ONU quer ação urgente contra aumento da fome e obesidade na América Latina e no Caribe BR

Novo relatório destaca que Brasil melhorou regulamentação sobre publicidade de alimentos; região teve aumento de 11% de pessoas que passam fome desde 2014; obesidade entre adultos cresceu de 6% para 25% em 43 anos.
A porcentagem de pessoas com obesidade triplicou desde 1975 na América Latina e Caribe. O Panorama de Segurança Alimentar e Nutricional 2019, publicado esta terça-feira, destaca que um em cada quatro adultos vive com essa condição.
O estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, revela que em toda a região a fome aumentou 11% nos últimos quatro anos. Atualmente o problema afeta 42,5 milhões de pessoas.
A FAO, a Organização Mundial da Saúde, OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e o Programa Mundial de Alimentos, PMA, querem que os países da região tomem medidas urgentes para combater estes problemas.
Segundo o documento, é preciso promover hábitos alimentares mais saudáveis usando impostos e outros incentivos, sistemas de proteção social, programas de alimentação escolar e regulamentação da publicidade e marketing.
As agências também destacam que é importante melhorar a rotulagem de alimentos e mudar a composição de certos produtos para melhorar seu valor nutricional.
Segundo o relatório, o aumento mais significativo da obesidade adulta aconteceu no Caribe, onde o valor quadruplicou. O crescimento foi 6% em 1975 para 25% em 2018. Em termos absolutos, a região passou de 760 mil adultos obesos para os atuais 6,6 milhões.
Em nota, o representante regional da FAO, Julio Berdegué, disse que “o aumento explosivo da obesidade não só tem enormes custos econômicos, mas também ameaça a vida de centenas de milhares de pessoas.”
Segundo o relatório, todos os anos morrem 600 mil pessoas na América Latina e no Caribe devido a doenças relacionadas com suas dietas, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Em relação às crianças e adolescentes, as taxas de obesidade triplicaram entre 1990 e 2016.
A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, Carissa F. Etienne, disse que é preciso "agir agora para reverter essa tendência e impedir que as crianças sofram as consequências."
A região possui taxas de desnutrição mais baixas do que a média global. Cerca de 6,5% dos habitantes estão desnutridos, menos do que a média mundial de 10,8%.
Apesar desse valor, a pesquisa alerta para um aumento preocupante da falta de alimentos. Em 2018, cerca de 42,5 milhões de pessoas passavam fome na região, mais 4,5 milhões do que em 2014, o que representa um aumento de 11%.
O relatório analisa detalhadamente como mudou o ambiente alimentar da região, explicando os fatores que influenciam a maneira como as pessoas compram, preparam e consomem alimentos.
As vendas de alimentos ultra processados foram as que mais cresceram, aumentando a exposição da população a quantidades excessivas de açúcar, sódio e gordura. Entre 2000 e 2013, o consumo destes produtos cresceu mais de 25%. O consumo de fast food aumentou quase 40%.
A expansão das redes de supermercados é outra grande mudança, tornando produtos ultra processados mais disponíveis e a preços mais baixos. Segundo a pesquisa, as pessoas pobres foram as mais afetadas, porque muitas vezes é mais fácil e barato comer alimentos não saudáveis.
A região já reagiu ao aumento da desnutrição com uma série de políticas públicas. Países como Chile, Equador, Peru e Uruguai implementaram leis de rotulagem de alimentos, permitindo que os consumidores tomem melhores decisões.
Já Brasil, Chile, Costa Rica, Equador, México, Peru, Panamá e Uruguai melhoraram a regulamentação sobre publicidade de alimentos. Pelo menos 13 países adotaram medidas fiscais e sociais que favorecem uma alimentação saudável.
O diretor regional do PMA, Miguel Barreto, disse que “expandindo os programas de proteção social, melhor se enfrentará o fardo duplo que fome e obesidade representam para comunidades e famílias.”
Segundo o relatório, programas de proteção social já cobrem mais de 200 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe, incluindo 85 milhões de crianças em idade escolar que recebem café da manhã, lanches ou almoço.