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Destruição no Japão após Tsunami.

ESPECIAL: Dia Mundial da Conscientização sobre Tsunamis foca em redução de danos BR

Ewerthon Tobace
Destruição no Japão após Tsunami.

ESPECIAL: Dia Mundial da Conscientização sobre Tsunamis foca em redução de danos

Clima e Meio Ambiente

Brasileira conta como sobreviveu ao tsunami mais mortal dos últimos 100 anos; jornalista brasileiro relembra cobertura de desastre natural que marcou o Japão; até 2030, cerca de 50% da população mundial viverá em áreas costeiras expostas a inundações, tempestades e tsunamis.

Tsunamis são eventos raros, mas podem ser extremamente mortais. Nos últimos 100 anos, 58 deles já provocaram a perda de mais de 260 mil vidas, ou uma média de 4,6 mil por desastre, superando qualquer outro risco natural.

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O maior número de mortes nesse período ocorreu no tsunami do Oceano Índico em dezembro de 2004. O fenômeno causou cerca de 227 mil mortes em 14 países, com a Indonésia, o Sri Lanka, a Índia e a Tailândia sendo as nações mais atingidos.

A brasileira Karina Dubeux foi uma das sobreviventes do tsunami que ocorreu no Oceano Índico em dezembro de 2004.
A brasileira Karina Dubeux foi uma das sobreviventes do tsunami que ocorreu no Oceano Índico em dezembro de 2004. Foto: Arquivo pessoal

Mergulho

A brasileira Karina Dubeux foi uma das sobreviventes desse tsunami. Em conversa com a ONU News, de Recife, a médica relembrou os dias que viveu na Tailândia e que marcariam a vida dela para sempre.

“A gente estava mergulhando na hora que ocorreu o tsunami, completamente inocentes. Era o começo de umas férias. A gente saiu para mergulhar num dia absolutamente tranquilo, com o mar parecendo uma lagoa, bem sossegado. Eu e o meu ex-marido, saímos com mais três mergulhadores que estavam fazendo a sua primeira experiência com mergulho e mais os guias, e a gente foi tomado por essa onda de surpresa mesmo, embaixo da água. E tudo o que a gente sentiu foi uma corrente em forte de turbilhão. Parecia uma batedeira em baixa d’água. Mas daí a pensar em uma possiblidade de tsunami era uma coisa bem remota.”

Superfície

Karina conta que só quando subiram para a superfície foi que começaram a descobrir o que tinha acontecido. Pescadores que se aproximaram disseram que uma onda muito grande tinha passado e lançado um barco com sete turistas contra as pedras na praia de Maya Bay, que serviu de cenário para o filme “A Praia”, protagonizado pelo ator Leonardo DiCaprio.

Quando conseguiram retornar para o hotel após quase duas horas, se deram conta da destruição. Enquanto esperavam a passagem de mais duas ondas, Karina e o ex-marido, que também é médico, ajudaram no atendimento de alguns feridos no andar superior do hotel onde estavam.

A médica brasileira Karina Dubeux relembrou os dias que viveu na Tailândia e que marcariam a vida dela para sempre.
A médica brasileira Karina Dubeux relembrou os dias que viveu na Tailândia e que marcariam a vida dela para sempre. Foto: Arquivo pessoal

“Fazem 15 anos essa história e é uma história muito marcante. Eu acho que todo o sobrevivente começa a ter um olhar muito mais humano, de valorização da vida, do indivíduo. Eu sou médica, então eu acho que eu me tornei um ser humano mais disponível e eu tenho consciência de que realmente eu ganhei uma outra vida, eu ganhei uma outra chance. Eu tenho certeza que a minha missão não tinha acabado.”

Conscientização

De acordo com a ONU, até 2030, cerca de 50% da população mundial viverá em áreas costeiras expostas a inundações, tempestades e tsunamis. Por isso, o investimento em infraestrutura resiliente, sistemas de alerta precoce e educação é fundamental para salvar pessoas e proteger seus ativos contra o risco de tsunamis no futuro.

É para chamar atenção para essa questão que 5 de novembro marca o Dia Mundial da Conscientização sobre Tsunamis. Este ano, o tema da data promove o objetivo D da campanha “Sendai Sete”, que se concentra na redução de danos causados ​​por desastres à infraestrutura crítica e na interrupção de serviços básicos.

Guterres

Em mensagem para marcar o dia, o secretário-geral da ONU lembrou que este ano marca o 15º aniversário do tsunami no Oceano Índico. António Guterres disse que desde então, o mundo observou “grandes melhorias nos sistemas de alerta precoce, não apenas no Oceano Pacífico, mas também no Oceano Índico, no Caribe, no Atlântico Nordeste, no Mediterrâneo e outros.”

O chefe das Nações Unidas destacou que como resultado desses avanços, muitas vidas foram salvas”, mas que é “evidente pelas crescentes perdas econômicas nos últimos vinte anos” que o mundo ainda não “aprendeu completamente a importância da infraestrutura crítica à prova de desastres.”

Guterres esteve em áreas da costa e num hospital parcialmente destruído por um terremoto e tsunami que afetaram a ilha de Sulawesi, na Indonesia, em setembro de 2018.
Ocha/Anthony Burke
Guterres esteve em áreas da costa e num hospital parcialmente destruído por um terremoto e tsunami que afetaram a ilha de Sulawesi, na Indonesia, em setembro de 2018.

Para Guterres, “isso é essencial para evitar a interrupção de importantes serviços públicos que podem ocorrer durante tsunamis, terremotos e eventos climáticos extremos.” Ele lembrou que cerca de “680 milhões de pessoas vivem em zonas costeiras baixas e que em 2050, esse número poderá ultrapassar 1 bilhão.”

Ao mesmo tempo, como aponta o secretário-geral, “o aumento do nível do mar causado pela emergência climática pode exacerbar ainda mais o poder destrutivo dos tsunamis.”

Tailândia

Quatro anos após a tragédia que viveu, Karina retornou à Tailândia. Como sobrevivente, ela diz que a conscientização das pessoas é essencial sobre este tipo de desastre.

“Na época, muita gente não sabia que era um tsunami. Inclusive lá, na Ásia, não tinha nenhum sistema de evacuação, de aviso da onda em tempo. Então, eu acho que quanto mais se chamar atenção para os tsunamis, porque eu acho que muitos ainda estão por vir, a natureza está meio em fúria com as agressões contra ela, eu acho que a população estando avisada é muito bom. Eu tive a oportunidade de voltar à Tailândia quatro anos depois do tsunami, e vi placas de evacuação, orientação para a população, para onde correr, fugir se houver um tsunami novamente, e eu acho que quanto mais orientada a população, eu acho que é de grande valia. Basta ver a menina que durante uma aula de geografia ela prestou atenção de que antes do tsunami haveria um recuo do mar e ela pode salvar algumas pessoas onde ela estava.”

O jornalista brasileiro Ewerthon Tobace trabalhou na cobertura do desastre no Japão.
O jornalista brasileiro Ewerthon Tobace trabalhou na cobertura do desastre no Japão. Foto: Douglas Wakimoto

Japão

A proclamação do Dia Mundial da Conscientização sobre Tsunamis foi uma iniciativa do Japão, que devido à sua repetida e amarga experiência acumulou, ao longo dos anos, grandes conhecimentos em áreas como alerta precoce do tsunami, ação pública e recuperação melhor após um desastre para reduzir impactos futuros.

O jornalista brasileiro Ewerthon Tobace, trabalhou na cobertura de um desastre que ficou marcado na história do país e do mundo, quando circularam imagens de destruição no Japão há oito anos. Em conversa com a ONU News, em Nova Iorque, ele disse que nunca ninguém no Japão tinha presenciado algo parecido.

“No dia 11 de março em 2011, eu estava me preparando para sair para fazer um programa de rádio, foi quando aconteceu o terremoto. Eram quase três da tarde. A gente está acostumada com terremotos no Japão, mas foi um terremoto muito forte...fui ver as informações e aí deu o alerta do tsunami na região nordeste do Japão. Os japoneses estão preparados para isso, e quem mora no litoral sabe que quando tem um terremoto forte, a primeira coisa que eles fazem é ir para um local seguro. E como o governo deu o alerta, pela TV, pelos meios de comunicação, o Japão tem um sistema de alto-falantes que é um sistema da época da guerra, que toca o alarme, porque na época da guerra eles usavam para alertar que vinha ataque aéreo, e esse sistema continua até hoje.”

Fukushima

Ewerthon conta que não dormiu por três dias na época do desastre. Ele lembra que as pessoas começaram a comprar alimentos, que a energia acabou e que depois ainda veio a notícia do problema de Fukushima, da plantar nuclear.

“Eu cheguei no dia seguinte lá, tinham locais que ainda estavam cobertos com água, os corpos ainda estavam nas ruas, era uma cena de guerra. Uma das cenas que me marcou foi numa escola primária, que umas crianças na faixa dos sete anos estavam esperando os pais virem buscar. E a gente foi acompanhando aquele drama das crianças. E elas esperando, esperando. Passou uma semana e as crianças esperando. Qualquer barulho no portão elas já ficavam pergunta se podia ser o pai ou a mãe e, obviamente, eles não iriam chegar nunca porque os pais tinham morrido.”

Destruição no Japão após Tsunami.
Destruição no Japão após Tsunami. Foto: Ewerthon Tobace

Experiência

O jornalista conta que muita coisa mudou desde a ocorrência do tsunami de 2011 no Japão. Desde a localização de abrigos, à importância dada pelas próprias pessoas aos kits de sobrevivência e aos avisos com foco nos estrangeiros, em várias línguas.

“A gente ter um dia para relembrar a força de um tsunami é muito importante. Porque eu ouvi muitos comentários depois do tsunami de 2011, não só de brasileiros, mas outros estrangeiros, que olham as imagens e fala assim: mas é só uma onda, uma pororoca. Você pega uma prancha ou sai nadando. Mas não é isso. O tsunami é uma força destruidora da natureza. Então, é muito importante as pessoas terem consciência de que a gente não tem poder nenhum frente a uma ação da natureza dessa magnitude. Então, a gente tem que se preparar, tem que se conscientizar. Ainda mais agora com as mudanças climáticas, a gente tem visto cada vez mais tragédias. Acho que só quando você vê a destruição de perto que vocês se preocupam mais com a questão.”

Tsunamis

O termo "tsunami" é uma combinação das palavras japonesas "tsu", que significa porto, e "nami", que significa onda. O fenômeno é uma série de ondas enormes criadas por um distúrbio subaquático, geralmente associado a terremotos que ocorrem abaixo ou perto do oceano.

Erupções vulcânicas, deslizamentos submarinos e quedas de rochas costeiras também podem gerar um tsunami, assim como um grande asteroide que afeta o oceano. Estes desastres se originam de um movimento vertical do fundo do mar com o consequente deslocamento da massa de água.

As ondas de tsunami costumam parecer paredes de água e podem atingir a costa e ser perigosas por várias horas, em séries de cinco a 60 minutos.

 

Jornalista brasileiro conta como foi experiência de cobertura de tsunami no Japão