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Angola e Moçambique enfrentam ameaça de insegurança alimentar severa

ONU deve fortalecer sistema nacional para responder rapidamente a crianças carentes
© Unicef Angola/Carlos Louzada
ONU deve fortalecer sistema nacional para responder rapidamente a crianças carentes

Angola e Moçambique enfrentam ameaça de insegurança alimentar severa

Ajuda humanitária

Agência da ONU, PMA, diz que se nada for feito, 45 milhões de pessoas poderão passar fome em 16 países incluindo Angola e Moçambique; ciclones, cheias e a pior seca nos últimos 35 anos na África Austral entre as causas para falta de alimentos.

O Programa Mundial de Alimentação, PMA, coloca Angola e Moçambique entre os 16 países onde 45 milhões de pessoas podem enfrentar insegurança alimentar grave nos próximos seis meses. Trata-se de um recorde na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Sadc, que integra duas nações lusófonas.

Em toda a região, mais de 11 milhões de pessoas sofrem com falta de alimentos. Níveis recordes de insegurança ou emergência alimentares são registados em países como Zimbabué, Zâmbia, Madagáscar, Maláui, Namíbia, Eswatini e Lesoto.

Escassez

O porta-voz do PMA, Hervé Verhoosel, alertou que se a assistência não for reforçada em tempo útil, esse número poderá subir para 13 milhões no início de 2020 no ponto alto da chamada estação de escassez.

 Unicef destaca que os dados atuais podem mudar à medida que as equipes avaliam a situação

Fatores como aumento dos preços dos alimentos, das perdas de gado e do  desemprego são causas da crise que piora em áreas urbanas e rurais. A situação também agrava os níveis de desnutrição aguda nas comunidades de maior risco.

A África Austral teve chuvas regulares em apenas uma das últimas cinco estações que foram marcadas por seca persistente, ciclones seguidos e inundações. Os desastres danificaram o trabalho dos pequenos agricultores que dependem da chuva.

Agências das Nações Unidas aumentaram o nível de resposta nos nove países mais afetados, para ajudar mais de 11 milhões de pessoas até meados de 2020.

Pequenos Agricultores

As atividades pretendem atender às necessidades urgentes de alimentação e nutrição, apoiar os pequenos agricultores no aumento da produção, reduzir perdas, administrar recursos do solo e da água de maneira sustentável.

As medidas incluem estimular práticas agrícolas inteligentes com impacto no clima, ter maior acesso aos insumos, ao crédito e aos mercados. O auxílio também envolve implementar campanhas de vacinação para conter doenças animais.

Para a diretora regional do PMA na África Austral, Margaret Malu, a seca na região é a pior dos últimos 35 anos durante uma temporada de escassez alimentar nas áreas central e ocidental.

As últimas cinco estações de chuvas foram marcadas por seca persistente, ciclones seguidos e inundações na África Austral.

A prioridade é atender as necessidades de alimentação e nutrição urgentes de milhões de pessoas, mas também investir para criar resiliência dos que são ameaçados por secas, inundações e tempestades frequentes e severas.

Média Global

O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas destacou que o aumento anual das temperaturas da África Austral é o dobro da média global. Entre os países mais afetados estão República Democrática do Congo, Maláui, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué, que nos próximos anos podem ter condições climáticas adversas.

O coordenador sub-regional da FAO para a África Austral, Alain Onibon, disse que chuvas tardias, secas prolongadas, dois grandes ciclones e desafios económicos como causas do desastre da segurança alimentar e dos meios de subsistência.

Para Onibon é essencial oferecer apoio imediato às comunidades de agricultores permitindo que tenham pelo menos duas a três épocas de cultivo para que retornem à produção normal.

O representante quer uma maior resposta à emergência para assegurar que agricultores e comunidades agropastoris aproveitem a época de chuvas para recuperar os meios de subsistência.

Seca ocorrida em 1981 em Moçambique foi o sétimo desastre natural mais fatal do mundo com 100 mil mortes
Unicef/Mukwazhi
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