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OMS alerta para “campanhas de desinformação” nas redes sociais sobre sarampo BR

A agência listou 26 países que podem ser prejudicados com as medidas contra a pandemia durante esta Semana de Vacinação.
Unicef/Kiran Panday
A agência listou 26 países que podem ser prejudicados com as medidas contra a pandemia durante esta Semana de Vacinação.

OMS alerta para “campanhas de desinformação” nas redes sociais sobre sarampo

Saúde

Vírus matou 140 mil pessoas no mundo em 2018; bebês e crianças correm maior risco de complicações fatais; nos últimos 18 anos, estima-se que a vacinação contra doença tenha salvado mais de 23 milhões de vidas.

Mais de 140 mil pessoas morreram por causa do sarampo em 2018, indicam novas estimativas da Organização Mundial da Saúde, OMS, e do Centros dos Estados Unidos para Controle e Prevenção de Doenças, CDC. 

A OMS recomenda que os países mantenham a cobertura de vacinas num mínimo de 95%.
Mais de 140 mil pessoas morreram por causa do sarampo em 2018. Foto: Opas

Segundo a agência da ONU, os casos da doença aumentaram globalmente, com surtos arrasadores em todas as regiões.

Vacinas

A OMS alerta para perigosos baixos níveis de vacinação, estimulados por "campanhas de desinformação" em redes sociais.

É possível evitar o sarampo através da vacinação, mas as taxas de imunização contra a doença em todo o mundo estagnaram por quase uma década.

A agência estima que 86% das crianças tenham recebido a primeira dose da vacina através dos serviços de rotina de seu país em 2018, mas menos de 70% receberam a segunda dose recomendada.

Em todo o mundo, a imunização não tem sido adequada para evitar surtos. A OMS recomenda uma cobertura de 95%, com duas doses da vacina, para proteger as populações da doença.

Nos últimos 18 anos, estima-se que a vacinação contra o sarampo tenha salvado mais de 23 milhões de vidas.

Campanhas de desinformação contra vacinas aumentam casos de sarampo no mundo

Samoa

Como exemplo do impacto das mensagens de mídia social, a OMS cita o arquipélago de Samoa, onde apenas 31% da população da ilha tem imunidade contra o vírus. 

A situação resultou numa grande crise de saúde, com hospitais e clínicas sobrecarregados. Em 15 de novembro, o governo declarou estado de emergência. No país de cerca de 196 mil habitantes, mais de 60 pessoas, principalmente bebês e crianças pequenas, morreram desde o início da epidemia.

Ao todo, foram registrados mais de 4,2 mil casos da doença em Samoa. Na quinta-feira o governo ordenou uma paralisação nacional antes de uma campanha de vacinação para toda a população.

Em Samoa, ao todo, foram registrados mais de 4,2 mil casos da doença.
© Unicef/Sa'o Mulivai
Em Samoa, ao todo, foram registrados mais de 4,2 mil casos da doença.

Impacto

A diretora de Imunização, Vacinas e Biológicos da OMS, Kate O’Brien, disse que “a desinformação que se espalha pelos canais de mídia social está realmente afetando as decisões dos pais sobre a vacinação dos filhos e o resultado é que as crianças estão desenvolvendo sarampo e algumas estão morrendo."

O’Brien acrescentou que todos sabem “que existe uma vacina segura, eficaz, acessível e amplamente disponível para prevenir o sarampo, e ela existe há 50 anos.” Segundo a especialista, “é realmente uma falha coletiva que esses surtos estejam acontecendo, com um aumento no número de casos e mortes, e o motivo é que as pessoas não são vacinadas.”

Crianças

A maioria das mortes ocorreu entre crianças menores de 5 anos. Bebês e crianças muito jovens correm maior risco de infecções, com possíveis complicações, incluindo pneumonia e encefalite, além de incapacidade ao longo da vida, com dano cerebral permanente, cegueira ou perda auditiva.

O vírus também pode ter outros impactos na saúde a longo prazo, com danos à memória do sistema imunológico que duram meses ou até anos. Essa situação deixa os sobreviventes vulneráveis ​​a outras doenças potencialmente mortais, como gripe ou diarreia grave.

Até este mês, as agências da ONU registraram 21 grandes surtos de sarampo no mundo
©Unicef/Allan Stephen
Até este mês, as agências da ONU registraram 21 grandes surtos de sarampo no mundo

Fracasso

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreysus, "o fato de qualquer criança morrer de uma doença que pode ser evitada com uma vacina, como o sarampo, é um ultraje e um fracasso coletivo."

Ghebreysus afirmou que é preciso “garantir que todos possam se beneficiar das vacinas, o que significa investir em imunização e assistência médica de qualidade."

Regiões mais afetadas

De acordo com a agência da ONU, os piores impactos ocorreram na África Subsaariana.

Em 2018, a região africana teve 1.759 milhão de casos, com 52,6 mil mortes. Na região das Américas foram 83,5 mil casos, na região leste do Mediterrâneo, mais de 2,8 milhões casos e 49 mil mortes, e na região europeia, mais de 861 mil casos e 200 mortes.

No sudeste da Ásia, ocorreram mais de 3,8 milhões de casos e 39,1 mil mortes e no Pacífico Ocidental, foram registrados mais de 408 mil casos e 1,3 mil mortes.

Em 2018, os países mais afetados foram a República Democrática do Congo, Libéria, Madagascar, Somália e Ucrânia. Esses países foram responsáveis ​​por quase metade de todos os casos no mundo.

Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,
Unicef/UMichele Sibiloni
Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,

RD Congo

Na República Democrática do Congo, RD Congo, a OMS anunciou uma campanha para vacinar cerca de 2,2 milhões de crianças no Kivu Norte. A região também combate o segundo pior surto de Ebola do mundo.

A epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país. Desde o início de 2019, foram registrados mais de 250 mil casos suspeitos e mais de 5 mil mortes, principalmente entre crianças menores de 5 anos.

Baixas taxas de imunização e altos níveis de desnutrição contribuíram para a epidemia e altas taxas de mortalidade. A meta é que a campanha de vacinação alcance 18,9 milhões de crianças até o final do ano.

Estados Unidos e Europa

Embora os maiores efeitos sejam sentidos nos países mais pobres, alguns dos Estados mais ricos também combatem surtos de sarampo.

Este ano, os Estados Unidos registraram seu maior número de casos em 25 anos. Na Europa, Albânia, República Tcheca, Grécia e Reino Unido perderam o status de eliminação do sarampo, após prolongados surtos da doença.