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General brasileiro fala de atuação na RD Congo (Parte 2)

O general brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho comandou as forças da ONU na RD Congo até final de outubro.
ONU News/Daniela Gross
O general brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho comandou as forças da ONU na RD Congo até final de outubro.

General brasileiro fala de atuação na RD Congo (Parte 2)

Paz e segurança

Neste Destaque ONU News Especial, acompanhe a segunda parte da conversa com o comandante das forças da Missão da ONU na RD Congo, Monusco. O general Elias Rodrigues Martins Filho conta como especialistas brasileiros formam militares congoleses e boinas-azuis para atuar em operações da selva na maior operação de paz do mundo.

No comando de mais de 15 mil homens na RD Congo, o oficial brasileiro lidera o combate a dezenas de grupos armados que atuam no país com impacto negativo na região africana dos Grandes Lagos. Nesta segunda parte da conversa, Elias Rodrigues Martins Filho faz um balanço da situação na RD Congo desde que assumiu o comando da missão.

General brasileiro fala de atuação na RD Congo (Parte 2)

 

Além do senhor, que comanda as forças, estão brasileiros, neste momento, treinando tropas desta operação internacional, e as tropas também do Congo. Quer falar desta experiência, o que tem sido bom? O que tem sido útil que vai voltar para o Brasil?

Sim. O ambiente operacional do Congo é um ambiente bastante peculiar, é um ambiente de selva, e que requer cuidados especiais no planejamento e no desdobramento das operações militares em seu território. Então isso significa que nós precisávamos de algumas expertises para serem disseminadas entre as tropas que têm a responsabilidade e o mandato de neutralizar grupos armados naquela área. Isso é particularmente importante na região de Beni, onde também é um dos hot spots do ebola e, ao mesmo tempo, nós temos presente um dos grupos mais ativos e cruéis daquela região, as Forças Democráticas Aliadas, provenientes de Uganda, mas que estão sediados no território congolês, há 20 anos. Isso significa que a missão, juntamente com o quartel-general, com a sede aqui de Nova Iorque, nós decidimos sobre a necessidade de desdobrar na operação um grupo de especialistas em operações na selva. Então, trouxemos do Brasil o Centro de Instrução de Guerra na Selva brasileiro, reconhecido mundialmente como o centro de excelência para o treinamento de operações na selva. Nós trouxemos três especialistas que estão lá desde junho deste ano treinando as tropas da brigada de intervenção, mas também, treinando as tropas das forças armadas da República Democrática do Congo. Isso está acontecendo neste momento e o nosso objetivo é capacitá-los a um melhor desempenho para que possam preservas as suas vidas e cumprir as suas missões com a maior efetividade possível.

 

Um ano e meio à frente da Monusco, como é que está o RD Congo?

Eu acredito, eu sou suspeito para falar, mas eu acredito que o RD Congo hoje está melhor que a RD Congo que eu encontrei. E eu digo isso baseado em alguns indicadores. O primeiro, são as próprias eleições. A população do país hoje está satisfeita por ter um presidente que foi eleito pelo voto democrático e que recebeu o poder pacificamente. A população tem se mostrado bastante interessada num desdobramento pacífico de toda essa situação. Parece estar cansada das guerras que tem enfrentado ao longo de tantos anos. Ao mesmo tempo, nós verificamos, que o país em 75% de seu território, está estabilizado, que os problemas estão concentrados na parte leste do país em basicamente cinco províncias, Ituri, Kivu do Norte, Kivu do Sul, Tanganyka e um pouco ainda nos Kasai. São essas as cinco regiões onde ainda temos configurada alguma tensão em termos de grupos armados. O país, então, está estabilizado em larga porção de seu território. Temos ainda, a questão, um outro indicador, que é a questão que se refere a ex-grupos armados que tentam se reintegrar à vida normal, a vida da sociedade, que tentam se render para se juntar a programas de treinamento para que possam levar as suas vidas civis normalmente. Temos ainda um outro indicador que é o crescente profissionalismo das forças de segurança daquele país. Tanto as forças armadas da República Democrática do Congo, as Frdc, como a Polícia Nacional do Congo, a PNC. Então, esses indicadores todos juntos me permitem concluir que o Congo hoje é um país melhor do que era há um ano e meio. E vendo hoje, a Monusco, trabalhando de uma forma integrada, unida, e com objetivos claros a atingir, nós imaginamos que em pouco tempo nós poderemos ter sucesso no cumprimento do nosso mandato.