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Número de menores cruzando selva para migrar à América do Norte sobe 600% BR

A região de Darién é descrita como uma das selvas mais perigosas da América Latina.
Pnud/Roberto Machazek
A região de Darién é descrita como uma das selvas mais perigosas da América Latina.

Número de menores cruzando selva para migrar à América do Norte sobe 600%

Migrantes e refugiados

Região de Darién, entre Colômbia e Panamá, é considerada uma das selvas mais perigosas da América Latina; no passado, travessia era feita, na maioria dos casos, por homens à procura de oportunidades no México, Estados Unidos e Canadá; atualmente o trajeto é percorrido por crianças, adolescentes e grávidas.

Um levantamento de agências das Nações Unidas sugere um aumento no número de migrantes, que atravessam a região Darién, descrita como uma das selvas mais perigosas da América Latina, à procura de melhores oportunidades na América do Norte.

Cerca de 736 milhões de pessoas viviam abaixo da linha de pobreza de US$ 1,90 por dia.
Crianças haitianas (foto de arquivo). Foto: Unicef/Roger LeMoyne

Dados coletados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, pela Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, e autoridades locais, mostram que este ano, houve um aumento de 600% no número de crianças e adolescentes que conseguiram atravessar a selva Darién, localizada na fronteira da Colômbia com o Panamá. 

Pobreza e conflitos

No passado, a travessia era feita, na maior parte dos casos, por homens à procura de uma nova vida no México, nos Estados Unidos ou no Canadá. Mais recentemente, as autoridades perceberam uma maior presença de mulheres grávidas, crianças e adolescentes fugindo da pobreza, da exclusão e em alguns casos de conflitos civis.

Em 2019, foram 3.540 adolescentes e jovens a cruzar a região rumo à América do Norte. No ano anterior, o número foi de 522. Estima-se que mais de 500 grávidas, algumas nos últimos meses de gestação, fizeram a travessia do Darién este ano.

Caso a tendência continue, analistas calculam que no próximo ano, haverá um aumento no número de menores migrantes na região, a maioria de famílias haitianas com crianças nascidas no Brasil ou no Chile.

Assistência psicológica

O Unicef do Panamá informou que está aumentando sua resposta em ações de assistência para ajudar os menores migrantes, que passam pelo Panamá. A agência da ONU também oferece apoio psicológico a cerca de 70 adolescentes por dia.

Uma das maiores dificuldades para quem atravessa a região Darién são os pontos de transição para a América do Norte. Somente de agosto a novembro deste ano, 4.781 pessoas de 44 nacionalidades se arriscaram pela selva. O número equivale a 1197 migrantes por mês.

O Unicef informou que a metade dos migrantes que fizeram a travessia eram crianças na primeira infância.

Infecções

Algumas crianças chegam à estação de recepção de migrantes de Peñitas com sintomas como febre, vômitos, diarreia e outras infecções além de doenças de pele. As grávidas correm risco de aborto e infecções.   Em parceria com a Opas, autoridades locais oferecem vacinações e outros serviços básicos aos migrantes que precisam de assistência.

Entre janeiro e novembro, 50 crianças e adolescentes desacompanhados passaram pela selva de Darién a caminho da América do Norte, e foram abordados pelo Serviço Nacional de Fronteira. A idade delas varia de seis meses a 17 anos. A falta de documentação em alguns casos dificulta os serviços das autoridades.

O Governo do Panamá iniciou a construção de um abrigo temporário na comunidade de Lajas Blancas. O local tem capacidade para mil pessoas. Com a troca do governo, houve uma alteração no funcionamento do local, que permanece fechado sem previsão de reabertura.

O Grupo das Nações Unidas de Coordenação de Fronteiras continua defendendo a prioridade de garantir o fornecimento de serviços básicos pelo Ministério da Saúde panamenho incluindo imunização, remédios e apoio psicológico para vítimas de violência sexual. Para o Unicef, deve ser criado um mecanismo de coordenação binacional entre Panamá e Colômbia para alertar e fornecer uma resposta humanitária em caso de aumento no fluxo de migrantes na região.