencialmente, escutar. Escutar os 193 Estados-membros sobre os assuntos que querem incluir nessa declaração política, a maneira como veem a Conferência dos Oceanos. E a forma como querem inserir a Conferência dos Oceanos e os respectivos resultados na globalidade da aplicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Porque, como sabe, a Conferência dos Oceanos será especialmente dedicada à aplicação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 sobre os oceanos e a vida nos oceanos, mas há outros 16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Embaixador de Portugal fala da expectativa para a Conferência dos Oceanos

Até porque eles se complementam também, não?

Precisamente. 

Esta é a grande ideia da Agenda 2030. Embaixador, daqui a algum tempo, depois dessas reuniões, ou dessa reunião aqui preparatória, espera-se num futuro próximo, uma declaração intergovernamental. Uma declaração dos Estados. Como é que os elementos de inovação e ciência. Como é que os elementos de inovação e ciência vão fazer parte desta nova abordagem sobre os oceanos?

Nós esperamos, e esperamos muito, que os elementos de inovação e ciência sejam centrais nessa Declaração da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em Lisboa. Mas também porque este ano, vamos ter uma sequência de eventos das Nações Unidas, que começam com a Conferência das Nações Unidas dos Oceanos, em junho, em Lisboa, e depois, com a Conferência das Partes sobre a Biodiversidade, na China, em outubro, e a Conferência das Partes sobre o Clima, em Glasgow, em novembro, e estes três eventos, estes três momentos, estão naturalmente ligados, e a ciência é o ponto de ligação mais óbvio entre os três.  Porque tudo que conseguimos atingir como objetivos, como compromissos, em Lisboa, em relação aos oceanos, irá, naturalmente, refletir-se no que conseguirmos atingir depois na China, em outubro, em relação à biodiversidade, porque naturalmente as duas coisas estão ligadas, e depois também em relação ao clima. Como sabemos, e sabemos de forma, cada vez mais nítida, os oceanos têm um papel central também na luta contra as alterações climáticas. Na gestão, no fundo do que podemos fazer em relação aos efeitos das alterações climáticas. 

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E a gente lembra alguns dados importantes, Embaixador, quando a gente fala em ciência. Os oceanos cobrem 70% da superfície terrestre, geram 50%, a metade do oxigênio que a gente precisa. Trata-se da maior biosfera do planeta e abriga 80% de toda a vida no mundo. São dados importantes e dados também preocupantes quanto à saúde dos oceanos no momento. E que não preocupam só o mundo, mas também são vitais para Portugal, não?

São. Eu acho que basta olhar para o mapa e conhecer um pouco da história de Portugal para perceber quanto é lógico este nosso interesse. E este nosso interesse estratégico no mar e nos oceanos. E, naturalmente, neste caso, foi também por isso, que para nós foi muito óbvio, termos nos disponibilizado depois da primeira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos aqui em Nova Iorque, em 2017, termos nos disponibilizado para organizar em Portugal, e neste caso, nós vamos coorganizar com o Quênia. É sempre importante sublinhar isso, até porque a cooperação com o Quênia tem sido, desde o princípio, desde o momento, em que ambos os países se propuseram a organizar esta Segunda Conferência dos Oceanos, a cooperação com o Quênia tem sido muito boa, muito próxima. Mas voltando ao princípio, era natural para um país como Portugal disponibilizar-se para organizar esta conferência.

Meta da Conferência da ONU sobre Oceanos de Lisboa é apoiar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 14, sobre a Vida na Água.
Saeed Rashid
Meta da Conferência da ONU sobre Oceanos de Lisboa é apoiar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 14, sobre a Vida na Água.

 

E a gente citou Portugal, claro, no seu ato pioneiro de se oferecer para abrigar a conferência. A gente se lembra inclusive quando isso aconteceu, há alguns anos, mas também todos os países da lusofonia porque todos esses países são banhados pelo mar. Mas para terminar, já que a gente está falando de lusofonia, de Portugal, o que cada cidadão pode fazer? Não só na lusofonia, mas em todo o mundo, para ajudar, para fazer a sua parte?

Sim. Deixa-me começar pela lusofonia, para dizer que só para reforçar o ponto que referiu. A Cplp tem uma Estratégia para os Oceanos. E isso é também natural porque como disse, todos os países da Cplp são países marítimos. Quanto ao que cada cidadão pode fazer. Há muitas coisas que cada um de nós pode fazer na sua vida do dia a dia pensando na saúde dos oceanos. Há coisas que fazemos na nossa vida de cidadãos, na nossa vida de consumidores, que provavelmente não temos a noção que vão ter um impacto sobre a saúde dos oceanos, a médio, mas também a curto prazo, e, portanto, não pensamos nesses gestos do dia a dia em função dos oceanos. Eu gostava, haveria vários assuntos para referir aqui incluindo o impacto dos oceanos na grande luta da humanidade para assegurar que a temperatura média não sobe demasiado. Mas deixa-me escolher um tema que em relação ao qual nós podemos decidir e executar mudanças no nosso dia a dia que é o dos plásticos de uso descartável. Quando nós usamos um saco de plástico de uso descartável, um talher de plástico de uso descartável, uma palhinha, estamos há curto, a médio e a longo prazo, a prejudicar os oceanos, prejudicar a vida nos oceanos, prejudicar no fundo a nossa vida porque hoje em dia, já é bastante claro, que nós não só estamos na nossa alimentação diária a ingerir plástico, como é também já bastante claro, que estamos a beber plástico. E que estamos até já, hoje em dia, a respirar plástico.

Estima-se que no Brasil sejam lançadas 325 mil toneladas de plástico no oceano todos os anos
Dia Mundial dos Oceanos da ONU/Renee Capozz
Estima-se que no Brasil sejam lançadas 325 mil toneladas de plástico no oceano todos os anos

 

Muito obrigada, Embaixador, momentos decisivos e importantes para toda a humanidade. E nós vamos esperar então mais notícias sobre a Conferência dos Oceanos, em Portugal, não podemos esquecer de 2 a 6 de junho, em Lisboa, capital do país. Muito obrigada pela sua participação.